Na noite de estreia da ópera “Pique Dame”, no teatro La Scala, em Milão, esta quarta-feira, ouviram-se apupos e até um “vá embora” vindos da plateia — apesar dos nove minutos de aplausos no final da composição, como relata o jornal italiano Corriere della Sera. É que a ópera de Tchaikovsky, em cartaz até 15 de março, é dirigida pelo maestro russo Valery Gergiev e a sua conhecida amizade e proximidade ao presidente da Rússia têm gerado algum desconforto, numa altura em que se vive um conflito entre a Ucrânia e a Rússia.
Horas depois do exército russo ter entrado na Ucrânia, na madrugada desta quinta-feira, o presidente de Milão Giuseppe Sala e a direção do teatro enviaram uma carta formal ao maestro russo a pedir que faça uma “declaração a favor de uma resolução pacífica do conflito“, uma vez que tem adotado “posições a favor de Vladimir Putin”. Caso contrário, será afastado.
Temos no La Scala [a ópera] “Pique Dame” dirigida pelo maestro Valery Gergiev, que declarou repetidamente que é próximo de Putin. Temos pedido que tome uma posição clara contra esta invasão e, se não o fizer, seremos obrigados a encerrar essa colaboração“, disse o presidente de Milão à agência Efe.
Foi a Confederazione Italiana Sindacati Lavoratori (CISL), uma associação sindical italiana, que primeiro levantou esta questão na véspera da estreia da ópera. “O grande maestro nunca perdeu uma oportunidade de reiterar sua proximidade e sua amizade com o presidente russo Vladimir Putin. Seria importante que Gergiev, um homem de cultura e, esperamos, um homem de paz, quisesse enviar uma mensagem de esperança e paz à Itália e ao mundo de um palco tão importante quanto o de o Teatro alla Scala”, escreveram numa nota citada pelo jornal Corriere della Sera.
Putin e o maestro Valery Gergiyev depois de um concerto da Orquestra do Teatro Mariinsky de São Petersburgo, para celebrar o dia da União Nacional da Rússia, a 4 de novembro de 2019 (Alexei NikolskyTASS via Getty Images)
O La Scala continua “a aguardar a resposta [de Valery Gergiev]” e, caso se recuse a fazê-lo, procurará um substituto para as próximas apresentações da referida ópera, de acordo com informações reveladas por fontes ligadas ao teatro à Efe. O diretor russo de 66 anos viajou para Nova Iorque esta quinta-feira para um concerto com a Filarmónica de Viena, mas deverá estar em Milão para a próxima exibição da ópera “Pique Dame” em 5 de março.
