O Papa emérito tinha conhecimento de que havia padres que abusavam de crianças quando era arcebispo de Munique e nada fez, conclui uma investigação esta quinta-feira apresentada na cidade alemã, noticia a France Press. Dois desses casos “dizem respeito a abusos cometidos durante o seu mandato e sancionados pelo Estado”, sendo que os dois sacerdotes se mantiveram “ativos na pastoral” disse o advogado Martin Pusch ao anunciar em Munique os resultados.

O relatório pedido pelo arcebispado de Munique à firma de advogados Westpfahl Spilker Wastl (WSW) regista que Joseph Ratzinger não agiu quando devia para impedir os casos apontados, acusações que o Papa emérito tem refutado “contundentemente”.

O documento contempla centenas de casos de abuso sexual ocorridos dentro da Igreja Católica alemã, incluindo naquela arquidiocese onde Ratzinger foi arcebispo entre 1977 e 1982, desde o período pós-guerra até praticamente ao presente. E culpa sucessivas hierarquias da Igreja por não terem agido para os travar, no mínimo, ou mesmo de os encobrir.

Os advogados que apresentaram as conclusões adjetivaram o sucedido de “equilíbrio de horrores”.

Em dois dos casos atribuídos ao período em que Ratzinger estava à frente daquele arcebispado, os abusos foram alegadamente cometidos por dois clérigos que prestaram assistência espiritual e contra os quais nunca foram tomadas quaisquer medidas.

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Os responsáveis pelo relatório consideram “pouco credível” a reação do agora Papa emérito, que rejeita as acusações, sustentando que não viram por parte de Ratzinger “nenhum interesse reconhecível” em agir contra os abusadores.

Os investigadores estão convencidos de que Ratzinger teve também conhecimento do caso de um pároco, identificado como Peter H., que em 1980 foi transferido do bispado de Essen para Munique depois de ter sido acusado de ser pedófilo e que no seu novo lugar continuou a cometer abusos.

Hullermann foi condenado por molestar crianças com uma pena de prisão suspensa em 1986, mas mesmo assim continuou a trabalhar com crianças e tornou-se um exemplo de como a Igreja lidou com a situação dos abusos de menores. No referido ano Ratzinger já tinha sido transferido para o Vaticano e o papa emérito afirmou não saber da história deste padre.

Os advogados consideram a alegação de Ratzinger de que não estava presente na reunião em que a transferência foi decidida como “não credível”. Ulrich Wastl disse que cabia nas funções de Ratzinger “conhecer os acontecimentos” e que “muito provavelmente” ele sabia o que se passava.

Os autores do relatório lamentaram a ausência, na conferência de imprensa de apresentação do documento, do atual cardeal de Munique, Reinhard Marx, que em 2008 encomendou um relatório psiquiátrico sobre Peter H., embora não tenha aberto uma investigação interna.

Marx pediu no ano passado a sua demissão, rejeitada pelo Papa Francisco, como gesto de repúdio pelos abusos de menores cometidos na Igreja Católica.

Espera-se que o cardeal se pronuncie ainda esta quinta-feira sobre o conteúdo do relatório.

Um porta-voz de Bento XVI, o  seu antigo secretário, Georg Gaenswein, dissera já que o papa emérito “leva muito a sério os destinos das vítimas de abuso” e que estava totalmente “a favor da publicação do relatório de Munique”, para o qual respondeu a uma série de perguntas numa declaração com 82 páginas, de acordo com meios de comunicação social alemães.