Francisco Rodrigues dos Santos tem a missão de levar o CDS-PP às próximas eleições legislativas após um ano em que a vida interna do partido foi atribulada e em que o PSD decidiu ir a votos sozinho e deixar de fora o parceiro habitual, poucos meses volvidos de uma coligação pré-eleitoral feita para as autárquicas.

Questionado sobre as palavras no vídeo de Natal do CDS, em que chamou “tontinho” ao Chega, Francisco Rodrigues dos Santos justifica que nos Açores se entendeu que para era preciso um acordo para haver um Governo de direita, o que permitiu o atual cenário.

“Queremos ver o Chega pelas costas, não queremos depender do Chega para formar respostas governativas”, assegura, frisando que PSD e CDS sempre se entenderam sem “medidas demagógicas”. Contudo, exemplifica: “Se para os idosos terem medicamentos gratuitos precisamos dos votos do BE e do PCP, muito bem.”

Ainda sobre o vídeo de Natal em que criticou sobre todos os partidos de direita assume que o objetivo foi mostrar as “diferenças”, desde as posições do Chega às da IL, desde questões económicas à eutanásia.  Recusa futurologia e não diz nunca que uma solução como os Açores é impossível.

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Francisco Rodrigues dos Santos diz que “claro que sim” a um lugar num Governo de direita, mas “não a todo o custo”. “Se o CDS verificar que não há acolhimento das linhas mestras num Governo de Portugal, então não está lá a fazer nada.”

O líder democrata-cristão dispensa, por enquanto, as pastas, mas é perentório: “O diálogo no centro-direita é manifestamente complexo, tenho a certeza absoluta que só pode haver um Governo de direita com um CDS forte e para construir solução necessária no Parlamento.”

O CDS “não vai reverter” posição sobre eutanásia e Rodrigues dos Santos afirma ser “fundamental” que “eutanásia não passe no Parlamento”. E diz “exigir”, dizendo que esta é uma “linha azul” para um Governo de Direita em Portugal, mas citando Merkel, que diz que é preciso ceder em negociações.

“Gostava de ter 230 deputados por absurdo”, diz, enquanto recusa objetivos concretos de deputados. “Tudo o que seja reduzir número de deputados não será satisfatório”, admite, frisando que o objetivo é “aumentar” e “crescer”. Na noite eleitoral, refere que terá de avaliar os resultados, mas recusa dizer que se deixa o partido. Porém, atira: “O CDS não vai ter só um deputado no Parlamento, tem esta garantia.”

Questionado sobre as reações à não-coligação com o PSD para estas eleições, Rodrigues dos Santos realça que “os sinais que PSD deu foram opostos aos que deu nestas legislativas”, lembrando que quando foi necessário os sociais-democratas souberam “colocar-se do lado da alternativa”, dando o exemplo dos Açores e das autárquicas. “Acho que ficou enfraquecida a ideia de alternativa.”

“Vamos ver se o PSD vai precisar ou não do CDS e ver quem tinha razão, [houve] uma postura arrogante que alguns dirigentes quiseram expressar à porta fechada ou se o CDS vai ser indispensável para o centro-direita governar”, destaca, notando que o CDS “consegue estar à altura das circunstâncias”.

Relativamente a Manuel Monteiro, que Francisco Rodrigues dos Santos disse ser um “ás de trunfo”, o líder do CDS justificou que o antigo líder não tinha disponibilidade, mas que se mostrou disponível para ajudar os democratas-cristãos. “Se Manuel Monteiro não teve essa disponibilidade não foi por falta de confiança na direção.”

Não ir coligado com o PSD é uma “oportunidade” para o CDS, recusa, depois de ter dito que havia vantagens em haver uma pré-coligação. “O PSD clarificou o seu caminho e apelando a um bloco central abre espaço a um partido de direita sensata como o CDS.”

Francisco Rodrigues dos Santos considera que uma coligação pré-eleitoral poderia “esbater o CDS e [deixá-lo] diluído numa solução com o PSD que não está disponível para bandeiras claramente de direita”. “Temos um campo aberto para afirmar ideias de rutura.”

O líder democrata-cristão defende as apostas da direção para as legislativas e não se mostrou surpreendido pelo facto de nenhum dos atuais deputados ter aceitado fazer parte das listas: “Deputados do CDS empenharam-se contra a liderança do partido.”

Francisco Rodrigues dos Santos reitera que o Conselho Nacional “decidiu não antecipar” o Congresso, dizendo que não foi o “presidente do CDS”. O programa eleitoral do partido será conhecido até ao final da semana, mas defende que já há medidas.

O CDS quer “baixar o IRC para 19% e que atinja os 15%” e que “todas as empresas que invistam a totalidade do lucro devem estar isentas”. Relativamente o IRS, devem ser “reduzidos escalões e taxas” para que “trabalhar em Portugal compense”. O que existe “desincentiva trabalhar”.

No preço da eletricidade e dos combustíveis cerca de “60% são impostos” e o CDS pretende “reduzir os impostos”. E vai propor a “privatização de todas as empresas de transportes, a começar pela TAP”. “É necessário fazer reformas do ponto de vista fiscal para fazer a economia crescer”, assegura, dizendo que “podemos duplicar o crescimento económico”.

Sobre o aborto, “o CDS mantém posição contra” e Rodrigues dos Santos insiste que é preciso “dar oportunidade a todas as mulheres de terem uma alternativa”. Questionado sobre a criminalização, disse que “não vai avançar”. “Prioridade é tornar a lei mais humanizada.”

No questionário final do Sob Escuta sobre as legislativas, Francisco Rodrigues dos Santos diz que o melhor primeiro-ministro da nossa democracia foi Francisco Sá Carneiro e o pior José Sócrates.

A pessoa que mais ouve quando tem de tomar uma decisão política difícil é a mulher. E se o CDS não existisse, Rodrigues dos Santos escreveria o nome do partido num boletim de voto.

Sobre o político de outro partido que gostaria de ter num dos seus governos, o líder do CDS apostaria em Pedro Santana Lopes. Já depois de muitas dificuldades e de muito silêncio, não escolheu o melhor ministro deste Governo, mas quando questionado sobre várias pastas acabou por optar por Augusto Santos Silva.

No final da entrevista, assumiu que o seu maior fracasso político foi não ter conseguido a “unidade no CDS”.