Foi uma manhã quente e fria para Catarina Martins: na feira de Espinho, onde arrancou a segunda semana de campanha, ouviu muitos gritos de apoio — incluindo feirantes que lançaram cânticos e gritos pelo nome da líder bloquista e elogios por ser uma “mulher rija” — mas também várias críticas de quem não percebeu a decisão do Bloco de chumbar o Orçamento.
Enquanto passava, dois pensionistas discutiam:
— Se ela tivesse assinado o Orçamento era melhor, eu recebia mais dez euros!
— E para que é que eu quero dez euros?
— Eu queria!
Uns metros à frente, uma mulher revoltava-se e criticava os detalhes do processo orçamental: “Estou muito zangada consigo, vimos para estas eleições sem necessidade nenhuma! Sabe que quem vai ganhar é a abstenção e quem vai subir é o traste do André Ventura. Isto tem algum jeito… É uma irresponsabilidade e uma falta de bom senso”. Mais baixinho, outra mulher deixava um recado à líder do Bloco: “Vocês entregaram isto à direita… Estou muito desiludida”.
Por entre uma discussão com um homem que se queixava da falta de apoios para o filho deficiente — um problema, assegurava Catarina, das respostas curtas asseguradas pelo Governo PS — e um diálogo aceso com dois lesados do BES — a quem Mariana Mortágua, ao lado de Catarina, assegurava que “não há outro partido que faça tanto pelos lesados desde o início — a líder do Bloco lá chegou ao fim da feira para falar aos jornalistas.
Foi então que começou por garantir: “Ouço as perguntas que as pessoas fazem e sinto a sua revolta”. Mas virou-se para o que ontem, num comício em Lisboa, definia como “os esquecidos do PS”: “Muitas pessoas estão revoltadas porque o que lhes foi prometido não aconteceu. Sentem-se esquecidas”.
A ideia era a ponte para repetir o mantra do Bloco nestas eleições. “É por isso tão importante que estas eleições sejam para desbloquear soluções. As pessoas queixam-se da situação de estagnação que o PS propunha. Esta revolta é preciso ouvi-la, porque as pessoas têm razão, sim. Temos de ter a responsabilidade de construir soluções”.
Foi depois de apontar ao PS por não ter querido negociar soluções com o Bloco e à direita por querer “privatizar a Segurança Social e a Saúde” que perante a insistência dos jornalistas sobre a revolta de quem tinha apontado culpas diretamente ao Bloco respondeu: “Percebo que as pessoas estejam revoltadas. Eu preferia que tivessem existido soluções, claro que sim. Lutámos por elas todos os dias. Ouviram-nos dizer ao longo de dois anos que era preciso um contrato que desse estabilidade ao país. Percebo tão bem a revolta de quem se sentiu abandonado. Digo só que não se enganem: a direita que aparece com sorrisos nesta campanha não tem falado do seu programa porque só tem mais dificuldades para acrescentar”.
Quanto a Costa, que ontem dizia “não receber lições de Catarina Martins” e sugeria à líder bloquista que pedisse desculpas ao país por ter chumbado os últimos Orçamentos, recusou responder na mesma moeda: “Se esta campanha for respostas mais ou menos vazias ou provocações uns aos outros, não tem nenhum interesse. O que tem interesse é construirmos soluções. Diga-se o que se disser na campanha, o que vale são os votos. A nossa responsabilidade é criar maiorias que afastem a direita e criem um Governo com estabilidade”.