O pediatra Jorge Amil apelou esta quarta-feira às autoridades de saúde para reapreciarem a decisão de continuar a vacinar as crianças saudáveis contra a Covid-19, analisando a relação risco-benefício, perante a nova realidade determinada pela variante Ómicron.

“Num pico de infeções com esta dimensão poderá ser prudente reavaliar-se o prosseguir com a vacinação, se para além de eficaz, se será seguro, e não fica nada mal fazer esta reavaliação continuada”, disse à agência Lusa Jorge Amil, pediatra e presidente do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos.

Jorge Amil, é um dos 27 subscritores de uma carta aberta dirigida às autoridades de saúde, em que pedem a “suspensão cautelar” da vacinação contra a SARS-CoV-2 em crianças e jovens, “até que se comprove a sua necessidade, benefício e segurança”.

“É esse alerta e esse pedido de reapreciação da decisão à luz dos dados disponíveis que o grupo de médicos entendeu vir publicamente fazer um apelo às autoridades de saúde”, explicou Jorge Amil.

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Na carta aberta, signatários, entre os quais pediatras, cardiologista, internistas, infeciologistas, ressalvam que o apelo para suspender a vacinação diz respeito “à situação das crianças saudáveis e não se pretende qualquer extrapolação para adultos ou crianças com comorbilidades que acarretem risco acrescido de Covid-19”.

Jorge Amil afirmou que as autoridades de saúde ouviram em determinada altura “quem acharam que deviam ouvir” para formular uma recomendação do programa de vacinação de crianças, mas considerou ser necessário fazer “uma reflexão permanente em relação às decisões que se tomam, porque a ciência nunca foi imutável e menos ainda agora numa situação de grande evolução”.

Questionado sobre as razões deste apelo quando está a terminar a campanha da vacinação das crianças, explicou que a vacinação em curso “não tem o poder” de impedir a disseminação da doença pela nova variante, exemplificando que nas populações escolares “a difusão tem sido enorme”.

“O que se viu é que a vacina não impediu este enormíssimo número de testes positivos, embora o número de doentes por covid seja claramente diferente dos números globais de testes”, salientou.

Por isso, defendeu, “se os objetivos que tinham sido propostos e prometidos para fazer a vacinação, não estiverem a ser atingidos, talvez faça sentido rever novamente a segurança da vacinação, a eficácia da vacinação e reequacionar a decisão”.

Para os signatários da carta, “o mais preocupante” é a vacinação das crianças dos 5 aos 11 anos estar a decorrer em pleno pico pandémico, circunstâncias que não foram testadas nos ensaios clínicos de vacinas.

“A vacinação de crianças previamente infetadas por SARS-CoV-2, ou a sua infeção depois de vacinadas, num curto intervalo temporal, pode vir a traduzir-se num aumento da incidência de casos de miocardites, efeitos deletérios no sistema imunitário ou outras reações adversas, riscos potencialmente graves e eventualmente letais”, alertam.

Sublinham ainda que já foram notificadas ao Infarmed mais de uma centena de possíveis reações adversas graves, incluindo colapsos, miocardites/pericardites e morte, em crianças e jovens, pedindo uma investigação a estes casos ocorridos em Portugal depois de iniciadas as campanhas de vacinação nestes grupos etários.

A campanha de vacinação das crianças entre os 5 e os 11 anos arrancou nos dias 18 e 19 de dezembro de 2021, prosseguindo entre os dias 6 e 9 de janeiro. De 5 de fevereiro a 13 de março, podem vacinar-se as crianças que ainda não foram imunizadas e serão administradas as segundas doses.

Segundo a Direção-Geral da Saúde, já foram vacinadas com a a primeira dose 301.000 crianças entre os cinco e os 11 anos.