“Não há nada mais prioritário” que responsabilizar os envolvidos no ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio. São as palavras do procurador-geral Merrick Garland, que na quarta-feira se comprometeu a apurar a verdade e punir os responsáveis por este ataque que matou cinco pessoas, feriu mais de 100 polícias e foi considerado um atentado à democracia norte-americana.
“O Departamento de Justiça permanece comprometido em responsabilizar todos os responsáveis pelo 6 de janeiro, a qualquer nível, perante a lei, quer tenham estado presentes no dia, ou sejam criminalmente responsáveis de outra forma pelo ataque à nossa democracia”, afirmou Garland, num discurso no Departamento de Justiça, em Washington.
No seu discurso, Garland não mencionou diretamente Donald Trump, que tem sido apontado como instigador deste ataque. Mas teve o cuidado de se referir ao foco da investigação, numa altura em que, um ano depois dos ataques, há crescente pressão para mais condenações.
O procurador disse que o Departamento de Justiça está a estabelecer bases para os casos mais complicados. “Nos casos complexos, as acusações iniciais são frequentemente menos severas que as acusações feitas posteriormente. Isto é intencional, já que os investigadores recolhem e analisam metodicamente mais provas. Não pode haver regras diferentes para os poderosos e os sem poder”, explicou.
Garland garantiu que esta era a investigação “maior, mais complexa e com mais recursos” na história do país.
Um ano após a invasão do Capitólio, em Washinton, mais de 700 pessoas foram acusadas por crimes que vão desde o planeamento de um ataque para impedir a confirmação oficial da vitória eleitoral de Joe Biden a agressão à polícia. Até agora, 165 declararam-se culpados – quatro arriscam mesmo condenações de 20 anos de prisão – e 71 foram condenados a penas até cinco anos, segundo dados oficiais.
Invasor do Capitólio que agrediu polícias condenado a cinco anos de prisão
Além do trabalho do Departamento de Justiça, uma comissão do Congresso está há seis meses a investigar o que aconteceu naquele dia, com especial foco no papel de Donald Trump. Desde que Joe Biden venceu as presidenciais, em novembro de 2020, que Trump vinha a alimentar uma teoria de que os resultados eleitorais eram fraudulentos e a eleição tinha sido roubada, gerando em torno de si uma multidão de indignados.
Esta comissão, formada por sete democratas e dois republicanos, pode recolher provas de um possível crime e recomendar à Justiça que atue. Também pode investigar casos de perjúrio, intimidação a testemunhas ou desrespeito ao Congresso, no caso de pessoas que se recusam a testemunhar, como aconteceu com Steve Bannon, antigo assessor de Trump, e Mark Meadows, o seu chefe de gabinete.
Até agora, os congressistas entrevistara mais de 300 testemunhas, reuniram 35.000 documentos, e deslocaram-se a vários pontos do país para falar com funcionários eleitorais de diferentes estados, como Arizona e Pensilvânia, onde Trump insiste que houve fraude eleitoral.
Imagens de 6 de janeiro de 2021, das câmaras de videovigilância do Capitólio, mostram mais de 800 revoltosos, alguns armados com machados, tacos de basebol e sticks de hóquei. Cinco pessoas morreram e 140 agentes policiais ficaram feridos em consequência dos confrontos. Tudo aconteceu depois de Trump instar, num discurso na Casa Branca, os seguidores a “lutar” para “recuperar” o país. O ex-Presidente chegou mesmo a sugerir que fossem até ao Congresso, onde o resultado presidencial ia ser oficialmente confirmado.
Fotogaleria. As imagens da invasão do Capitólio por manifestantes pró-Trump
O papel de Trump nesta”insurreição”, como é frequentemente descrito o ataque nos media americanos, vai estar no centro do discurso de Joe Biden, esperado esta quinta-feira.
Joe Biden “olha para o dia 6 de janeiro como a trágica conquista do que quatro anos da presidência de Trump fizeram a este país”, disse a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, na quarta-feira, manifestando a intenção de o atual Presidente endurecer o tom de crítica sobre o seu antecessor.
“O Presidente vai explicar o significado do que aconteceu no Capitólio e a responsabilidade única que Trump tem pelo caos e carnificina a que assistimos naquele dia”, disse Psaki sobre o discurso.
“[Biden] vai rejeitar enfaticamente as mentiras que o ex-Presidente espalhou, na tentativa de enganar o povo americano e os seus próprios apoiantes, bem como de subtrair a atenção sobre o seu papel no ocorrido”, acrescentou a porta-voz.
“Carnificina.” Biden vai atribuir a Trump “responsabilidade única” sobre a invasão ao Capitólio
Segundo a porta-voz da Casa Branca, no seu discurso de quinta-feira, Biden vai dizer que considera Trump “uma ameaça à democracia americana” e vai lamentar que o ex-Presidente “trabalhe constantemente para minar os valores básicos dos Estados Unidos e a legalidade”.
Trump chegou a ter previsto fazer declarações no dia de aniversário do ataque ao Capitólio, mas na terça-feira acabou por recuar da intenção, anunciando que irá pronunciar-se num comício a 15 de janeiro.
Um ano depois do ataque ao centro da democracia americana, o país está mais dividido que nunca. Uma sondagem revela que apenas 4 em 10 republicanos admite que o ataque foi muito violento, enquanto que entre os democratas 9 em cada 10 afirma que houve violência.
Menos de metade dos republicanos admite que ataque ao Capitólio foi muito violento