Foi realizada em Baltimore, nos Estados Unidos da América, a primeira cirurgia com sucesso de um transplante de coração de porco numa pessoa.
Na sexta-feira, David Bennett, de 57 anos, recebeu um coração de porco geneticamente modificado, numa cirurgia que durou cerca de sete horas. Esta segunda-feira, os médicos do centro clínico da Universidade de Maryland informaram que o doente se encontra bem, após a primeira cirurgia do género resultar, até à data, na aceitação por parte do recetor do transplante.
David Bennett será monitorizado durante as próximas semanas para analisar a reação ao novo coração.
[A opção] era morrer ou receber este transplante. Eu quero viver. Sei que é um tiro no escuro, mas é a minha última chance”, disse o paciente, segundo a Universidade de Maryland. “Anseio por poder sair da cama, depois de recuperar da cirurgia.”
A Agência Americana do Medicamento deu autorização para que a cirurgia se realizasse em regime de exceção no dia 31 de dezembro. Esta autorização é dada quando um produto médico — neste caso o coração do porco geneticamente modificado — é a única opção para um paciente em risco de morte.
Esta foi uma cirurgia nova que nos aproxima mais de resolver problemas relacionados com a escassez de órgãos para transplante. Não existem, simplesmente, dadores de órgãos suficientes para satisfazer a longa lista de potenciais recetores”, explicou o cirurgião responsável pela operação, Dr. Bartley P. Griffith.
Segundo a Universidade de Maryland, existem atualmente 110 mil pacientes americanos a precisar de um transplante de órgão, e mais de 6 mil pacientes nos Estados Unidos da América morrem todos os anos antes de poder realizar a cirurgia.
Ele percebe a magnitude do que foi feito e compreende a importância da cirurgia”, explicou David Bennett Jr., filho do paciente de 57 anos. “Ele podia não ter sobrevivido, ou ter aguentado apenas um dias ou dois. Estamos na incerteza, neste momento.”
Este tipo de transplante — que tinha sido previsto em 2019 — realizado com recurso a um órgão animal denonima-se de xenotransplante, e, embora possa potencialmente salvar milhares de vidas, acarreta, atualmente, riscos relacionados com reações perigosas por parte do sistema imunitário dos pacientes. Um xenotransplante foi realizado pela primeira vez na década de 1980, quando um bebé recebeu um coração de babuíno, na Califórnia. A criança, contudo, acabou por morrer um mês depois pela de o seu corpo rejeitar o órgão.
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As válvulas cardíacas do porco são atualmente usadas para cirurgias, assim como excertos de pele de porcos em queimaduras graves.
O que levou a que a cirurgia resultasse com David Bennett? Segundo o The Guardian, o porco de onde foi obtido o coração tinha sido geneticamente alterado para remover um açúcar nas suas células responsável pela rejeição rápida do órgão.
Já no ano passado tinha sido transplantado um rim de porco para uma mulher, numa outra cirurgia inédita.
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