Cinco paramilitares do Guatemala começaram a ser julgados esta quarta-feira pela violação de 36 mulheres do grupo indígena Achi. Os crimes foram cometidos entre 1981 e 1985, em Baja Verapaz, durante a guerra civil que abalou o país.

Os cinco homens tinham sido capturados, juntamente com outros três, em 2018, mas o juiz inicialmente responsável pelo caso rejeitou as provas apresentadas e libertou os oito paramilitares. Destes, um morreu e os restantes sete foram mais tarde recapturados, tendo dois deles sido já absolvidos.

Os procuradores garantiram ao tribunal terem mais de 200 provas em relação aos crimes praticados pelos paramilitares, incluindo testemunhas e opiniões de especialistas.

Hoje [quarta-feira] é um dia histórico não apenas para as mulheres Achi de Rabinal – em Beja Verapaz – mas também para os milhares de mulheres que foram vítimas de abusos sexuais durante o conflito armado”, afirmou, segundo a Reuters, citada pela NBC News, Virginia Valencia, que representa cinco das 36 vítimas.

Durante a guerra civil, entre 1960 e 1996, segundo uma das advogadas de defesa, Lucia Xiloj, as mulheres maias “eram violadas pelos militares e paramilitares depois do desaparecimento (forçado) dos seus maridos”, conta a BBC.

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Estima-se que cerca de 200 mil pessoas tenham sido mortas ou desaparecido durante o conflito.

O julgamento teve início esta quarta-feira, com a juíza encarregue do caso, Yassmin Barrios, a considerar que “não se pode adiar mais” o caso, após a proposta, por parte de um dos advogados de defesa, do adiamento do julgamento por uma semana. A sessão teve início num tribunal dedicado a casos de risco, como o julgamento de crime organizado e casos de corrupção.

Estes tribunais, criados com o apoio da Organização das Nações Unidas, tinham como objetivo implementar uma reforma na investigação do crime organizado e da corrupção no país, após o fim da guerra civil. A missão da ONU encarregue destas reformas, contudo, foi dissolvida em 2019, com o fim do mandato do Presidente, Alejandro Ciammattei.

Em 2016, dois antigos soldados foram condenados a uma pena combinada de 360 anos por crimes contra a humanidade, que incluíam escravatura sexual e homicídio, num caso reportado por 15 mulheres Q’eqchi – descendentes do povo Maia, tal como as mulheres Achi.