“Estou envergonhado, peço desculpa. Sejam corajosos. Vocês estão numa situação difícil, a situação de ir contra o vosso próprio comandante, mas isto que está a acontecer é genocídio. A Rússia não pode vencer aqui, mesmo que se vá até ao fim. Podemos invadir o território mas não podemos invadir as pessoas. Só espero sinceramente que sejam misericordiosos para com as pessoas que venham ter convosco com as mãos no ar, ou para com aqueles que estão feridos. Não devemos semear a morte, é melhor semear a vida.”

Comandante russo capturado pede perdão e apela à rebelião das forças russas: “Isto é genocídio”

Há duas semanas, Astakhov Dmitry Mikhailovich, da unidade de resposta rápida da Guarda Nacional russa, foi um dos três elementos das Forças Armadas capturados pelos ucranianos que participou numa conferência organizada pela agência Unian onde contou a verdade que entretanto descobriu. E foi também aí que falou da importância de dois desportistas para começar a ter uma perceção diferente das coisas. “Sempre gostei de os ver lutar, são os meus pugilistas favoritos. Quando os vi pegar em armas e dizer que não tinham outra hipótese, foi quando tive vergonha de ter vindo à Ucrânia”. Falava de Oleksandr Usyk, medalha de ouro olímpico e atual campeão unificado de pesos pesados que detém três dos quatro títulos reconhecidos, e de Vasiliy Lomachenko. E o último voltou a ter uma ação que traduz bem a convicção dessa decisão.

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O pugilista de 34 anos também conhecido como The Matrix conseguiu ainda sair da Ucrânia depois da invasão russa, foi para a Grécia mas decidiu voltar para o seu país e para Odesa para proteger a família e juntar-se ao exército, como mostrou numa imagem publicada nas redes sociais. Lomachenko, que depois de uma lesão complicada em 2020 voltou com dois triunfos, é bicampeão olímpico (2008 e 2012), bicampeão mundial (2009 e 2011) e campeão europeu (2008), entre vários outros títulos no mundo do boxe. Que, para já, não terão mais qualquer acrescento. Apenas e só por vontade própria e enquanto a guerra durar.

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O promotor Bob Arum anunciou no início da semana que tinha contactado o governo ucraniano para que desse autorização para Loma, como também é conhecido, ser dispensado de combater com o exército do país para poder participar num combate com George Kambosos por três títulos mundiais de pesos leves. Falou primeiro com o ministro da Cultura da Ucrânia, que deu parecer positivo, e o próprio gabinete do líder Zelensky olhou para o cenário como uma boa possibilidade de passar de forma mediática uma mensagem da causa ucraniana. No plano desportivo, o cenário era aquele que Lomachenko mais ambicionava agora.

Estava tudo a preparar-se para o combate mas, esta terça-feira, o promotor Lou Di Bella assumiu que não haverá combate por decisão do atleta ucraniano. “Falei com o Egis Klimas, o seu manager, e confirmou-me que Lomachenko não está disponível para um combate com George Kamboso. Quando tivemos depois das conversas mantidas o consentimento por parte do governo ucraniano, não recolhemos da parte dele uma resposta afirmativa e tínhamos o pressentimento que podia não haver combate. O Egis confirmou-nos que ele vai ficar na Ucrânia e como tal é inviável. Acreditamos que a luta que está a travar é muito maior do que o boxe e todos os nossos pensamentos e orações estão com ele, com a sua família e com o povo ucraniano”, comentou em declarações onde confirmou uma notícia avançada pela Boxing Scene.

“Respeito a tua decisão, percebo perfeitamente e rezo por ti e pelo teu país. Por favor, mantém-te seguro e depois de limpar o chão com o Devin [Haney, o substituto do ucraniano] vamos fazer um combate entre dois verdadeiros campeões. Que Deus te abençoe”, escreveu o australiano George Kambosos no Twitter.