Cerca de 600 milhões de africanos, quase metade da população do continente, vivem sem acesso à eletricidade e apenas quatro países africanos têm 100% de cobertura de energia elétrica, conclui um estudo esta quinta-feira divulgado.
Apresentado pela Fundação África Europa e pela Fundação Mo Ibrahim a propósito de um debate sobre energia e alterações climáticas que esta quinta-feira decorreu por teleconferência, o estudo conclui que apenas 54,7% dos 1,3 mil milhões de habitantes do continente africano tem acesso a eletricidade.
O número de pessoas sem eletricidade em África é 1,3% superior à população total da União Europeia, que tem cobertura total de energia elétrica, conclui o documento.
Segundo os autores do estudo apenas o Egito, as Maurícias, as Seicheles e a Tunísia têm uma cobertura total de energia, enquanto no Sudão do Sul, por exemplo, apenas 6,7% da população tem eletricidade.
Durante o debate desta quinta-feira, a representante especial do secretário-geral da ONU para a Energia Sustentável para Todos e copresidente da ONU-Energia, Damilola Ogunbiyi, sublinhou que cerca de 10 milhões de pessoas morrem todos os anos em África por causa da falta de eletricidade e mais de 4 milhões de mulheres morrem de problemas de saúde atribuíveis a poluição do ar interior por causa dos combustíveis que usam para cozinhar.
O estudo esta quinta-feira divulgado revela também que, embora África represente 17% da população global, apenas conta 3,4% do consumo global de energia, enquanto a União Europeia representa 5,8% da população mundial e 10,4% do consumo de energia.
Um cidadão na União Europeia consome em média nove vezes mais do que um habitante de África e a França e a Alemanha juntas consumiram mais energia em 2019 do que toda a população africana.
O mesmo estudo conclui que a proporção das emissões de dióxido de carbono de África (4,0% das emissões globais) é de menos de metade da proporção da sua população no mundo (17,0%), enquanto a proporção das emissões da UE (8,2%) supera largamente a da sua população no mundo.
Como disse no debate desta quinta-feira o copresidente do Grupo Estratégico da Fundação África-Europa para a Energia e diretor-geral da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO), Kandeh Yumkella, “mesmo que África desaparecesse, o problema do clima continuaria”.
Os autores do estudo acrescentam que os combustíveis fósseis ainda representam uma parte importante da produção de energia em África e na União Europeia, com o petróleo, o gás e o carvão a liderar os combustíveis comercializados para a produção de eletricidade em ambas as regiões.
Estes três combustíveis representam 91,5% da energia consumida em África e 73,4% da energia consumida na UE.
Embora o uso de combustíveis fósseis para produção de energia esteja a diminuir na Europa e a crescer em África, a União Europeia ainda consome mais do dobro da energia produzida a partir de combustíveis fósseis consumida em África.
Organizado pela Fundação África-Europa e pela Fundação Mo Ibrahim, o debate desta quinta-feira foi o primeiro de três que visam antecipar a cimeira União Africana (UA) —União Europeia (UE), prevista para fevereiro.
A cimeira de chefes de Estado e de Governo da UE e da UA, a sexta, inicialmente marcada para 2020, está agendada para fevereiro em Bruxelas, depois de sucessivos adiamentos devido à pandemia da Covid-19.