A Galp vai suspender novas compras de produtos de petróleo à Rússia o a companhias russas, na sequência dos atos de agressão da Rússia contra o povo ucraniano. A medida terá impacto financeiro na empresa e nas operações da única refinaria que a Galp opera, Sines, mas a presidente não executiva da empresa, Paula Amorim sublinha também:
“Este terrível ato de agressão da Rússia contra a Ucrânia viola em absoluto os valores que a Galp defende, como a Liberdade e os Direitos Humanos. Num contexto tão complexo e terrível, a nossa decisão é simples: a Galp não vai contribuir para financiar a guerra.”
Já o presidente executivo Andy Brown refere: “A invasão maciça da Ucrânia pela Rússia é um duro gole para o mundo livre. A nossa solidariedade vai para o povo ucraniano que está a sofrer esta agressão. Estamos a analisar formas de apoio da Galp aos esforços humanitários coletivos”.
Para além de ser o maior fornecedor de gasóleo à Europa, a Rússia é responsável por metade da produção mundial do gasóleo de vácuo (VGO siga inglesa para Vacuum Gas Oil), produto que é uma das matérias-primas utilizadas para a produção de gasóleo na refinaria de Sines. Esta refinaria foi alvo de um grande investimento há mais de dez anos que reconfigurou o aparelho industrial para produzir mais gasóleo e menos produtos de menor valor acrescentado (como o fuel ou o asfalto). Este investimento procurava reduzir as importações, mas a produção do diesel continuou a necessitar de importar outro produto, o tal VGO.
A Galp segue o caminho anunciado por ouras empresas do setor. A BP vai vender a posição na russa Rosneft e a Shell também indicou que ia cortar relações com o mercado russo. Em Portugal, a distribuidora de combustíveis Prio foi uma das primeiras a suspender aquisições russas.
O que é o VGO e porque é indispensável para produzir gasóleo
O gasóleo de vácuo é um produto intermédio produzido a partir da destilação do vácuo de resíduo atmosférico que, por sua vez, resulta da destilação atmosférica do petróleo quando este entra na refinaria. É este produto que é processado na unidade de hydrocracking instalada em Sines para produzir gasóleo. Todas as refinarias produzem VGO, incluindo a unidade de Matosinhos que fechou no ano passado. Com este encerramento, a Galp teve de recorrer mais à importação.
As importações são feitas pela Galp através do Porto de Sines através de contratos que não identificam quem é o vendedor. Sendo a Rússia, o maior fornecedor de gasóleo à Europa e um dos maiores produtores mundiais de VGO, uma parte do produto que chega a Sines terá origem neste país ou em empresa russas. Para impedir que isso aconteça, a Galp terá saber qual é a origem do diesel de vácuo, preocupação que não tinha no passado.
A Galp está à procura de fornecedores alternativos de VGO para manter operação na refinaria, mesmo com produção reduzida, e garante que está a trabalhar para assegurar que o mercado português é abastecido de diesel. O que pode implicar importar gasóleo já processado. A suspensão das compras russas ter, segundo a empresa, “impacto financeiro na refinaria de Sines e na sua contribuição financeira”, mas a Galp insiste que continuará a “assegurar o fornecimento de gás e de combustíveis ao mercado português”.
De acordo com dados da Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) para 2019 e 2020, a Rússia é longe a maior fornecedora a Portugal de produtos intermédios à indústria petrolífera, mas não tem vendas expressivas de produtos finais. Já no que toca a petróleo, e de acordo com o relatório e contas da Galp, os países da ex-União Soviética (a Rússia será o.mais importante) forneceram 7% das quantidades compradas em 2020,