Os serviços secretos britânicos enviaram um “alerta de interferência” ao presidente da Câmara dos Comuns, Lindsay Hole, sobre suspeitas de “atividades de interferência política” por parte de uma cidadã chinesa que reside em Londres, a advogada Christine Lee. Em causa estarão donativos feitos a um deputado trabalhista, Barry Gardiner.

A informação foi revelada no Parlamento britânico esta quinta-feira, pelo deputado e antigo líder conservador Iain Duncan Smith. “Pelo que sei, o senhor presidente foi contactado pelo MI5 e está agora a avisar os deputados de que há uma agente ativa do governo chinês aqui no Parlamento, a trabalhar com um deputado para obviamente subverter os processos”, afirmou.

Hole já tinha contactado os deputados através de uma carta, a que o jornal The Times teve acesso. Nela, pode ler-se que Lee “tem estado a promover atividades de influência política em nome do Partido Comunista Chinês (PCC), lidando com membros do Parlamento e entidades políticas associadas”. Em causa estão sobretudo donativos políticos de estrangeiros com residência na China e em Hong Kong, que seriam canalizados através de Lee — “isto é claramente um comportamento inaceitável e estão a ser dados passos para garantir que cessa”, diz o presidente do Parlamento.

Segundo o jornal Telegraph, o aviso do MI5 diz que Christine Lee tem trabalhado para o Departamento de Trabalho da Frente Unida do PCC. Em causa estão as suas atividades à frente da Associação Chinesa de Amizade no Estrangeiro e no Projeto Britânico-Chinês, bem como os seus donativos para o deputado do Labour. Fontes do governo avançaram ao The Times esta quinta-feira que Lee terá tentado influenciar outros deputados do Partido Trabalhista e também do Partido Conservador.

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Já em 2017 o The Times tinha revelado que o deputado Gardiner tinha recebido mais de 200 mil euros da empresa de Lee para cobrir custos com pessoal. O jornal também avançou que Gardiner contratou o filho da advogada chinesa, Daniel Wilkes, para a sua equipa de apoio parlamentar.

Gardiner anunciou que Wilkes foi entretanto demitido e garantiu estar em contacto com os serviços de informação. “Eles sabem que não beneficiei pessoalmente destes donativos. Ela deixou de financiar o meu pessoal desde junho de 2020”, disse o deputado.

Os media britânicos divulgaram ainda que quando Theresa May era primeira-ministra deu um prémio a Christine Lee pelo seu trabalho na “promoção da cooperação entre as comunidades chinesa e britânica no Reino Unido”. Iain Duncan Smith aponta o dedo aos serviços de informação, dizendo que deviam ter informado a primeira-ministra das suspeitas que pendiam sobre Lee: “O que é que se passava para que não tenham dito ao gabinete da primeira-ministra que estava a atribuir um prémio a uma pessoa suspeita?”

A ministra da Administração Interna já comentou o caso. Priti Patel diz que é “profundamente preocupante” que uma pessoa ligada ao PPC tenha tentado atuar sobre deputados, mas garantiu que o país tem medidas para “identificar interferências estrangeiras”.