“Estamos a lidar com um Estado que transformou o veto no Conselho de Segurança no direito de morrer.” As palavra são do Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que esta terça-feira falou ao Conselho de Segurança da ONU. A mensagem, repleta de descrições sangrentas de ataques russos a civis, terminou com um apelo: tirem o poder de veto à Rússia.

“Podem fazer duas coisas: retirar a Rússia, como agressor e fonte de guerra, para que não possa bloquear decisões sobre a sua própria agressão, a sua própria guerra”, defendeu o chefe de Estado ucraniano. A outra opção, disse, seria a ONU “dissolver-se por completo, desistirem”.

Zelensky deixou críticas às Nações Unidas pela ineficácia que têm demonstrado a travar a ofensiva russa, e defendeu que, se assim continuar, a ONU deixa de ter utilidade. “Se isto continuar, os países só vão poder contar com o poder das suas armas para garantir a sua segurança, e não com a lei internacional, não com as instituições internacionais. As Nações Unidas podem simplesmente fechar. Senhoras e senhores, estão prontos a encerrar a ONU? Acham que o tempo do direito internacional acabou? Se a vossa resposta for ‘não’ têm de agir imediatamente. O sistema da ONU tem de ser reformado imediatamente, de modo a que o poder de veto não seja um direito a morrer”, afirmou.

Em concreto, o Presidente ucraniano propôs uma conferência global, em Kiev, para debater a “ reforma do sistema de segurança do mundo”.

Grande parte do discurso de Zelensky foi centrado nos ataques contra civis, pegando, em concreto, no caso de Bucha. “Ontem regressei da cidade de Bucha, não longe de Kiev. Não há um único crime que não tenham cometido lá. O exército russo procurou e matou propositadamente qualquer pessoa que tenha servido o nosso país. Mataram mulheres no exterior das suas casas, que tentavam chamar por alguém que estivesse vivo. Mataram famílias inteiras, adultos e crianças, e tentaram queimar os corpos”, disse.

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Foi uma ideia que o Presidente ucraniano repetiu várias vezes, e não poupou nas descrições: “Alguns [civis] foram mortos na rua, outros atirados para poços onde morreram em sofrimento. Alguns foram mortos nos seus apartamentos, com granadas que explodiram. Civis foram esmagados por tanques quando estavam nos seus carros, no meio da rua. Cortaram membros, rasgaram gargantas, as mulheres foram violadas e mortas em frente aos seus filhos. Cortaram-lhes a língua, só porque o agressor não ouviu o que queria.”

Zelensky comparou este comportamento ao de grupos extremistas como o Estado Islâmico .“Não é diferente do de outros grupos terroristas como o Daesh, mas aqui é feito por um membro do Conselho de Segurança”, criticou, lançado a farpa à audiência.

O chefe de Estado ucraniano garantiu ainda que Bucha não é um caso isolado, com cenários semelhantes a repetirem-se noutras cidades do país, ocupadas pelas forças russas. “O massacre na nossa cidade de Bucha é apenas um de muitos exemplos do que os ocupadores têm feito na nossa terra nos últimos 41 dias. Mariupol, Kharkiv, Chernobyl… dezenas de outras comunidades ucranianas, todas são semelhantes a Bucha”, afirmou.

Posto isto, Zelensky defendeu que qualquer pessoa que deu “ordens criminosas e as implementou” deve ser levada a tribunal, num julgamento “semelhante ao de Nuremberga”.