São 44 segundos de vídeo. Até à madrugada de domingo, não se encontra imagem alguma de Alice, como a que está a ser partilhada na internet, e nenhum vídeo igual ao que corre nas várias redes sociais tem data anterior a 17 de abril. Chegou à imprensa ucraniana, como o Jornal de Odessa, numa altura em que é muito difícil verificar a veracidade dos vídeos que tantos ucranianos como russos depositam na internet.
São 44 segundos de vídeo. Alice — Alicia, na pronúncia ucraniana — tem 4 anos e vive, praticamente desde o início da guerra, nos canais subterrâneos do complexo industrial de Azovstal, o último reduto da resistência ucraniana e que na manhã de segunda-feira foi, de novo, bombardeada.
— Como é que te chamas?
— Alice.
— O que é que queres dizer?
— Quero ser retirada.
— Onde é que estás agora?
— Aqui, aqui… No bunker.
— Gostas de estar aqui?
— Quero ir para casa.
— E a quem queres dizer olá?
— À avó Sveta.
[O vídeo foi partilhado no Youtube pelo site noticioso MNews]
O vídeo começou por ser partilhado na rede Telegram por um militar do Batalhão Azov, fundado por neonazis. Maxim Zhorin é um dos comandantes do grupo, que se encontra refugiado em Azovstal, apesar do ultimato russo, feito no sábado aos combatentes ucranianos: “Rendam-se ou morram.”
“Esta menina Alice está nos porões de Azovstal, onde a sua mãe — uma médica militar — presta assistência 24 horas por dia aos defensores feridos de Mariupol. Além dela, há centenas de civis nos porões, onde encontraram o único abrigo possível perto dos militares”, escreve Maxim Zhorin.
“Os russos estão constantemente a bombardear Azovstal. Bombas pesadas são lançadas sobre o edifício. Centenas de vidas, incluindo a de crianças, estão em grande perigo”, acrescenta o militar, que termina dizendo que há muitas crianças afetadas como Alice. “Sem vídeo, sem fotos, sem palavras — são apenas estatísticas. Olhe para esta menina e perceba — isso é realidade.”
A publicação no Telegram
Homem mais rico da Ucrânia promete ajudar a reconstruir Mariupol
Esta segunda-feira, o Grupo de Direitos Humanos da Crimeia denunciou a situação de centenas de crianças, levadas contra a sua vontade da cidade portuária cercada pelos russos.
“O exército russo retirou à força cerca de 150 crianças de Mariupol e transportou-as em direção a Donetsk ocupada”, denunciou Olha Skrypnyk, diretora da organização não-governamental. Segundo Petro Andriushchenko, conselheiro do autarca, a maioria das crianças foi retirada de hospitais e de um centro de saúde sem os pais. As crianças frisou não são órfãs: “Foram sequestradas.”
