Aumenta a pressão política sobre a Câmara de Setúbal, Governo e Presidente da República. À direita e à esquerda, exigem-se esclarecimentos sobre a intervenção da autarquia comunista no acolhimento de refugiados ucranianos, o Governo é chamado a dar explicações e há ainda quem peça a intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa e do Ministério Público.
O PSD e a Iniciativa Liberal querem ouvir no Parlamento o presidente da Câmara Municipal de Setúbal depois de virem a público notícias de que há cidadãos russos pró-Kremlin a acolher refugiados em Setúbal, a fotocopiar documentos e a recolher informações sobre os familiares que ficaram na Ucrânia a combater contra as forças russas. O Bloco exige respostas de Ana Catarina Mendes, ministra com a tutela, e o Chega já veio pedir a intervenção de António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa.
Entretanto, a secretária de Estado da Igualdade e Migrações, Sara Guerreiro, já reagiu, garantindo ter pedido com “carácter de urgência” ao Alto Comissariado para as Migrações “todas as informações e esclarecimentos” sobre o caso — secretaria que está sob a tutela, precisamente, de Ana Catarina Mendes. Entretanto, a autarquia de Setúbal pediu a investigação ao Ministério da Administração Interna e afastou a técnica superior de acolhimento a refugiados.
Já na manhã desta sexta-feira, o PSD/Setúbal tinha dito que está a ponderar pedir ao Ministério da Administração Interna uma investigação às alegações de que existem cidadãos russos com ligações ao regime de Moscovo a trabalhar no processo de acolhimento de refugiados ucranianos em Portugal, concretamente depois de o Expresso ter noticiado o caso.
A informação foi avançada à Rádio Observador por Fernando Negrão, vereador do PSD na câmara de Setúbal. “Devemos estar preocupados, principalmente porque pode estar aqui a longa mão dos serviços secretos russos, mais conhecidos por KGB, a funcionar em Portugal, designadamente em Setúbal”, disse Negrão.
“Se isto se confirmar, porque não está confirmado, é um problema de Estado da maior gravidade, que exige uma investigação aprofundada e minuciosa relativamente ao que está a acontecer.”
Na edição desta sexta-feira, o semanário Expresso noticia que existem cidadãos russos a trabalhar numa linha de atendimento a refugiados ucranianos criada pela Câmara Municipal de Setúbal (CDU), incluindo Igor Khashin, uma das principais figuras da comunidade russa em Portugal, e a sua mulher, Yulia Khashina, funcionária da autarquia.
De acordo com o Expresso, Khashin é próximo da embaixada da Rússia em Portugal, já liderou a Casa da Rússia e o Conselho de Coordenação dos Compatriotas Russos e esteve envolvido em várias iniciativas da representação diplomática russa em Portugal. Além disso, Khashin também apoiou publicamente o atual presidente da câmara de Setúbal, o comunista André Martins, na sua campanha eleitoral.
Khashin tem igualmente ligações às organizações Ruskyi Mir e Rossotrudnichestvo, ferramentas de propaganda russa em todo o mundo, que operam na chamada “guerra híbrida” de informação lançada pela Rússia. Entretanto, várias destas referências às ligações de Khashin à embaixada russa foram apagadas da internet, diz o Expresso.
Igor Khashin já tinha sido referido pela embaixadora da Ucrânia, Inna Ohnivets, numa entrevista à CNN em que denunciava uma teia de influência de associações pró-russas, próximas do Kremlin, que estarão a colaborar no processo de acolhimento de refugiados ucranianos em Portugal.
Segundo o Expresso, que falou com uma mulher ucraniana que passou pela experiência do acolhimento em Setúbal, os refugiados têm sido acolhidos por Yulia Khashina e Igor Khashin. Além das informações normais, os russos pediram também informações mais detalhadas sobre a família e fotocopiaram o passaporte e a certidão de nascimento dos seus filhos.
“Perguntaram-me onde estava o meu marido e o que tinha ficado a fazer“, disse ao Expresso a testemunha, que confirmou que os documentos fotocopiados pelos russos incluíam também os dados específicos do marido — que ficou na Ucrânia, como está a acontecer com a maioria dos homens em idade adulta, forçados a prestar serviço nas forças armadas ao abrigo da lei marcial imposta desde o início da invasão.
Para os responsáveis do PSD/Setúbal ouvidos pela Rádio Observador, a presença de figuras ligadas à embaixada da Rússia — sobretudo tendo em conta que Igor Khashin não é funcionário da autarquia — é um sinal preocupante de possível interferência de Moscovo em Portugal.
“Não tivemos ainda nenhum contacto com estes refugiados, porque a câmara sempre disse que esta situação seria mais da responsabilidade de terceiros do que da câmara municipal. Isso tem afastado o assunto da discussão nas reuniões de câmara. Os dados que são agora dados a conhecer levam-nos a concluir que afinal a câmara pode ter uma intervenção muito superior àquilo que dizia”, disse Fernando Negrão.
“Podem estar em causa duas situações. De facto, um problema de má comunicação. Ou um outro problema muito mais grave, que é de apurar os homens destas famílias, onde estão, quem são e se estão a trabalhar, designadamente nas forças armadas ucranianas, e a fazer o quê.”
“Esta identificação destas pessoas é perigosíssima, uma vez que leva a que os serviços de informação russos, ou outros serviços de outra natureza, identifiquem militares ou cidadãos ucranianos que estejam a lutar contra a invasão da Rússia”, acrescentou o vereador social-democrata.
Negrão sublinhou que “é normal pedir documentos a refugiados”, mas “não é normal pedir a identificação de toda a família, designadamente dos membros que não vieram para Portugal”.
“Isso, naturalmente, merece preocupação e merece uma investigação muito minuciosa daquilo que se está a passar na Câmara Municipal de Setúbal. A bem do nome da própria Câmara Municipal de Setúbal”, acrescentou, salientando que é necessário também perceber quem é Igor Khashin, que tem “um percurso mal explicado“.
“Terá trabalho aqui ou ali, ninguém explica o vínculo, ninguém explica o que é que andou a fazer, ninguém explica quem é o personagem. Há aqui um défice de informação por parte da própria câmara municipal. Estamos, de facto, perante um caso que pode envolver serviços de informação”, diz Negrão.
O vereador social-democrata explica que o PSD “tomará posição” durante esta sexta-feira e acrescenta que a proposta dos sociais-democratas será, provavelmente, a de pedir uma investigação formal ao assunto.
“A autoridade mais indicada passa não só por uma questão ligada ao Ministério da Administração Interna, mas também sabermos o que é que os nossos serviços de informação andam a fazer. Têm dados ou não têm dados? Embora esta obviamente seja uma questão confidencial, os nossos serviços de informação têm uma palavra a dizer nesta área”, diz.
Também o líder distrital do PSD em Setúbal, Paulo Ribeiro, diz à Rádio Observador que o partido viu “com estupefação” a notícia e considera que o caso mostra “mais uma vez o Partido Comunista ao serviço dos interesses da Rússia, o que é, no mínimo, vergonhoso“.
“A câmara nunca chamou ucranianos para ajudar, só russos”
À Rádio Observador, Valleri Radetchuk, familiar de uma refugiada ucraniana que chegou recentemente a Portugal e foi acolhida nestes moldes na câmara de Setúbal, disse ter conhecimento de “muitas pessoas” em situações semelhantes. “A câmara municipal nunca chamou ucranianos para ajudar [no acolhimento a ucranianos], só russos“, disse Radetchuk. “Não percebo.”
Já Pavlo Sadhoka, presidente da associação dos ucranianos em Portugal, diz que a “situação não é nova” e que o Alto Comissariado das Migrações já foi alertado para a existência de organizações de russos ou de ucranianos pró-russos em Portugal que agora estão a ajudar refugiados ucranianos.
“Existem organizações de russos ou pró-russos em Portugal, que o ACM reconhece como ucranianos. Estas organizações não têm ligações com a embaixada ucraniana, não trabalham com a comunidade ucraniana, mas apresentam-se como ucranianas”, diz à Rádio Observador. “Nós alertamos que isso não pode ser.”
“Agora quando começou esta fase mais grave da agressão russa contra a Ucrânia, no dia 24 de fevereiro deste ano, alertámos o ACM outra vez que estas organizações que sempre foram claras a apoiar a política de Putin agora estão a receber refugiados ucranianos que fogem da agressão russa. Tivemos um encontro com a alta-comissária, ela disse que vai tentar fazer alguma coisa.”
“Começámos a receber alertas da nossa comunidade, de vários pontos do país, não só de Setúbal, mas de vários pontos do país, de organizações que ainda antes de 24 de fevereiro sempre eram evidentes pró-russos, de repente mudaram de bandeira e começaram a receber refugiados da Ucrânia. Para nós, esta situação é muito grave”, acrescentou Sadhoka.
“Estas organizações pró-russas, que têm ligação direta com a embaixada russa, podem ser fontes de recolha de informação estratégica e até vital. Imagine que uma mulher vai dizer onde luta o marido dela, ou o irmão dela, lá na Ucrânia. Há uma informação muito estratégica e importante que a Rússia está a tentar recolher”, diz o responsável.
PSD pede “clareza” ao primeiro-ministro e chama presidente da câmara de Setúbal à AR
O deputado Ricardo Batista Leite, vice-presidente da bancada do parlamentar do PSD, falou esta sexta-feira no Parlamento sobre o assunto, afirmando que o partido “repudia absolutamente e considera absolutamente inaceitável” a notícia de que há refugiados a serem recebidos em Setúbal por pró-russos.
O deputado anunciou que será feito um pedido de audição ao presidente da Câmara Municipal de Setúbal numa audição conjunta entre a Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias e Comissão dos Negócios estrangeiros, sublinhando ser ainda importante ouvir a embaixadora da Ucrânia em Portugal.
O PSD “exige que seja interrompida quaisquer atividades desta natureza” e realça que irá pedir uma pergunta ao primeiro-ministro sobre o caso. “O primeiro-ministro tem de dizer de uma vez por todas se mantém confiança nestas associações que têm alegados agentes pró-russos”, notou o deputado, realçando que “não pode haver falta de clareza”.
Já Rui Rio, defendeu que deve ser esclarecida a situação do acolhimento aos refugiados russos na Câmara Municipal de Setúbal, mas preferiu ser prudente e não recorrer já à palavra investigação. Questionado pelos jornalistas no parlamento, Rio disse querer ter “alguma prudência”.
“Aquilo lá está obriga a que se esclareça, não vou dizer investigue, que é uma suspeita brutal. Se realmente havia alguém ligado ao regime russo a questionar ucranianos sobre eles e, principalmente, aos familiares que lá ficaram, isso seria insustentável”, considerou.
“Foi assim, não foi assim, isso tem de ser esclarecido, ainda não ia para a palavra investigar”, acrescentou Rio.
Chega recorda Medina e exigem intervenção de Costa e Marcelo
Bruno Nunes, deputado do Chega, aproveitou esta sexta-feira o caso de Setúbal para recordar o episódio que acabou por manchar a reta final do mandato de Fernando Medina, quando o Observador e o Expresso revelaram que havia dados de manifestantes anti-Putin às autoridades russas.
“Não é primeira vez que acontece em Portugal, já tinha acontecido com o atual ministro das Finanças”, recuperou Bruno Nunes.
O deputado do Chega exige agora uma palavra de António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa e ainda a intervenção do Ministério Público.
Já este sábado, André Ventura apelou também ao Ministério Público para que investigue “se há uma estratégia do PCP de condicionar o esforço de acolhimento” de refugiados ucranianos em Portugal ou “de ligação ao regime de Vladimir Putin”.
“Custa-me dizer isto, mas deve ter-se especial atenção nas autarquias comunistas, não por qualquer diferença com o Chega, mas porque sabemos que o PCP tem sido especialmente próximo, direta ou indiretamente, do regime russo”, disse o líder do Chega.
Em declarações aos jornalistas, André Ventura sustentou que a investigação deve perceber se o caso da autarquia de Setúbal é “isolado” ou “se há uma estratégia do PCP de condicionar os esforços de acolhimento de ucranianos em Portugal”. “Sendo eu jurista, diria que, face às sanções impostas pela União Europeia, isso seria criminoso”, afirmou.
IL chama presidente da câmara de Setúbal ao Parlamento
Joana Cordeiro, deputada da Iniciativa Liberal, anunciou esta sexta-feira que o partido vai chamar o presidente da Câmara Municipal de Setúbal à comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias no âmbito da notícia de que ucranianos estão a ser recebidos por elementos pró-russos quando chegam a Setúbal.
Além do autarca, a IL pretende ainda que o presidente da Associação de Ucranianos em Portugal também seja ouvido.
A IL mostra “preocupação” pelo acolhimento a ucranianos feito na câmara Setúbal, dizendo tratar-se de algo “extremamente grave”. “É uma situação extremamente vergonhosa para Portugal, é inadmissível”, alertou a deputada liberal, frisando que é preciso perceber se “PCP está a favor da paz ou da guerra”.
PCP diz que acolhimento é feito com “critérios de integração”
Numa curta resposta enviada à agência Lusa, o PCP defendeu que o trabalho desenvolvido com imigrantes no município de Setúbal, liderado por um autarca eleito pela CDU, “caracteriza-se por critérios de integração”, rejeitando exclusões ou “sentimentos xenófobos” no acolhimento a refugiados.
O PCP refere que “o trabalho com imigrantes que há muito se desenvolve no município de Setúbal caracteriza-se por critérios de integração e amizade entre os povos onde não prevalecem nem exclusões nem sentimentos xenófobos”.
O partido argumenta que num momento em que “se impõe um reforço do apoio aos refugiados, em particular aos ucranianos, esta conceção humanista é ainda mais importante”.
Mais tarde, nesta sexta-feira, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, defendeu que a primeira questão que se coloca no caso do acolhimento de refugiados pela câmara municipal de Setúbal é saber se “é um caso único”
Questionado pelos jornalistas no parlamento, Jerónimo de Sousa disse que, tanto quanto sabe, existe “um conjunto de câmaras que naturalmente são solidárias com os imigrantes, com os refugiados, sempre, mas sempre solidários com essas situações”.
O secretário-geral comunista defendeu que “a primeira pergunta que se coloca é de facto se isto é um caso único ou se existe uma generalidade de associações que são solidárias com os imigrantes”, após questionado se o PCP vai acompanhar os pedidos de audição no parlamento do presidente da Câmara de Setúbal anunciados por quase todos os partidos.
“Portanto não percebemos o enfoque em relação à câmara” de Setúbal, acrescentou.
Questionado se este caso é uma questão sensível, dado que os Ucrânia e Rússia estão em guerra, o secretário-geral do PCP referiu que “aquela associação, aqueles que lá estão associados convivem bem uns com os outros”, ressalvando no entanto não ter “informações precisas”.
Já se esta situação pode prejudicar o PCP, Jerónimo disse desconfiar que “esse é o objetivo”. E acrescenta: “Mas que não é verdade, tendo em conta que existe por parte de diversas instituições essa solidariedade com aqueles que vêm para o nosso país”, defendeu.
Já se o Governo deverá esclarecer a situação, Jerónimo de Sousa disse que “sim, convém esse esclarecimento” e conclui: “Mas eu acho que é possível esclarecer”, afirmou o secretário-geral comunista.
Bloco pressiona Governo a esclarecer situação de Setúbal
Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do Bloco de Esquerda, exige que o Governo esclareça se sabia que há refugiados ucranianos a serem recebidos em Setúbal por pró-russos e o que vai fazer para corrigir a situação.
Para o bloquista, “é certo e sabido” que a “responsabilidade” deste processo é do Estado português e que “o Governo não pode delegar sem garantir a idoneidade do processo”
Nesse sentido, os bloquistas querem ouvir Ana Catarina Mendes, ministra com a tutela da pasta, no Parlamento o quanto antes.
Livre diz que situação de refugiados recebidos em Setúbal é “preocupante”
Rui Tavares, deputado único do Livre, reagiu à notícia de que há refugiados a serem acolhidos por pró-russos em Setúbal e disse tratar-se de uma “situação preocupante”.
“Devemos ter toda a precaução no acolhimento de refugiados”, alertou Rui Tavares, realçando que “as câmaras municipais devem ter pelouros de direitos humanos e devem dar formação aos funcionários”.
O Livre considera que poderá haver a necessidade de pedir esclarecimentos na comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias.
Situação é “demasiado grave” e uma “violação grosseira dos direitos”
Também no Parlamento, a líder do PAN, Inês Sousa Real, diz que a situação em Setúbal é “demasiado grave”.
A deputada única do PAN considera que, a confirmar-se, está em causa uma “violação grosseira dos direitos”, tendo em conta que este acolhimento, segundo Sousa Real, “põe em causa valores da segurança e dignidade humana”, e o PAN está a “ponderar” convocar o presidente da autarquia de Setúbal para uma audição no Parlamento.
Verdes elogiam “empenho” da Câmara Municipal
Destoando de praticamente todos os partidos, o partido Ecologista Os Verdes reconhece “todo o empenho e esforço da Câmara Municipal de Setúbal” e de André Martins no “apoio aos refugiados e às vítimas da Guerra na Ucrânia após a invasão da Rússia”.
Num comunicado, os Verdes consideram que a autarca está “na linha da frente” na prestação do auxílio, num “esforço de cooperação conjunta com demais entidades governamentais”. “A existirem irregularidades, somos em crer que serão apuradas todas as situações, de forma a garantir o cabal esclarecimento das suspeitas veiculadas.”
CDS-PP considera “desumano e vexatório” condições de acolhimento de refugiados em Setúbal
O CDS-PP considerou esta sexta-feira “desumano e vexatório” haver refugiados ucranianos recebidos em Setúbal por russos alegadamente simpatizantes do regime de Vladimir Putin e o eurodeputado e líder do partido vai dar conhecimento do caso a Bruxelas.
O Conselho Nacional do CDS-PP, que se reuniu na noite desta sexta-feira, aprovou por unanimidade uma moção na qual “repudia o conduta descrita e delibera que da mesma seja dado conhecimento à Comissária Europeia dos Assuntos Internos, Ylva Johansson”, através do eurodeputado e presidente do partido, Nuno Melo, “para apuramento de todas as responsabilidades e o mais que a propósito sejam justificada”.
A informação foi transmitida à agência Lusa por fonte oficial do partido.
Montenegro quer “investigação rápida” ao acolhimento de refugiados ucranianos por russos pró-Putin
O candidato à liderança do PSD Luís Montenegro defendeu hoje uma “investigação rápida” ao acolhimento de refugiados ucranianos por russos alegadamente simpatizantes do regime de Putin, considerando que os responsáveis “têm de ser demitidos ou devem demitir-se”.
“Deve ser feita uma investigação rápida e se o que veio a público foi verdade”, disse Luis Montenegro, defendendo que a situação é “intolerável”. “Se for verdade, que há informação sobre os refugiados que vieram para Portugal e sobre as suas famílias que se mantiveram na Ucrânia e que essa informação possa ter sido conduzida para o poder da Federação Russa isso é inaceitável e tem de ter consequências e responsabilizações políticas”, observou.
Já durante a sua intervenção, Luís Montenegro salientou que o país tem de ser “verdadeiramente intransigente” e que os sociais-democratas não vacilam quando o que está em causa são os valores da democracia e dos direitos humanos.
“Não há perdão se efetivamente se comprovar que houve gente a recolher elementos para o uso no seio do conflito armado. Elementos de pessoas que fugiram da morte porque estes refugiados fugiram da morte, fugiram da fatalidade de serem atingidos por mísseis que são lançados de forma indiscriminada, que deixaram as suas famílias ou parte delas a lutar pelo seu património físico, cultural e, sobretudo, humano”, disse, reforçando que, a comprovar-se, o caminho “é a demissão e a responsabilização total”.
O seu adversário na corrida à liderança do PSD, Jorge Moreira da Silva avisou este sábado para não contarem com ele para “partidarizar” a guerra na Ucrânia, embora tenha classificado como “lamentáveis” episódios como o acolhimento de refugiados por alegados simpatizantes de Putin.
“Claro que estes episódios são lamentáveis e têm que ter um esclarecimento cabal, mas não contem comigo para partidarizar e politizar um tema que é demasiado sério. Insisto, não instrumentalizemos a guerra na Ucrânia. Eu acho que os portugueses, a última coisa que querem é a politização de uma tragédia”, afirmou o ex-ministro de Pedro Passos Coelho.
Em declarações aos jornalistas, à margem da 7.ª Academia de Formação Política para Mulheres, considerou ainda que falar em demissões é “estar a tentar antecipar uma conversa que não fará muito sentido neste momento”. “Não encontremos aí uma desculpa para não estarmos à altura das nossas responsabilidades, porque a pior coisa que poderia suceder era à boleia deste episódio em Portugal começar a haver algum tipo de hesitação quanto ao apoio aos refugiados, que é essencial”, disse.
Notícia atualizada este sábado às 19h09 com as declarações de André Ventura e Luís Montenegro e às 21h35 com as de Jorge Moreira da Silva.