Até há bem pouco tempo, a Polestar era sinónimo das versões mais “vitaminadas” dos modelos Volvo, à semelhança do que fazia a Cupra para a Seat. Sucede que estes dois “braços” desportivos se autonomizaram como marcas próprias, em períodos próximos (2017 e 2018, respectivamente), e embora ambos persigam a afirmação no mercado por meio da plena electrificação associada à performance, os escandinavos não têm qualquer problema em fixar o “alvo a abater”.  As ambições do construtor controlado pela Geely e pela Volvo são tão grandes a ponto de o objectivo ser bater a Porsche num horizonte de apenas quatro anos. Demasiado fantasioso?

Pode ser que sim e pode ser não, mas é essa a meta que se extrai do plano de negócios da Polestar partilhado com o Autoblog, meio segundo o qual é o próprio fabricante nórdico (que produz na China) quem coloca a Porsche na mira, predispondo-se a ultrapassá-la nas áreas de “desempenho, design e inovação”. E também em vendas, sendo essencialmente aí que a surpresa é maior, ou não implicasse multiplicar por 10 o volume de 2021. O ano passado, a Polestar vendeu apenas 29.000 carros, mas dentro de quatro anos quer atingir vendas anuais de 290.000 veículos. Um salto de gigante que, a concretizar-se, apoucará o desempenho comercial da Porsche, atendendo a que o recorde de vendas desta marca do Grupo VW remonta a 2019, ano em que registou 280.800 novas matrículas globalmente.

A questão que se coloca é se o alegado objectivo da Polestar bater a Porsche será mesmo exequível, o que nos obriga a revisitar o histórico de cada uma das marcas, ponderar o presente e antecipar o futuro com base nos planos divulgados por cada um destes construtores.

Começando pela Porsche, porque a antiguidade assim o obriga, temos um construtor que firmou a sua reputação como fabricante de desportivos, com o 911 a ser o ícone deste estatuto, pese embora a Porsche, de há uns tempos a esta parte, venda de longe muitos mais SUV do que desportivos. Depois, com a entrada em cena do Taycan, conclui-se que efectivamente os clientes da marca estão dispostos a transitar para a plena electrificação, na medida em que a primeira berlina a bateria da Porsche, apesar de pecar pela reduzida autonomia e prestações face à concorrência, continua a convencer os indefectíveis da marca. Tanto que, em pouquíssimo tempo, conseguiu bater o emblemático 911.

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Da Porsche sabe-se ainda que está envolvida no desenvolvimento da Premium Platform Electric (PPE), juntamente com a Audi. Mas a arquitectura destinada aos modelos a bateria mais luxuosos do grupo, ou seja, servindo Audi, Porsche e Bentley, não se livrou de ser minada por críticas internas. Em 2022, deve ver a luz do dia no Audi Q6 e-tron, mas não é suposto que chegue ao Macan eléctrico antes de 2023. E o pequeno SUV germânico é basilar para as vendas da Porsche.

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Já a Polestar, ao contrário da Porsche, tem um curto histórico. Autonomizada em 2017, desde então introduziu o coupé Polestar 1, um híbrido plug-in que vai ser descontinuado em 2022, do qual não se produziram mais de 1500 unidades (nem todas fáceis de escoar), e o liftback de cinco portas Polestar 2, este 100% eléctrico. Sucede que, cerca de seis meses depois de ter iniciado a produção deste modelo em Luqiao (China), a marca viu-se obrigada a fazer uma chamada à oficina de todas as unidades entregues a clientes, por problemas com o inversor e bateria. Problemas de “juventude”, que podem incutir pouca confiança ao consumidor…

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Depois do 2, vem o 3, o 4 e o 5. Literalmente, é assim que se conta no cronograma de produto da Polestar, traçado para atingir as tais 290.000 unidades/ano em 2025. Ao contrário do aconteceu com os dois primeiros lançamentos, com base Volvo (SPA para o Polestar 1 e CMA para o 2), os futuros eléctricos dos nórdicos deverão recorrer a plataformas dedicadas. O Polestar 3, um SUV de cinco lugares que ambiciona 595 km de autonomia e visa o Porsche Cayenne, vai chegar este ano sobre a mesma arquitectura que ficará ao serviço do novo XC90, cuja futura geração será exclusivamente eléctrica. Depois, lá para o fim do próximo ano, será a vez de avançar com um adversário para o Macan EV, o Polestar 4. Na recta final, já de olhos postos na meta estipulada para 2025, entra em cena a versão de produção do concept Precept, ou seja, uma berlina eléctrica apontada ao Taycan.

Para cumprir a sua ambição, a Polestar admite continuar a partilhar baterias com a Lotus e com a Volvo – também nenhuma as produz por enquanto -, mas o mesmo não vai acontecer com a “alma do negócio”. A marca diz ter chamado a si o desenvolvimento do seu próprio motor, internamente apelidado de P10. Do caderno de encargos faz parte entregar mais de 450 kW de potência (612 cv), ser facilmente integrado em qualquer modelo e poder ser alimentado por uma bateria a 400 ou 800V, para obter 80% da energia em 20 minutos de carga rápida, oferecendo ainda um sistema bidireccional, isto é, capaz de retirar ou injectar electricidade na rede. Em teoria, a fasquia está posta lá em cima, resta aguardar para sabermos se, na prática, a Polestar vai mesmo conseguir atingir aquilo a que se propõe em apenas quatro anos.