A missão humanitária que partiu sexta-feira da Maia para resgatar 53 refugiados chega esta madrugada à Polónia com o corpo cansado mas de “alma cheia” e com “muita vontade de dar conforto e palavras de paz”.
Os quase três mil quilómetros que os integrantes daquela missão já fizeram até mais um momento de “reforço logístico dos operacionais em trânsito” para a fronteira entre a Ucrânia e a Polónia, também designado por paragem para jantar, afetaram o corpo mas não o ânimo: a vontade de chegar é muita.
Larysa Yurcheco, ucraniana, 45 anos, em Portugal há 25, é um das integrantes da comitiva, vai como tradutora na missão Sorrisos de Esperança.
“Estamos cada vez mais próximos. A ansiedade cresce por um lado e a calma por outro. Vou estar tão perto dos meus e não os vou poder abraçar”, disse.
Os pais e o irmão de Larysa optaram por ficar na Ucrânia. Aceitar a decisão não foi fácil para Larysa, que admitiu ter “chorado e gritado muito”, tendo acabado por se resignar: “Tenho que aceitar e tentar compreender. Não compreendo mas tenho que aceitar”, disse.
Esta imigrante ucraniana, que teve em Portugal os dois filhos, Yuri, já com 26 anos e Valéria, de 19, garante não querer voltar a viver na Ucrânia, admite que tem a vida em Portugal, mas sente saudades da terra natal.
“É o meu país. É muito triste assistir ao que se está a passar. O meu país está a ser destruído, a minha gente está a ser morta”, disse.
Nesta “paragem estratégica” para jantar, ainda na Alemanha, Larysa aproveita para beber mais um café. Já perdeu a conta aos que bebeu pela viagem. Desde que a missão saiu da Maia que os voluntários, elementos da autarquia, da Proteção Civil, um médico ucraniano e dois enfermeiros, se desdobram em telefonemas.
“É preciso contactar as pessoas que vamos trazer, ter a certeza que estão à hora certa no local de arranque do autocarro. Temos que ter tudo muito coordenado para não entrarem as pessoas erradas no nosso autocarro”, explicou à Lusa Paulo Gonçalves, um dos elementos da autarquia maiata.
No regresso, junto com os 18 voluntários, vem um autocarro com 53 pessoas: 3 homens, 26 mulheres e 24 crianças, lá, na fronteira, deixam um camião TIR carregado de medicamentos, alimentos e “muita esperança”.
Para as crianças que embarcarem, disse à Lusa Pedro Teixeira, da Proteção Civil da Maia, há desenhos à espera: “Trazemos desenhos e material para as distrair, para brincarem. São crianças e não podem esquecer que o são”, explicou.
Larysa fuma mais um cigarro. O rosto está tenso, o olhar fixo. “A nossa missão é de sorrisos, é levar esperança. Quero dizer aos meus compatriotas que vão para um país de paz, calmo, que podem estar tranquilos e dormir. Só não podem é perder a fé. Eu não a perdi”, disse.
Como acha que vai acabar? “Só com a vitória. Mais cedo ou mais tarde mas só com a vitória da Ucrânia”, a resposta sai rápido, mas pausada. Certa do que diz.
Faltam 575 quilómetros para Varsóvia.
“Hoje já dormimos numa cama”, sonha Pedro Teixeira.
A Rússia lançou a 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou pelo menos 564 mortos e mais de 982 feridos entre a população civil e provocou a fuga de cerca de 4,5 milhões de pessoas, entre as quais 2,5 milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas a Moscovo.