O Bloco de Esquerda quer “sensatez”, o PCP está “perplexo”. É assim que a esquerda está a mostrar a sua indignação em relação à autorização dada a Mário Machado, membro de organizações de extrema-direita e grupos neonazis, condenado no passado por crimes de ódio racial e atualmente arguido num novo processo, para deixar de se apresentar quinzenalmente numa esquadra para ir combater na Ucrânia.

Num comunicado enviado às redações este sábado, os comunistas dizem que a decisão adotada por um juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal “não pode deixar de ser olhada com perplexidade“. Por um lado porque, como escreve Diário de Notícias, o pedido formulado pelo militante de extrema-direita “não se restringe a supostas razões humanitárias“: no pedido submetido pelo advogado de Machado a 4 de março refere-se esse propósito, mas também, “se necessário, combater ao lado das tropas ucranianas”.

O PCP vem lembrar que Mário Machado é “conhecido pelo seu envolvimento e promoção de atividades criminosas e que estão na origem da sua condenação”. Mais: para os comunistas, que numa posição isolada em Portugal têm feito da existência de grupos nazis na Ucrânia — uma referência, por exemplo, ao batalhão Azov, formado por combatentes de extrema-direita, alguns neonazis, e integrado nas Forças Armadas ucranianas — um dos seus grandes argumentos de crítica ao regime de Volodymyr Zelensky, mais grave é Machado querer “juntar-se a forças fascizantes e nazis que combatem na Ucrânia, com as quais se identifica e integra”.

À boleia da decisão sobre a ida de Mário Machado para a Ucrânia, os comunistas aproveitam para referir que a ida de cidadãos portugueses por vontade própria para um conflito armado, sem o envolvimento do Estado, “não confere a estes a proteção que os mecanismos internacionais conferem a militares de países envolvidos”. Ou seja, neste contexto, estes cidadãos poderão “ser tratados como criminosos de delito comum“, argumenta o partido.

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Também o Bloco de Esquerda já se tinha mostrado indignado com a decisão do tribunal: no Twitter, a coordenadora do partido, Catarina Martins, tinha na sexta-feira à noite comentado a notícia primeiro avançada pelo Expresso, lembrando que “o Ministério Público pode recorrer”. “Esperamos que o faça. Há um país democrático que anseia por sensatez”.

Segundo o Diário de Notícias, será essa a intenção do Ministério Público, na tentativa de travar a ida de Machado para a Ucrânia. Na decisão do tribunal, pode ler-se que, apesar de ser arguido num processo de incitamento ao ódio racial e violência nas redes sociais e indiciado pela crime de posse de arma proibida, “a situação humanitária vivida na Ucrânia e as finalidades invocadas pelo arguido” justifica o levantamento da obrigação de Machado se apresentar numa esquadra.

Machado já tinha anunciado que se preparava para se juntar a uma milícia de extrema-direita, que não se tratará do batalhão Azov, com um grupo de oito nacionalistas portugueses. A partida estará marcada para este domingo.

Machado esteve ligado a diversas organizações de extrema-direita, como o Movimento de Ação Nacional, a Irmandade Ariana e o Portugal Hammerskins, a ramificação portuguesa da Hammerskin Nation, um dos principais grupos neonazis e supremacistas brancos dos Estados Unidos da América. Fundou também os movimentos Frente Nacional e Nova Ordem Social (NOS). O seu registo criminal é marcado por um longo rol de condenações, incluindo pelo envolvimento na morte do português de origem cabo-verdiana Alcino Monteiro na noite de 10 de junho de 1995, além de condenações por crimes de discriminação racial, ofensa à integridade física qualificada, difamação, ameaça e coação a uma procuradora da República e posse de arma de fogo.