A Agência Internacional de Energia Atómica confirmou esta terça-feira que os russos detêm o controlo de duas centrais nucleares na Ucrânia: depois de Chernobyl, as forças de Vladimir Putin conquistaram também o território à volta da central nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa e uma das maiores do mundo, responsável por quase metade da energia gerada na Ucrânia. Seis dos 15 reatores nucleares em funcionamento na Ucrânia ficam em Zaporíjia.
Nas declarações prestadas numa reunião à porta fechada da direção da agência, integrante da Organização das Nações Unidas (ONU), o diretor-geral, Rafael Mariano Grossi, revelou que a informação de que Zaporíjia tinha sido tomada pelos russos chegou na terça-feira. Um comunicado sobre o assunto já tinha sido publicado na manhã de quarta-feira, mas sem indicar quando é que as forças militares da Rússia tinham chegado à central nuclear.
O líder da Agência Internacional de Energia Atómica apontou que esta é a primeira vez que um conflito militar está a acontecer junto às instalações de um grande programa de energia nuclear estabelecido. E recordou que qualquer incidente com o material nuclear e radioativo “pode ter consequências graves, agravando o sofrimento humano e causando danos ambientais”. Os níveis de radiação em Chernobyl aumentaram ligeiramente, devido à maior movimentação das tropas, mas não são considerados ameaçadores nesta altura.
Para tentar travar o avanço sobre Zaporíjia, a população de Enerdogar tomou para fazer frente às forças russas. Há imagens a circular nas redes sociais que mostram pessoas reunidas na estrada para tentar impedir que as forças russas tomassem controlo sobre aquelas instalações nucleares.
This is how the city of Zhytomyr, #Ukraine, looks after an attack. It is located near the border with Belarus. It is highly possible that both troops and strikes came from the territory of my country, which Lukashenko allowed. pic.twitter.com/MqEzvaZPFN
— Hanna Liubakova (@HannaLiubakova) March 2, 2022
A reunião desta quarta-feira em Viena já estava agendada desde o início da semana, com o propósito de debater a “segurança, proteção e salvaguardas da situação na Ucrânia”. A Inspeção Estatal de Regulação Nuclear da Ucrânia continua a garantir que as centrais estão a funcionar com normalidade e que mantém contacto com todas elas.
Mas “não há nada de normal nas circunstâncias em que os profissionais das quatro centrais nucleares na Ucrânia estão a conseguir manter os reatores”, sublinhou Rafael Mariano Grossi nas primeiras declarações que prestou na reunião, em que também elogiou “as pessoas corajosas” que trabalham nas centrais nucleares e as mantêm operacionais.
Rafael Mariano Grossi repetiu que “qualquer ação militar ou outra que possa ameaçar a segurança ou proteção das centrais nucleares da Ucrânia deve ser evitada”. “Os funcionários devem ser capazes de cumprir as suas responsabilidades de segurança e proteção e ter capacidade para tomar decisões livremente e sem pressão”, refere o responsável da Agência Internacional de Energia Atómica.
De acordo com o Our World in Data, uma plataforma de tratamento de dados da Universidade de Oxford, quase 53% de toda a energia produzida na Ucrânia em 2020 tinha origem nuclear — a segunda maior percentagem de toda a Europa, a seguir a França, com mais de 69% em 2021. Mas a Ucrânia garante que a produção de eletricidade não está em xeque com o avanço russo.
No comunicado da última terça-feira, a Agência Internacional de Energia Atómica já mencionava uma aproximação das forças militares russas à central de Zaporíjia, que ainda estava no controlo ucraniano. Agora a central já foi tomada pelos russos, mas as informações publicadas esta manhã garantem que os níveis de radiação continuam estáveis e normais.