Na noite de 14 para 15 de abril de 1912, o RMS Titanic não resistiu ao embate num iceberg. Nos momentos seguintes, na luta pela sobrevivência estavam também cães, enrolados em mantas ou escondidos na roupa dos donos, que procuravam um bilhete de ida para terra firme.
O “navio inafundável”, além dos 892 membros da tripulação e 2.435 passageiros a bordo, transportava igualmente 12 cães, pássaros, galos e galinhas. Historiadores acreditam, contudo, que poderiam existir mais, já que os animais de estimação eram considerados como carga nos registos e muitos dos detalhes foram perdidos no naufrágio.
Naquela época, levar animais para viagens era um luxo a que só os passageiros de primeira classe tinham direito. No navio existia até um canil e planos para a realização de uma exposição, que nunca chegou a acontecer.
A Junta Comercial britânica contabilizou 1.514 mortos após um dos maiores desastres marítimos em tempo de paz do mundo. Dos cães, só três sobreviveram: dois da raça pomerânia e um pequinês.
A pomerânia Lady conseguiu lugar com a sua dona, a passageira Margaret Hays, num bote salva-vidas. Myra e Henry S. Harper também conseguiram levar o seu pequinês, Sun Yat Sen, para dentro de um desses barcos. De acordo com J. Joseph Edgette, historiador na Universidade de Widener, o senhor Harper terá dito: “Parecia haver muito espaço, e ninguém fez nenhuma objeção”, citado pelo American Kennel Club.
A mesma sorte não teve Ann Elizabeth Isham, que visitava todos os dias o seu dogue alemão no canil. A mulher de 50 anos terá conseguido um lugar num dos botes mas não havia espaço para o cão que era demasiado grande. Ann preferiu abandonar a sua hipótese de salvação: deixou o seu lugar livre no barco e o seu corpo, com os braços à volta do animal, foi encontrado dias depois no oceano, conta o jornal espanhol La Vanguardia.
O terceiro (e último) cão que não se afogou nas águas geladas foi outro pomerânia pertencente a Elizabeth Barrett Rothschild. Escondeu-o até chegar ao RMS Carpathia, cuja tripulação teve de vencer a apreensão inicial em levar o animal. Já o seu marido acabou por morrer.
Os cães que sobreviveram tinham caraterísticas em comum: eram de porte pequeno, ao ponto de, no meio da aflição, os viajantes não se aperceberem que os animais também estavam à procura de lugar nos barcos salva-vidas. Provavelmente enrolados em mantas ou escondidos entre as peças de vestuário, lá conseguiram entrar. Outro fator decisivo foi estes cães não estarem no canil, mas sim nos quartos com os donos.
Sobre a identidade de outros cães, sabe-se de um cavalier king charles spaniel e de um airedale terrier, ambos propriedade dos filhos de William Carter, um empresário do carvão de Filadélfia (EUA). O milionário John Jacob Astor perdeu a sua airedale terrier, a Kitty, no desastre marítimo e Helen Bishop deixou ficar para trás o seu poodle chamado Frou-Frou.
Um passageiro, o qual o La Vanguardia identifica como John Jacob Astor, quando soube da tragédia, foi imediatamente socorrer a Kitty e decidiu libertar todos os cães do canil, o que provocou um maior caos na embarcação.
Não só cães estavam em alto mar. Com o objetivo de matar ratos e ratazanas, o RMS Titanic tinha uma gata, a Jenny. A nova iorquina Elsla Holmes White traria consigo quatro galos e outro passageiro não identificado, entre as suas mercadorias, teria 30 galinhas. Se sobreviveram ou não, é uma incógnita devido à escassez de registos.