O CEO da Polestar, Thomas Ingenlath, afirmou estar surpreendido pelo aumento para 100% das taxas a aplicar sobre os veículos eléctricos fabricados na China, anunciados pela administração Biden. Segundo o gestor deste construtor, que até ao início do ano era controlado pela Volvo e pelos chineses da Geely — sendo que a Volvo pertence integralmente a este grupo chinês liderado por Li Shufu —, mas que agora é 100% da Geely, “se tudo indica que o comércio automóvel livre entre a China e o mercado norte-americano não é possível, pelo menos que possa ser possível um comércio justo”.

Mas os entraves aos construtores chineses para entrarem nos mercados ocidentais com maior poder de compra, como é o caso da Europa e dos EUA, promete ficar em breve ainda mais complicado. Isto porque se espera que os europeus se juntem aos norte-americanos no incremento dos impostos à importação de modelos a bateria (e não só) vindos da China.

Vimos o Polestar 3, irmão do Volvo EX90 e concorrente do Tesla Model X

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Não deixa de ser curioso que os construtores chineses se queixem do nível das exigências que vão ter de enfrentar para vender livremente nos EUA, quando durante anos forçaram as marcas norte-americanas, que queriam vender na China, a construir fábricas no país, para depois “oferecer” 50% a um fabricante local, pertença do Estado, que se encarrega de copiar toda a sua tecnologia. Face a tudo isto, as regras que o Governo de Biden se propõe adoptar parecem bem menos exigentes.

Polestar 4 é um surpreendente SUV coupé eléctrico a que falta uma peça

Na Europa, os chineses enfrentam outro tipo de problemas. Para começar, a União Europeia desconfia que o Estado financia ilegalmente os construtores locais, subsidiando de forma muito generosa a venda de veículos. E esta é uma necessidade premente para a economia chinesa, que já viveu melhores momentos, uma vez que a capacidade instalada de produção local é de 44 milhões de veículos e os consumidores chineses estão apenas a comprar cerca de 24 milhões, pelo que há 20 milhões de automóveis chineses que têm de encontrar clientes nos mercados de exportação.

Volvo está farta da Polestar e desfaz-se das acções

Para conseguir sobreviver aos “apertos” que esperam os carros chineses com destino aos dois lados do Atlântico, a Polestar tem uma estratégia. Para contornar as limitações impostas pelos norte-americanos, Thomas Ingenlath pretende fabricar o próximo Polestar 3 (o SUV eléctrico topo de gama) na fábrica da Volvo nos arredores de Charleston, na Carolina do Sul, com o Polestar 4 a ser produzido na Coreia do Sul, pela Renault, evitando assim os impostos à entrada dos EUA.

Polestar fechou 2023 com o pior trimestre do ano

Para a Europa, a solução encontrada pelo CEO da Polestar é similar, mas com algum atraso. A explicação tem de ser encontrada no facto de Ingenlath não prever fabricar na Europa, em instalações da Volvo, antes de 2027, ano em que deverá chegar ao mercado o Polestar 7. Até lá, a marca tem de encontrar uma forma de vender os carros que produz, uma vez que apesar do Polestar 2 ser um eléctrico competitivo, o volume de vendas global deste modelo é assustadoramente baixo. A ponto de a Blomberg temer pelo futuro desta marca da Geely e de a Volvo ter de se livrar das acções da Polestar, apenas porque estavam a prejudicar a cotação das suas.