A guerra na Ucrânia entra este sábado no 31.º dia de conflito armado, num dia em que grande parte das atenções estavam centradas na Polónia. Foi lá que esteve Joe Biden, que discursou sobre a guerra, e foi lá que decorre uma reunião bilateral entre ministros ucranianos e norte-americanos.
No plano militar, a Rússia continua a controlar partes do território ucraniano, sobretudo na faixa fronteiriça com o seu próprio território, nas regiões norte, leste e sul da Ucrânia. Várias cidades importantes, incluindo Kharkiv, Chernihiv e Mariupol, continuam cercadas pelas forças russas. O território sob controlo russo não tem aumentado consideravelmente — um vez que, para limitar as suas próprias baixas, os russos têm preferido continuar os bombardeamentos à distância.
Este foi também em que a Rússia intensificou ofensivas contra a região ocidental da Ucrânia, onde não tem concentrado grande parte dos seus esforços militares. Dois edifícios estratégicos de Lviv — um dos quais utilizado para armazenamento de combustível, outro utilizado pela Defesa e forças armadas da Ucrânia — foram atacados este sábado, havendo também relatos de explosões em Volyn.
Quer Lviv quer Volyn ficam perto da fronteira com a Polónia e muito distantes da capital Kiev e das cidades a sul e no leste do país, onde se têm travado os principais combates.
Aqui fica um ponto de situação para compreender o que aconteceu nas últimas horas. Pode também seguir os desenvolvimentos, minuto a minuto, no liveblog do Observador, que estão também a ser contados pelos enviados especiais do Observador à Ucrânia, Pedro Jorge Castro e João Porfírio.
O que aconteceu durante a tarde e o início da noite
As forças russas atacaram Lviv com mísseis e rockets. Foi o primeiro grande ataque à cidade desde o início da guerra. Lviv fica na região ocidental da Ucrânia, a apenas 70 quilómetros da fronteira com a Polónia (país membro da NATO) e a milhares de quilómetros de distância das localidades em que as forças russas têm concentrado os principais ataques. Por estar distante de Kiev e da zona oriental do país, tem sido considerada uma zona mais segura, recebendo milhares de refugiados — em alguns casos em trânsito para a Polónia, noutros casos apenas devido à segurança acrescida nesta zona ocidental do país.
Nestes ataques russos a Lviv, não houve vítimas mortais — embora cinco pessoas tenham ficado com ferimentos. Os alvos atingidos foram um edifício de armazenamento de combustível e uma instalação das forças de Defesa da Ucrânia. Os rockets que atingiram Lviv terão sido disparados a partir da Crimeia, região anexada pela Rússia em 2014, indicou o presidente da câmara municipal de Lviv, Andriy Sadovyi.
Ataques a Lviv não causaram mortes. Rockets terão sido disparados a partir da Crimeira
Em Kiev foi cancelado o recolher obrigatório que estava previsto para todo o dia de este domingo. Os horários em que não é possível estar na rua continuam assim a manter-se: entre as 20h e as 7h.
O Presidente dos EUA, Joe Biden, discursou este sábado em Varsóvia. Num discurso em que alertou que a guerra “não será vencida em dias, nem sequer em meses” e em que deixou um aviso à Rússia — “nem pensem em avançar e entrar num centímetro que seja do território da NATO” —, Biden sugeriu que é preciso depor Vladimir Putin da presidência da Rússia: “Por amor de Deus, este homem não pode continuar no poder“.
A sugestão de Biden de que Putin “não pode” continuar como Presidente da Rússia mereceu uma resposta do Kremlin. O porta-voz do regime russo Dmitry Peskov apontou: “Isso é algo que não cabe ao Senhor Biden decidir. Deve ser apenas resultado da escolha das pessoas da Federação Russa”. Também um porta-voz da Casa Branca comentou a declaração, corrigindo-a e tentando clarificá-la: “O ponto do Presidente [Biden] era que Putin não pode ter permissão para exercer o seu poder nos países vizinhos ou na região. Ele não estava a discutir o poder de Putin na Rússia, ou uma mudança de regime”.
O discurso em que Biden pediu o fim de Putin: da viagem ao passado soviético até à frase polémica
Em Kherson, cidade ocupada pelas forças russas, já deixou de ser possível sintonizar estações de rádio ucranianas. Neste momento só é possível ouvir estações de rádio russas (que transmitem informação alinhada com o discurso oficial do Kremlin), avançou o portal de notícias Ukrayinska Pravda.
Novos bombardeamentos russos a Kharkiv atingiram um “nuclear research reactor”, um tipo de pequeno reator nuclear que se distingue dos mais tradicionais por ser utilizado para produzir neutrões, em vez de ser usado para gerar eletricidade. A informação foi avançada pelo jornal ucraniano The Kyiv Independent. O reator estaria no Instituto de Física e Tecnologia de Kharkiv, atacado pela Força Aérea russa, e ainda não foi possível avaliar os danos exatos provocados devido a “bombardeamentos constantes” no local.
A ONU atualizou o número de refugiados provocados pela guerra na Ucrânia. Os números mais recentes apontam agora para 3,77 milhões de refugiados desde o início da invasão russa. Ao todo, mais de dez milhões de pessoas já tiveram de abandonar as suas casas na Ucrânia – num país que tinha cerca de 44 milhões de habitantes no início da guerra.
As autoridades ucranianas conseguiram retirar este sábado de cidades em conflito — e onde a situação humanitária é mais grave — perto de cinco mil pessoas (5.208), em corredores humanitários acordados entre a Ucrânia e a Rússia. Destas, 4.331 foram retiradas de Mariupol, onde vivem ainda quase 100 mil civis e onde se travam confrontos violentos. Houve porém relatos das autoridades ucranianas de que não foi possível retirar civis de Chernigiv, cidade a 120 quilómetros de distância de Kiev que está sitiada por forças russas.
Em Varsóvia, onde discursou este sábado ao final da tarde (hora portuguesa), o presidente dos EUA Joe Biden elogiou o acolhimento de refugiados ucranianos pela Polónia mas acrescentou que a responsabilidade “não deve ser apenas da Polónia, mas de toda a NATO”. E lembrou uma medida já anunciada: “Acreditamos que os EUA devem fazer a sua parte também na Ucrânia, abrindo as nossas fronteiras a mais 100 mil pessoas”. Chamou também “carniceiro” a Putin, ao que o Kremlin respondeu: o insulto “diminui as perspetivas de remediar os lanços entre os dois países”.
O Papa Francisco condenou este sábado, no Vaticano, a guerra na Ucrânia — que descreveu como “vergonhosa para todos nós, para toda a Humanidade”. É preciso que “termine quanto antes” porque “cada dia que passa é inaceitável, a cada dia há mais mortes e destruição”, acrescentou o Papa.
O que aconteceu durante a manhã
Dois ministros ucranianos (Negócios Estrangeiros e Defesa) estiveram este sábado reunidos em Varsóvia, Polónia, com os seus homólogos norte-americanos (secretários de Estado e da Defesa).
Ainda na sua viagem ao continente europeu (com passagens pelas cimeiras de Bruxelas e pelas guarnições norte-americanas na Polónia), Joe Biden reuniu-se com o Presidente polaco em Varsóvia. Biden lamentou não poder ter cruzado a fronteira para a Ucrânia, para ver com os seus olhos a situação no país;
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, discursou no Doha Forum, onde pediu ao Qatar, um dos maiores produtores de gás natural do mundo, que aumente a produção de energia para que a Rússia perceba que “ninguém pode usar a energia como arma para chantagear o mundo”;
Volyn, perto da Polónia, atacada com quatro mísseis. Rússia terá usado fósforo branco em Avdiivka
O presidente da câmara de Mariupol, cidade cercada e destruída pelos russos há várias semanas, discutiu com o embaixador francês na Ucrânia planos para evacuar a cidade. Emmanuel Macron deverá negociar com Putin a criação de um corredor específico para retirar de Mariupol as cerca de 100 mil pessoas que ainda lá estão;
A Procuradoria-Geral ucraniana disse que a invasão russa já matou pelo menos 136 crianças e deixou 199 feridas. Trata-se de um número superior ao confirmado, para já, pela ONU, que fala em 93 crianças mortas;
Vladimir Putin assinou uma lei para alargar o estatuto de veterano de guerra aos soldados que estão a participar naquilo a que a Rússia chama “operação militar especial” (proibindo mesmo a designação “guerra”) na Ucrânia;
O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, foi visto a discursar em público pela primeira vez após duas semanas afastado do espaço público (o que levantou suspeitas sobre o seu estado de saúde e sobre potenciais desentendimentos no Kremlin);
O Ministério da Defesa do Reino Unido acredita que a Rússia continuará a bombardear indiscriminadamente zonas urbanas na Ucrânia, em vez de se envolver em confrontos de infantaria, para desmoralizar a defesa ucraniana e para limitar as suas próprias perdas.