A pressão nas alas pediátricas dedicadas à Covid-19 está a aumentar desde que surgiu a variante Ómicron, mais transmissível que qualquer linhagem do SARS-CoV-2 identificada até agora, com mais casos positivos a serem registados em alguns hospitais do país. Mas mais internamentos nas áreas Covid nem sempre significam mais internamentos por Covid: ou seja, estando positivas, mesmo que o motivo do internamento seja outro, os menores têm de ficar nas áreas destinadas a infetados com o novo coronavírus.

Os casos que chegam ao hospitais efetivamente por causa da doença provocada pelo coronavírus continuam a não ser expressivos e a não comprometer a estabilidade do serviço nacional de saúde, mas estão a aumentar em algumas unidades. A situação não é, no entanto, homogénea em todo o país: enquanto alguns hospitais não têm sequer crianças positivas em internamento, outros registam dez vezes mais.

Uma fonte da Luz Saúde, por exemplo, revelou ao Observador que, se no início do ano passado quase não havia casos de crianças com casos severos, agora “há muito mais crianças com Covid-19” internadas e isso está a refletir-se nos internamentos em unidades de cuidados intensivos em idade pediátrica. “Ainda na semana passada tivemos duas crianças internadas em intensivos, que já tiveram alta para enfermaria”, garantiu a mesma fonte.

O Hospital Santa Maria também confirmou ao Observador que está a haver um aumento de casos positivos entre as crianças ali internadas. Se até aqui o mais habitual era acompanhar-se apenas uma pessoa idade pediátrica por dia, muitas vezes nenhuma, atualmente o Santa Maria contabiliza 10 crianças internadas na enfermaria dedicada à Covid-19.

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Mas nenhuma criança está na unidade de cuidados intensivos com quadros severos de Covid-19 neste momento e pelo menos desde outubro que o maior hospital do país não regista qualquer caso de MIS-C, uma condição que provoca inflamações em vários órgãos do corpo e que tem sido associada à Covid-19 grave em crianças. Curável na esmagadoria maioria dos casos, a MIS-C pode ainda assim ser letal ou deixar sequelas após a recuperação.

Entre as crianças internadas em enfermaria, nem todas estão positivas, nem sequer desenvolvem sintomas de Covid-19: quatro estão na enfermaria dedicada a esta doença apenas porque são contactos de risco de pessoas positivas e precisam de estar isolamento, mas não foi isso que as levou ao hospital. As outras seis estão, de facto, infetadas, mas a maioria não tem sintomas e está hospitalizada por quadros clínicos independentes da Covid-19.

Estefânia tem uma criança na UCI por Covid-19

Também o Hospital D. Estefânia, do Centro Hospitalar Lisboa Central, confirmou ao Observador que os casos na ala pediátrica dedicada à Covid-19 aumentaram desde que a variante Ómicron entrou em circulação intensiva em Portugal. Atualmente, há uma criança positiva internada na unidade de cuidados intensivos do maior hospital pediátrico do país — e está hospitalizada precisamente por causa da Covid-19. Tem entre zero e nove anos, mas não se pode apurar o seu estado vacinal.

Ainda assim, é o único caso nos cuidados intensivos entre as 14 crianças internadas que estão infetadas com SARS-CoV-2 no D. Estefânica: das restantes 13, que estão em enfermaria com quadros clínicos mais controladas, cinco nem sequer estão hospitalizadas por causa da Covid-19, mas sim por causa de outras doenças de que padecem.

O fenómeno repete-se no Hospital Fernando Fonseca (Amadora Sinta), que neste momento contabiliza quatro doentes com Covid-19 em idade pediátrica em enfermaria e um nos cuidados intensivos. Esta última criança, embora esteja infetada com o SARS-CoV-2, não está hospitalizada por causa da Covid-19, mas sim devido a outra complicação de saúde. Em todo o caso, estes números são maiores que os que têm vindo a ser apontados no Fernando Fonseca: alturas houve em que, por serem tão poucas, todas as crianças sinalizadas neste hospital eram internadas apenas no D. Estefânia.

Já o Hospital de Braga fez saber que esta quarta-feira tinha “quatro crianças Covid-19 positivas internadas”. Todas estavam internadas por infeção por SARS-CoV-2, mas em enfermaria geral. E a unidade também verifica um aumento dos casos desde que começou a circular a nova variante. “No momento atual, com a circulação predominante da variante Ómicron do vírus SARS-CoV-2, temos verificado mais internamentos de crianças com infeção por SARS-Cov-2”, explicou fonte oficial.

Há hospitais em que a Ómicron não mudou padrão de internamentos

Este aumento da pressão que a variante Ómicron parece estar a exercer sobre as alas pediátricas não é transversal a todo o país. O Hospital Garcia de Orta, por exemplo, não tem qualquer criança positiva internada neste momento — nem em enfermaria, nem em cuidados intensivos, por Covid-19 ou outra doença. O Centro Hospital de São João também não e essa tem sido a norma, garantiu fonte oficial ao Observador: nas últimas semanas, o maior número de internados em idade pediátrica com Covid-19 em simultâneo terão sido dois.

No Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, contabilizam-se três crianças infetadas em internamento, uma das quais nos cuidados intensivos. Apesar de estar positiva para a presença do SARS-CoV-2, a criança está internada por outras complicações que não a Covid-19. Mas, por ter menos de cinco anos, não está vacinada contra a doença. Fonte oficial disse ao Observador que, à semelhança do que acontece no São João, a variante Ómicron não veio adicionar pressão na ala pediátrica no hospital.

Também no Centro Hospitalar Médio Tejo, nenhuma das 27 pessoas internadas em enfermaria e das quatro acompanhadas nos cuidados intensivos estão em idade pediátrica. De resto, os internamentos por Covid-19 têm-se mantido estáveis mesmo após a entrada em circulação da nova variante do SARS-CoV-2.