A mulher do fundador da Wikileaks apelou ao Governo britânico para que não assinasse a ordem de extradição de Julian Assange para Stella Assange defende que o futuro do marido está dependente de uma “decisão política” e sensibilizou Downing Street para que não dê o passo que levará que Assange seja julgado por alegados crimes de espionagem.

Na passada quarta-feira, o poder judicial britânico deu formalmente “luz verde” para que o australiano de 50 anos fosse entregue aos Estados Unidos, que abriu um processo judicial contra Assange ao abrigo da legislação anti-espionagem, mas cabe à secretária britânica para os Assuntos Internos, Priti Patel, assinar uma ordem de extradição.

“Temos quatro semanas para fazer chegar a Priti Patel as nossas observações, antes de ela tomar a sua decisão. Se ela assinar a ordem (…) podemos recorrer das questões substantivas que ainda não foram objeto de recurso, como a liberdade de imprensa ou a motivação política da acusação”, afirmou em declarações à agência France Presse Stella Assange, à margem de uma manifestação de apoio ao seu marido em Bruxelas.

“Os fundamentos de recurso no Reino Unido são muito limitados, uma vez que o tratado de extradição é fortemente inclinado a favor dos Estados Unidos, sem permitir que as alegações norte-americanas sejam examinadas (…). Iremos até ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos se for necessário”, acrescentou.

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“Este é um problema europeu: o coração dos valores democráticos está em jogo; o que for decidido terá repercussões para todos, para os jornalistas, por toda a Europa”, disse ainda Stella Assange, considerando que se está a abrir uma “janela de oportunidade” para sensibilizar as opiniões e para fazer “argumentos políticos” em Londres.

Os Estados Unidos querem julgar o fundador da WikiLeaks pela divulgação, a partir de 2010, de documentos classificados sobre atividades militares e diplomáticas norte-americanas, particularmente no Iraque e no Afeganistão. Assange enfrenta a possibilidade de ser condenado a 175 anos de prisão.

Julian Assange foi detido em 2019 após ter passado mais de sete anos como refugiado na embaixada do Equador em Londres. Desde então, tem estado detido numa prisão de alta segurança perto de Londres, onde se casou no mês passado com Stella Morris, sul-africana, sua ex-advogada.

Para Stella Assange, o destino do seu marido depende “inteiramente da política”. Preocupada em não contrariar Washington, Londres “contentou-se em dizer até agora que estava a deixar que os tribunais decidissem. Agora que os tribunais confirmaram a ordem de extradição, não há desculpa: o governo britânico deve decidir por si próprio nas próximas semanas se Julian será extraditado”, disse a mulher de Assange.

“O governo britânico está numa posição em que condena os crimes de guerra na Ucrânia e terá de mostrar se está preparado para extraditar um jornalista por ter exposto crimes de guerra”, observou.