Os perigos que correm os trabalhadores humanitários do campo de Al-Hol, no nordeste da Síria, representam uma “ameaça sem precedentes”, alertou este domingo um responsável curdo, poucos dias depois do assassinato de um socorrista por membros do grupo Estado Islâmico.

“A situação de segurança no campo é volátil e as células do [grupo ‘jihadista’ autoproclamado Estado Islâmico] EI ainda estão presentes” em Al-Hol, disse o responsável da administração semiautónoma curda que controla o campo, Chaykhamous Ahmed.

Na quarta-feira, a organização Crescente Vermelho Curdo anunciou a morte de um de seus membros por um ferimento de bala, “enquanto cumpria o seu dever humanitário” na sede da organização, em Al-Hol.

De acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), o socorrista foi morto por dois membros do EI, que conseguiram entrar no centro médico com identidades falsas.

“As ameaças a organizações humanitárias e médicas estabelecem um precedente perigoso”, disse Chaykhamous Ahmed, acrescentando que estas organizações vão continuar a fazer o seu trabalho, “mas não da maneira ideal”.

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Num comunicado conjunto divulgado na quarta-feira, dois responsáveis da ONU alertaram que as ajudas humanitárias ao campo só poderão ser entregues de forma eficaz quando “forem tomadas medidas para resolver os contínuos problemas de segurança”.

Por seu lado, a Médicos Sem Fronteiras (MSF), uma das organizações mais importantes que trabalham em Al-Hol, sublinhou na sexta-feira a necessidade de encontrar soluções de longo prazo para “garantir a segurança dos moradores e trabalhadores humanitários”.

O campo de Al-Hol, que abriga familiares de combatentes ‘jihadistas’, contabiliza cerca de 56.000 deslocados, metade dos quais com menos de 18 anos, segundo os últimos dados das Nações Unidas.

Desde o início de 2021, o OSDH registou 91 pessoas assassinadas em Al-Hol pelo Estado Islâmico, a maioria das quais eram refugiados iraquianos. Entre os mortos estão dois trabalhadores humanitários.

Apesar das repetidas exortações dos curdos, a maioria dos países ocidentais recusa-se a repatriar os seus cidadãos que estão no campo, contentando-se com repatriações a “conta-gotas” por medo de possíveis atos terroristas nos seus territórios.

Os países dos quais os combatentes e prisioneiros do EI são nacionais também não responderam aos pedidos das autoridades curdas para criar um tribunal internacional para os julgar.