Era uma visita marcada há meses e que não tinha como pretexto a escalada de tensão entre a Ucrânia e a Rússia — aliás, o tema nem teve grande preponderância durante o encontro. Esta quarta-feira, Jair Bolsonaro esteve reunido com Vladimir Putin e conseguiu sentar-se junto ao homólogo russo e até dar-lhe um aperto de mão. Mas, para que tal fosse possível, o Presidente brasileiro teve de se submeter a cinco testes PCR à Covid-19, informa a Folha de São Paulo.
Contrariamente ao Presidente francês e ao chanceler alemão, que não realizaram o despiste à doença por receio que o seu ADN fosse roubado, Jair Bolsonaro aceitou as exigências sanitárias russas e foi-lhe permitido estar próximo de Putin. Enquanto Emmanuel Macron e Olaf Scholz estiveram sentados numa mesa a seis metros de distância do Presidente russo, o chefe de Estado brasileiro, que não está vacinado, esteve frente a frente.
Durante o encontro, os dois líderes falaram sobre vários temas. Jair Bolsonaro demonstrou-se “muito feliz” pelo convite e destacou que os países têm “muito a colaborar em várias áreas”, desde a “defesa ao gás à agricultura”. “Tenho a certeza que esta passagem é o retrato para o mundo que nós podemos crescer muito com as nossas relações bilaterais”, afirmou o Presidente brasileiro.
Italiano construiu a mesa que separou Putin e Macron. Hoje custaria 100 mil euros
Vladimir Putin retribuiu os elogios, considerando o Brasil como o “principal parceiro comercial na região da América Latina”, sendo uma “alegria” receber, em Moscovo, Jair Bolsonaro. “Estamos a retomar as relações que foram interrompidas pela pandemia”, disse, indicando que os dois países trabalham “ativamente” nos fóruns internacionais.
Os dois Presidentes sublinharam que partilham “valores comuns”, como a “crença em Deus e a defesa da família”. Vladimir Putin apresentou também as suas condolências às dezenas de vítimas mortais que perderam a vida devido ao mau tempo em Petrópolis, ao passo que Bolsonaro aproveitou para “agradecer” ao homólogo russo o facto de defender a soberania brasileira na região da Amazónia.
Sobre a situação na Ucrânia, os dois chefes de Estado praticamente não falaram sobre o assunto. Jair Bolsonaro afirmou estar “solidário” com a Rússia, enquanto Vladimir Putin salientou que apoia a “diplomacia para resolver problemas” e criticou aquilo que caracteriza como o “isolacionismo norte-americano”.
No final do encontro — e tendo em conta as tensões entre os EUA e a Rússia —, Jair Bolsonaro decidiu demarcar-se do que tinha dito anteriormente, de forma a não criar hostilidades com Washington. Em comunicado, o chefe de Estado brasileiro esclareceu que o Brasil é “solidário” com “todos os países que querem e se empenham pela paz”. “O mundo é a nossa casa e Deus está acima de nós. Pregamos a paz e respeitamos todos aqueles que agem dessa maneira”, lê-se ainda.