O cardeal patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, manifestou nesta quinta-feira o compromisso da Igreja em pedir perdão às vítimas de abuso sexual no seu seio.

Na Missa Crismal, em Lisboa, Manuel Clemente afirmou que os membros do clero estão “muito especialmente atentos” à questão da “proteção de menores no espaço eclesial”.

“Aqui estamos, com plena consciência e compromisso, para reconhecer e corrigir erros passados, pedir perdão por eles e prevenir convenientemente o futuro”, disse o cardeal, na Sé de Lisboa, dois dias depois de a comissão independente criada em janeiro para investigar abusos sexuais na Igreja Católica portuguesa ter revelado que já recebeu 290 testemunhos válidos de vítimas e 16 casos já foram remetidos ao Ministério Público.

Na ocasião, o coordenador da comissão, Pedro Strecht, afirmou que os primeiros meses de trabalho permitiram já confirmar que “houve, no passado, múltiplos casos de abuso sexual” e destacou a posição de fragilidade das vítimas que as levou, na maioria dos casos, a não denunciar atempadamente os crimes.

Quanto aos agressores, a comissão não apontou números concretos, mas admitiu que a maioria dos abusos foi cometida por pessoas diretamente ligadas à Igreja Católica. Por outro lado, Pedro Strecht reconheceu que já foi possível identificar situações de ocultação ou encobrimento, incluindo por parte de bispos que continuam no ativo.

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Na missa de hoje, o cardeal patriarca abordou também o conflito na Ucrânia, para sublinhar que “não têm faltado exemplos de grande solidariedade, acolhimento de quem chega e ajuda a quem permanece na sua terra devastada”.

“Continuaremos disponíveis e próximos, colaborando com as entidades oficiais e participando em iniciativas seguras, especialmente no âmbito da Cáritas Portuguesa e da nossa Cáritas Diocesana, para maximizar os recursos”, afirmou o prelado.

Manuel Clemente aproveitou o momento, ainda, para referir que se chega “a esta Semana Santa em condições muito especiais e exigentes, a sair cautelosamente de uma pandemia que deixará sequelas, tanto pela saudade dos que partiram como em quem mais sofreu com o isolamento e outros condicionalismos graves, especialmente os mais novos ou os mais idosos e sós”.

“Mas saímos também com a gratidão devida a quantos, no setor público, privado ou social, tanto fizeram para responder às necessidades que surgiram. Foi realmente muito o que se fez e grande a solidariedade demonstrada”, frisou, deixando uma palavra de gratidão para com “tudo quanto foi feito pelas comunidades cristãs e os seus pastores, conseguindo superar com empenho e criatividade os limites do isolamento e das restrições sanitárias”.