A ONU admitiu esta sexta-feira que as ações da Rússia na Ucrânia “podem constituir” crimes de guerra, de acordo com informações avançadas pela Agence France-Presse. E detalha a razão das suspeitas: as Forças Armadas russas bombardearam e atacaram “indiscriminadamente” zonas habitadas, “matando civis e destruindo hospitais, escolas e outras infraestruturas civis”.
“São ações que podem constituir crimes de guerra”, reconheceu a porta-voz do gabinete do Alto Comissariado dos Direitos Humanos da ONU, Ravina Shamdasani, citada pela mesma agência.
Quanto aos detalhes que já pôde testemunhar no terreno, a ONU descreve o cenário como “uma história de terror de violações contra civis”. Segundo o relato da comissária de direitos humanos da ONU, Michelle Bachelet, citada pelo The Guardian, “quase todos os residentes de Bucha” têm uma história a contar sobre a morte de alguém conhecido”. A mesma responsável assegurou: “Sabemos que Bucha não é um incidente isolado”.
A missão da ONU já recebeu queixas de mais de 300 supostas mortes de civis que violam a lei, nas regiões de Kiev, Chernihiv, Kharkiv e Sumy. Mas entre as queixas incluem-se “cada vez mais” acusações de violência sexual.
Nas declarações citadas pelo Guardian, a responsável da ONU diz que o trabalho feito até agora expõe uma “história de terror de violações contra civis”, entre mortes deliberadas, violência sexual e tortura de prisioneiros.
A informação surge na mesma altura em que a missão da ONU enviada a Bucha, a cidade em que a Ucrânia diz ter havido um “massacre” infligido pelos russos, perto de Kiev, diz ter provas de que 50 civis foram mortos lá, incluindo através de “execuções sumárias”.
Já na quinta-feira a Human Rights Watch tinha divulgado um relatório sobre a situação em Bucha, em que fala de “um rol de aparentes crimes de guerra” durante a ocupação da cidade.
Human Rights Watch encontra “extensas provas” de crimes de guerra em Bucha
O secretário-geral da ONU, António Guterres, tinha expressado o seu choque com as imagens que chegaram de Bucha no início do mês, depois de as forças russas terem abandonado a cidade e deixado atrás de si um rasto de destruição.
“Estou profundamente chocado com as imagens de civis mortos em Bucha”, podia ler-se num comunicado enviado, na altura, por Guterres. No mesmo texto, o antigo primeiro-ministro português dizia ser “essencial” conduzir uma investigação independente para “responsabilizar efetivamente” os culpados.
Já Michelle Bachelet, a alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, disse estar horrorizada com as imagens e começou por admitir, também em comunicado, que as informações que chegavam da Ucrânia provocavam “sérias e perturbadoras dúvidas sobre possíveis crimes de guerra, assim como graves violações do direito humanitário internacional”.
Era vital, por isso, investigar a situação de forma independente e preservar as provas do “massacre” de Bucha, defendeu. A ONU explicava, no início do mês, que está a acompanhar a guerra na Ucrânia através da Missão de Monitorização de Direitos Humanos, que está a documentar o “impacto das hostilidades” e as vítimas civis, numa investigação paralela à do Tribunal Penal Internacional.
Em simultâneo, a União Europeia e a Ucrânia também estão a conduzir investigações sobre o assunto.
No início de abril, quando surgiram as primeiras imagens de Bucha, os representantes da ONU no local asseguraram estar a tentar visitar os locais em que se suspeita que possam ter ocorrido crimes de guerra. Agora, a ONU vem assim admitir que há mesmo hipóteses reais de terem acontecido e sido cometidos pela Rússia.
Massacre de Bucha. O que se sabe, o que falta saber e os próximos passos da investigação