O Delphi Economic Forum (DEF) aborda anualmente as novidades no mundo financeiro e tenta prever os desafios que os mercados enfrentarão nos próximos meses ou anos. Este ano, o evento focou-se no conceito de transição, assente em sete grandes áreas: a Segurança Mundial, a Economia global, o Futuro da UE, a Emergência Climática, as Mudanças Tecnológicas e a Transformação Económica.

Para quem não conhece, o DEF é uma organização não lucrativa que tem como objetivo promover ideias na área da sustentabilidade e crescimento, nomeadamente em continente europeu. Todos os anos reúnem-se na Grécia os maiores líderes mundiais  — seja a nível político, de negócios, académico ou outras áreas relevantes em cada ano que façam avançar a discussão.

Este ano, focados no conceito de transição, foi abordado o conceito de inovação tecnológica e como esta — nomeadamente ao longo dos últimos anos — foi importante para abrir mundos a novos conceitos, seja de trabalho ou de consumo. Mas nem tudo na inovação são “vias rápidas”. Há entraves que se colocam, e a adoção nem sempre é tão rápida quanto nos parece. Neste âmbito, destacaram-se duas abordagens: o papel dos governos na integração e a importância de ver as coisas em perspetiva.

A desigualdade tecnológica

Com uma carreira de 16 anos ligado ao Governo Francês e à Comissão Europeia, Gregoire Verdeaux assumiu o cargo de Vice-Presidente de External Affairs da Philip Morris há cerca de dois anos. Com experiência quer na transição para energias renováveis, quer na implementação da rede 5G, hoje Gregoire não tem dúvidas de que “entender a desigualdade no acesso à tecnologia é crucial para se formarem políticas sociais que têm na sua génese o que realmente interessa — o comportamento humano”.

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Para Gregoire, as diferenças no acesso à inovação continuam a ser um “assunto completamente subestimado pela maioria dos governos”. “As pessoas que normalmente têm sentimentos de descrença ou insatisfação estão, regra geral, excluídas de qualquer camada de inovação de que possamos falar”, explica. Segundo o mesmo, “é hoje claro que quem beneficia da inovação é um grupo restrito de pessoas e, para ser honesto, hoje em dia é sempre o mesmo”. “No fim de contas, continuamos a olhar para o jardim inteiro, mas a regar sempre as mesmas plantas”, conclui.

Contudo, este é um tema que, segundo o VP da Philip Morris, tem solução. E essa solução passa por cooperação. Para Gregoire, a inovação “não pode continuar a ser regulada pela ‘mão invisível do mercado’”, mas sim “orientada por políticas governamentais, feitas através de diálogo entre os Governos e a Indústria, porque é a Indústria quem patrocina a inovação, para decidirmos um rumo em comum e como podemos chegar mais além”.

Gregoire analisa depois o caso da Philip Morris que, para o próprio, “foi sem dúvida a empresa da Fortune500 que mais transformou o seu negócio nos últimos anos”, dando “alternativas menos prejudiciais aos fumadores”. O exemplo da cooperação governativa em liderar a inovação é, para Gregoire, exemplificado nas diferenças entre Reino Unido e França. “Há 15 anos o Reino Unido e a França tinham mais ou menos o mesmo número de fumadores – cerca de 30% da população”, contextualizou Gregoire, que continua ao anunciar que “hoje a França desceu 5 pontos nessa percentagem, enquanto que o Reino Unido desceu 20”. A grande diferença? Gregoire conta que “o governo britânico escolheu a rota dos cigarros eletrónicos, que, desde que usados corretamente, são menos prejudiciais, estando inclusivamente a recomendá-los através do serviço nacional de saúde em algumas zonas onde a prevalência de cigarros tradicionais é ainda elevada”. “É melhor oferecer melhores alternativas aos fumadores a deixar tudo na mesma”, conclui.

Um futuro sem fumo

Jacek Olczak, CEO da Philip Morris, assume que a visão da Philip Morris é a de “um futuro sem fumo”. “Gostava de estar aqui, daqui a 10 anos, e dizer que a categoria dos cigarros tradicionais já não existe no mercado e também acho que nós vamos conseguir fazê-lo”, anunciou. Jacek explicou que, para a Philip Morris, esta foi uma missão que começou em 2015 e “demorou algum tempo até encontrar a tecnologia certa para oferecer o mesmo prazer do tabaco tradicional, mas com menos elementos nocivos”.

Para Jacek, numa categoria de consumo como a da Philip Morris o grande problema está na polarização. “O objetivo na cabeça de todas as pessoas devia ser como ajudamos os fumadores e não colocar a questão como ‘nós’ vs ‘eles’”, diz o CEO, para quem os estudos atuais são claros. “Não podemos olhar para a ciência como religião, não temos de pensar se acreditamos; a ciência são 2+2, portanto não temos de acreditar que a resposta é 4, porque é 4 de qualquer das formas”, compara Jacek, que explica também que “quando temos um produto que retira 95% dos efeitos nocivos de fumar, esse produto efetivamente contribuiu para resolver os problemas associados ao tabaco tradicional”. “Podemos tentar contestar a ciência tanto quanto quisermos, o problema é só que estamos a perder tempo valioso”, conclui o CEO da Philip Morris.

No mesmo sentido, Jacek explica que a questão atual é apenas de perspetiva. “Estamos há anos a dizer às pessoas que devem deixar de fumar, mas sabemos de facto que a maioria das pessoas não o faz — portanto, o que fazemos nós?”, pergunta, continuando: “Tentamos minimizar o impacto desse hábito ou continuamos com a mesma estratégia que não funciona?”. Para Jacek, há falta de “um objetivo comum entre indústria e governos”. “Se todas as partes se sentarem à mesma mesa e quiserem encontrar uma solução para um problema, conseguimos encontrar essa solução”, concluiu.