O Presidente da Ucrânia alertou, esta terça-feira, que o “objetivo final” de Vladimir Putin passa por “desmembrar o Centro e o Leste da Europa”, o que seria um “golpe global à democracia”. Perante este cenário, Volodymyr Zelensky considera que o “mundo livre tem direito a autodefender-se” e a ajuda à Ucrânia deve ser intensificada.

No habitual discurso diário ao país, o chefe de Estado ucraniano defendeu que já “não há quase pessoas no mundo livre que acreditem que a guerra contra a Ucrânia seja apenas o início”. Sublinhando que o Ocidente está a isolar a Rússia com novos pacotes de sanções que estão a ser preparados, Zelensky não tem dúvidas que “chegará o tempo em que a Rússia terá de reconhecer que a paz é necessária”.

Passados 36 anos desde a explosão nuclear de Chernobyl, o Presidente ucraniano fez questão de lembrar a ocupação das forças russas no início à invasão. “Este ano, a Rússia criou novas ameaças que podia ultrapassar até o pior acidente”, disse, recordando a noite de 4 de março, em que as tropas de Moscovo ocuparam a central nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa.

“Quando os tanques russos dispararam [em Zaporíjia] , sabiam exatamente qual era o alvo. Mas eles tinham a ordem de destruir tudo a qualquer custo”, lembrou, acrescentando que as forças da Rússia “não queriam saber de nada”. Naquela noite, o Presidente da Ucrânia falou “com os líderes mundiais. Com todos aqueles que pudessem parar a Rússia. Falei com o Presidente Biden, com o chanceler Scholz e com o Presidente da Polónia”. “Se o mundo não tivesse acordado naquela noite, nós não mencionaríamos Chernobyl, porque todos estaríamos a pensar naquilo que a Rússia fez à central nuclear de Zaporíjia.”

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Denunciando que a Rússia lançou, esta terça-feira, três mísseis contra a Ucrânia, Volodymyr Zelensky indicou que voaram sob três centrais nucleares: “Sob Zaporíjia, Khmelnytskyi e outra central nuclear no sul da Ucrânia”. “O que é isto? Eles estão a ameaçaram-nos?”, indignou-se, atirando que “não há palavras” para descrever esta atitude.

Ainda sobre Chernobyl, o Presidente ucraniano ficou incrédulo pelos russos “não saberem” no que consistiu. “As tropas russas que estavam a tentar atacar Kiev através da zona de Chernobyl usaram a área restrita como base militar”, denunciou, detalhando que as forças da Rússia estabeleceram “posições” em zonas em que tal é “proibido”. “Eles conduziram os seus veículos blindados por áreas em que os materiais contaminados por radiação estão enterrados e onde o número de partículas radioativas é enorme.” 

“Destruíram os postos de controlo. O sistema de monitorização de radiação de Chernobyl foi partido e roubado. Eles saquearam um laboratório analítico nuclear”, acusou ainda o Chefe de Estado ucraniano, que revelou ainda que as forças russas “roubaram objetos contaminados”.

Sobre a visita do diretor-geral da Agência Internacional da Energia Atómica — Rafael Grossi — a Kiev, o Presidente ucraniano disse ter respondido com o responsável “os perigos criados pela Rússia” e como será “possível influenciar a situação para proteger a Europa e o mundo das ações completamente irresponsáveis da Federação Russa”.

Anunciando que condecorou os trabalhadores de Chernobyl que não saíram da central nucleares, Volodymyr Zelensky aproveitou ainda para agradecer o trabalho destes “heróis”.