Como sempre acontece em marcas novas, estreantes na produção de veículos, para mais em fábricas que ainda não estão optimizadas e dependendo de fornecedores com os quais não existe relação anterior, a Lucid atravessa um período difícil. O arranque da produção do seu primeiro veículo, a berlina eléctrica Air que anuncia mais de 1000 cv e mais de 800 km de autonomia, está a enfrentar maiores dificuldades do que os mais optimistas esperariam. É isto que tem motivado semanas de trabalho com o dobro das horas e até ter de recorrer à Amazon para receber peças que faltam para completar os Air.

Não há arranques fáceis numa fábrica que produza em série, especialmente quando em causa está um veículo que pretende ser grande, complexo, potente e luxuoso. A tudo isto há que juntar a inexperiência a produzir automóveis da Lucid Motors que, para mais, tem entre mãos uma fábrica construída de raiz no Arizona. As primeiras unidades começaram a sair da linha de montagem em Outubro, mas o fabricante gerido por Peter Rawlinson, ex-técnico da Tesla, tem sentido grandes dificuldades em incrementar o ritmo de produção.

Estas dificuldades eram de esperar – basta recordar o que aconteceu com o início da Tesla – e segundo as declarações de alguns funcionários à Business Insider, os problemas têm vindo a acumular-se. Afirmam eles que os Air estão a sair da linha de montagem apenas 80% finalizados, com os restantes trabalhos a serem completados fora da linha, para garantir que tudo fica perfeito, como é exigível num veículo que pretende ser de luxo.

Lucid entregou os primeiros Air. Concorrentes que se cuidem

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Rawlinson sabe que não há segunda oportunidade para causar uma primeira boa impressão, pelo que tem preferido reduzir o ritmo de produção a ter carros com defeitos entregues a clientes, pois liquidaria a imagem que pretende associar aos veículos da Lucid Motors. Mas os problemas não desaparecem como que por magia e, curiosamente, não é a falta de chips, de motores ou de baterias que está a atrasar a fabricação.

Mais do que as grandes peças e as mais caras, são os pormenores que estão a faltar na fábrica de Casa Grande, Arizona. De acordo com os trabalhadores, não há tapetes, vidros ou certas peças para os acabamentos e até peças menores em plásticos, adesivos e botões têm de ser encomendados através da Amazon. Alguns dos funcionários dos escritórios na Califórnia já foram deslocados para ajudar na linha de produção do Arizona, existindo departamentos com pessoal a trabalhar 100 horas por semana – mais do dobro do que é normal.

Face a esta situação, a Lucid já começou a fazer marcha-atrás nas previsões de produção, que já falharam os objectivos no final de 2021 e continuaram com grande desvio no 1º trimestre de 2022, numa fábrica que tinha anunciado uma capacidade de produção de 400.000 unidades/ano, quando atingisse a velocidade de cruzeiro.

De momento, após o relatório divulgado pelo construtor no final de Fevereiro de 2022, sabe-se apenas que produziram 125 unidades do Air em 2021 e mais cerca de 300 nos dois primeiros meses de 2022. O objectivo para a produção do Lucid Air durante os 12 meses de 2022 caiu agora para apenas 12.000 a 14.000 unidades. Este reajustamento teria sido bem mais fácil de executar caso Peter Rawlinson não tivesse sido tão acutilante nas suas críticas à concorrência, quando ainda estava longe de tentar fabricar a primeira unidade da sua berlina. Veja aqui a reportagem da CNBC sobre a fábrica: