“Este espaço cheiinho de gente maravilhosa até faz esquecer o frio”. A frase, da cabeça de lista do Bloco de Esquerda por Santarém, Fabíola Cardoso, é bastante otimista: está uma noite fria, para dizer o mínimo, em Torres Novas, onde o Bloco se instalou esta terça-feira para um comício noturno. A deputada subiu ao púlpito, pediu a reeleição e acabou com um apelo aos votos no BE para poder “iniciar um ciclo de estabilidade governativa à esquerda”.

O mote para Catarina Martins entrar em palco estava dado. Aliás, tinha sido dado horas antes, quando um trabalhador dos CTT se cruzou com a arruada do Bloco em pleno Chiado e fez questão de se queixar do estado da empresa privatizada. Catarina pegou no encontro, fez dele matéria prima para o discurso e depois de uma longa introdução em que explicou as vantagens do plano de “desprivatizações” do BE nos setores estratégicos (EDP, REN, CTT, banca) — “veja-se que admiração, uma maré de indignação”, ironizou — chegou ao seu ponto: explicar o que uma maioria absoluta poderia fazer a esses e outros setores no país.

“Acho muito curioso que Costa critique as nacionalizações, nunca utilizou esse argumento em 2015 [quando chegou a acordo para formar a geringonça] e já fizemos contas juntos desta necessidade de controlar os CTT”, atirou, recordando que os socialistas chegaram a mencionar a hipótese de comprar 13% das ações da empresa e a desvalorizar o impacto orçamental do negócio. O problema, defendeu, é que o PS — sem geringonça a condicioná-lo — “passou a ser o campeão das privatizações”.

O ataque seguinte seguiria direto a António Costa, que já admitiu a hipótese em governar com o modelo de Guterres (de acordos pontuais) se não chegar à tão desejada maioria absoluta. “Governar à Guterres, já agora, é ser isso mesmo: campeão das privatizações. O único período em que a ânsia privatizadora do PS foi contida e travada foi entre 2015 e 2019”, atiraria Catarina. Conclusão? “Fica cada vez mais claro que a decisão será uma maioria absoluta do PS ou um contrato para o país que permita avanços onde o PS os tem travado. Os grandes interesses vão sempre preferir a maioria absoluta, mas o povo sabe que é a maior inimiga da sua estabilidade”.

Entre aplausos fortes, o remate: “Com maioria absoluta, os CTT continuarão a ser destruídos e a EDP continuará a assaltar o país. Portugal tem todas as condições para abrir um novo ciclo que responda pelo país. Só a força do Bloco será capaz de dar voz a esta maioria social — aqui estamos para abrir portas a esse novo ciclo”. Resta saber se o Bloco terá companhia para o tal novo ciclo ou se ficará a falar sozinho.

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