A carta que o presidente da Câmara de Setúbal enviou ao primeiro-ministro levou a uma troca de argumentos entre os dois responsáveis políticos. Tudo começou quando André Martins garantiu ter enviado, esta sexta-feira ao final da manhã, uma carta a António Costa a relatar que havia refugiados ucranianos ser recebidos na autarquia por russos pró-Putin, nomeadamente Igor Khashin, da associação Edintsvo, e da mulher, Yulia Khashin, funcionária do município, que terão, alegadamente, fotocopiado documentos de identificação dos refugiados ucranianos.

Ao início da tarde, o gabinete do primeiro-ministro desmentiu a versão de André Martins, alegando que a carta era um “protesto” às declarações prestadas pela embaixadora da Ucrânia em Lisboa”. Já ao final da tarde, o município sadino disse não comentar “a troca de correspondência oficial”.

Na carta enviada ao primeiro-ministro, a que a Agência Lusa teve acesso, o presidente da Câmara de Setúbal, apelava a António Costa para clarificar as reais intenções e a veracidade das afirmações da embaixadora da Ucrânia numa entrevista à CNN Portugal, em que a diplomata revelou que já tinha tido uma conversa com a secretária de Estado da Igualdade e das Migrações, Sara Guerreiro, sobre o envolvimento de associações pró-russas no apoio a refugiados ucranianos, dando como o exemplo a associação Edinstvo, “chefiada por Igor Khashin, um cidadão russo”.

Na missiva, o autarca setubalense recorda que a embaixadora da Ucrânia, Inna Ohnivets, afirmou que a secretária de Estado da Igualdade e das Migrações terá concordado com a necessidade de se resolver o problema. André Martins lembra ainda que Inna Ohnivets defendeu a necessidade de se excluírem associações pró-russas do apoio aos refugiados ucranianos.

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O autarca setubalense reconhece também que a Edinstvo tem um protocolo de colaboração com a Câmara Municipal de Setúbal desde 2005 e que “tem colaborado com a autarquia no acolhimento e apoio a cidadãos de vários países de leste, entre os quais a Ucrânia, sempre com a máxima diligência e discrição no tratamento de todos os processos”, e apela ao primeiro-ministro para que clarifique a situação com a máxima urgência.

“Apelamos, pois, com toda a veemência, que o senhor primeiro-ministro clarifique, com a máxima urgência, com a senhora embaixadora as reais intenções do que foi afirmado, assim como a veracidade das afirmações da diplomata no que respeita à conversa que terá mantido com a senhora secretária de Estado da Igualdade e das Migrações”, lê-se na carta enviada ao primeiro-ministro.

Na missiva, André Martins diz também que “importa saber se o Governo considera aceitável este tipo de ingerências de uma representante de um país estrangeiro e que, para cúmulo, as torne públicas, transmitindo a ideia de que o Estado português está disponível para, acriticamente, acolher tais ingerências”.

Na carta ao primeiro-ministro, o presidente da Câmara de Setúbal considera ainda que “a insinuação [da embaixadora da Ucrânia] de a Câmara Municipal de Setúbal, por via da sua cooperação com a Edinstvo, estar a cooperar num suposto, e completamente absurdo, fornecimento de informações sobre cidadãos ucranianos refugiados no nosso país à embaixada russa”, constitui uma “insinuação indigna”, que é “rejeitada com veemência” pelo município sadino.

Fonte da Câmara de Setúbal disse à agência Lusa que até esta sexta-feira a autarquia sadina não recebeu qualquer resposta à carta enviada ao primeiro-ministro.