“Não há nada mais prioritário” que responsabilizar os envolvidos no ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio. São as palavras do procurador-geral Merrick Garland, que na quarta-feira se comprometeu a apurar a verdade e punir os responsáveis por este ataque que matou cinco pessoas, feriu mais de 100 polícias e foi considerado um atentado à democracia norte-americana.
“O Departamento de Justiça permanece comprometido em responsabilizar todos os responsáveis pelo 6 de janeiro, a qualquer nível, perante a lei, quer tenham estado presentes no dia, ou sejam criminalmente responsáveis de outra forma pelo ataque à nossa democracia”, afirmou Garland, num discurso no Departamento de Justiça, em Washington.
![Attorney General Garland Delivers Remarks On January 6 Prosecutions](https://bordalo.observador.pt/v2/q:84/rs:fill:4096:2304/c:4096:2304:nowe:0:0/plain/https://s3.observador.pt/wp-content/uploads/2022/01/06082118/GettyImages-1237552542-scaled.jpg)
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No seu discurso, Garland não mencionou diretamente Donald Trump, que tem sido apontado como instigador deste ataque. Mas teve o cuidado de se referir ao foco da investigação, numa altura em que, um ano depois dos ataques, há crescente pressão para mais condenações.
O procurador disse que o Departamento de Justiça está a estabelecer bases para os casos mais complicados. “Nos casos complexos, as acusações iniciais são frequentemente menos severas que as acusações feitas posteriormente. Isto é intencional, já que os investigadores recolhem e analisam metodicamente mais provas. Não pode haver regras diferentes para os poderosos e os sem poder”, explicou.
Garland garantiu que esta era a investigação “maior, mais complexa e com mais recursos” na história do país.
Um ano após a invasão do Capitólio, em Washinton, mais de 700 pessoas foram acusadas por crimes que vão desde o planeamento de um ataque para impedir a confirmação oficial da vitória eleitoral de Joe Biden a agressão à polícia. Até agora, 165 declararam-se culpados – quatro arriscam mesmo condenações de 20 anos de prisão – e 71 foram condenados a penas até cinco anos, segundo dados oficiais.
Invasor do Capitólio que agrediu polícias condenado a cinco anos de prisão
Além do trabalho do Departamento de Justiça, uma comissão do Congresso está há seis meses a investigar o que aconteceu naquele dia, com especial foco no papel de Donald Trump. Desde que Joe Biden venceu as presidenciais, em novembro de 2020, que Trump vinha a alimentar uma teoria de que os resultados eleitorais eram fraudulentos e a eleição tinha sido roubada, gerando em torno de si uma multidão de indignados.
Esta comissão, formada por sete democratas e dois republicanos, pode recolher provas de um possível crime e recomendar à Justiça que atue. Também pode investigar casos de perjúrio, intimidação a testemunhas ou desrespeito ao Congresso, no caso de pessoas que se recusam a testemunhar, como aconteceu com Steve Bannon, antigo assessor de Trump, e Mark Meadows, o seu chefe de gabinete.
![Police use tear gas around Capitol building where pro-Trump](https://bordalo.observador.pt/v2/q:84/rs:fill:3000:1687/c:3000:1687:nowe:0:156/plain/https://s3.observador.pt/wp-content/uploads/2022/01/06081826/GettyImages-1230464979.jpg)
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Até agora, os congressistas entrevistara mais de 300 testemunhas, reuniram 35.000 documentos, e deslocaram-se a vários pontos do país para falar com funcionários eleitorais de diferentes estados, como Arizona e Pensilvânia, onde Trump insiste que houve fraude eleitoral.
Imagens de 6 de janeiro de 2021, das câmaras de videovigilância do Capitólio, mostram mais de 800 revoltosos, alguns armados com machados, tacos de basebol e sticks de hóquei. Cinco pessoas morreram e 140 agentes policiais ficaram feridos em consequência dos confrontos. Tudo aconteceu depois de Trump instar, num discurso na Casa Branca, os seguidores a “lutar” para “recuperar” o país. O ex-Presidente chegou mesmo a sugerir que fossem até ao Congresso, onde o resultado presidencial ia ser oficialmente confirmado.
Fotogaleria. As imagens da invasão do Capitólio por manifestantes pró-Trump
O papel de Trump nesta”insurreição”, como é frequentemente descrito o ataque nos media americanos, vai estar no centro do discurso de Joe Biden, esperado esta quinta-feira.
Joe Biden “olha para o dia 6 de janeiro como a trágica conquista do que quatro anos da presidência de Trump fizeram a este país”, disse a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, na quarta-feira, manifestando a intenção de o atual Presidente endurecer o tom de crítica sobre o seu antecessor.
![Trump Supporters Hold "Stop The Steal" Rally In DC Amid Ratification Of Presidential Election](https://bordalo.observador.pt/v2/q:84/rs:fill:4096:2307/c:4096:2307:nowe:0:114/plain/https://s3.observador.pt/wp-content/uploads/2022/01/06081843/GettyImages-1230734366-scaled.jpg)
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“O Presidente vai explicar o significado do que aconteceu no Capitólio e a responsabilidade única que Trump tem pelo caos e carnificina a que assistimos naquele dia”, disse Psaki sobre o discurso.
“[Biden] vai rejeitar enfaticamente as mentiras que o ex-Presidente espalhou, na tentativa de enganar o povo americano e os seus próprios apoiantes, bem como de subtrair a atenção sobre o seu papel no ocorrido”, acrescentou a porta-voz.
“Carnificina.” Biden vai atribuir a Trump “responsabilidade única” sobre a invasão ao Capitólio
Segundo a porta-voz da Casa Branca, no seu discurso de quinta-feira, Biden vai dizer que considera Trump “uma ameaça à democracia americana” e vai lamentar que o ex-Presidente “trabalhe constantemente para minar os valores básicos dos Estados Unidos e a legalidade”.
Trump chegou a ter previsto fazer declarações no dia de aniversário do ataque ao Capitólio, mas na terça-feira acabou por recuar da intenção, anunciando que irá pronunciar-se num comício a 15 de janeiro.
Um ano depois do ataque ao centro da democracia americana, o país está mais dividido que nunca. Uma sondagem revela que apenas 4 em 10 republicanos admite que o ataque foi muito violento, enquanto que entre os democratas 9 em cada 10 afirma que houve violência.
Menos de metade dos republicanos admite que ataque ao Capitólio foi muito violento