Portugal e Espanha, Sporting e Barcelona. A viragem que se registou a nível de Seleção Nacional depois da vitória no penúltimo Campeonato da Europa frente aos rivais ibéricos, e que iniciou um ciclo com outros dois grandes títulos (Mundial e novo Europeu) teve muitos pontos de contacto com aquilo que aconteceu com o Sporting na Liga dos Campeões, quebrando uma série de finais perdidas para conseguir o primeiro troféu em 2019 frente ao Kairat e repetir a dose no último ano diante do Barcelona. Esta era a melhor fase da história do futebol nacional, a nível de Federação e de clubes com o Benfica também presente na Final Four. E notava-se essa viragem consistente em relação às mentalidades na altura das decisões.

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Quando chegavam as finais, e sobretudo quando pela frente estavam espanhóis, havia quase uma espécie de bloqueio das aspirações nacionais. Portugal ou os seus clubes podiam ter melhores individualidades, podiam trabalhar melhor as equipas no plano coletivo, mas encontravam sempre uma barreira “invisível” que não era superada. Nos últimos anos, tudo mudou. E até a meia-final entre os catalães e o Benfica tinha sido um bom exemplo disso mesmo apesar da derrota no prolongamento a 17 segundos do final. Agora chegava mais um teste para os leões, de novo frente a um conjunto catalão e a apostar tudo.

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“A equipa está num bom momento, a viver uma fase de índices físicos bons, confiança, estabilidade, boa dinâmica do jogo. O Barcelona é uma equipa forte, tem dinâmica de vitória. O sucesso vai variar entre os momentos em que nos conseguimos superar e os momentos em que conseguimos ser eficazes. Como se reinventa uma equipa vencedora? Há sempre forma de conseguir acrescentar algo diferente e algo novo. Esse é o grande segredo dos treinadores: não entrarem na ideia de que está tudo inventado. Quem acha isso não anda aqui a fazer nada. Cabe-nos a nós, profissionais que vivem e gostam da modalidade, ir ajustando, adaptando e inventando. Temos um grupo que nos ajuda nesse sentido”, destaca o técnico Nuno Dias.

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“O grupo está cansado mas terá tempo para recuperar. Esperamos estar a um bom nível e a motivação está em alta. O Sporting está onde está por mérito desportivo, é uma equipa de topo a todos os níveis. Sabemos que as qualidades que têm e vamos procurar contrariá-las”, assegurara Jesús Velasco. E foi mesmo isso que aconteceu: depois de um início onde os leões até foram melhores, o Barcelona de André Coelho juntou à grande organização defensiva a capacidade de sair em transições, chegando a uma vantagem mais do que confortável para gerir a final durante o segundo tempo e selar a quarta vitória na Champions não só com uma vingança em relação ao que se passara em 2021 mas também com uma lição daqui para a frente a começar por 2023: uma final decide-se a defender bem e a perceber melhor todos os momentos de jogo.

Os leões tiveram um início de jogo com grande personalidade, sem medo de assumir o domínio da partida perante um Barcelona que só raras vezes tinha situações de ataque organizado, preferindo apostar mais nas saídas rápidas em transição. Cavinato, nos 30 segundos iniciais, ainda marcou numa jogada que já estava parada por bola fora de Cardinal antes da assistência e as tentativas não ficaram por aí, sempre com essa tentativa declarada de colocar Alex Merlim descaído na esquerda a assumir situações 1×1 (com um esforço suplementar pela ausência de Pany Varela, tendo de fazer mais minutos). Guitta teve apenas duas defesas mais apertadas nos dez minutos iniciais e ambas na sequência de saídas rápidas dos catalães, contra alguns remates do conjunto verde e branco à procura também de desvios na área para enganar Didac.

Waltinho, num lance sem necessidade, ficou com cartão amarelo e fez a quarta falta do Sporting, num lance importante para os minutos seguintes em que os leões atravessaram a sua pior fase na primeira parte com essa condicionante das sanções e Tomás Paçó a dar o exemplo a toda a equipa da agressividade que teria de colocar em campo. Nuno Dias parou o jogo, pediu mais Guitta também nas ações ofensivas subindo até ao meio-campo, mas foi Didac a brilhar com os pés, primeiro a conseguir uma saída rápida que valeu uma bola ao poste de Matheus (15′) e depois a adivinhar o passe de Guitta para lançar Lozano que, na sequência de um ressalto, ficou com a bola e picou de pé esquerdo para o 1-0 (16′). O Barça chegava à sua zona de conforto e aproveitaria ainda mais um erro dos leões, neste caso de Zicky após reposição, para chegar mesmo ao 2-0, com Pito a aparecer pela zona central sozinho a rematar rasteiro sem hipóteses (19′).

À semelhança do que aconteceu em 2021, o Sporting saía para intervalo com dois de desvantagem, tendo Nuno Dias a permanecer um pouco mais na quadra a pensar na estratégia possível para contrariar o avanço dos catalães. No entanto, e ao contrário do que aconteceu na última temporada, foi o Barcelona que fez o 3-0 ainda no minuto inicial do segundo tempo, com Ferrão a receber entre Erick e Guitta um grande passe de Ortíz para tocar com classe para a baliza (21′). Esse momento, quase com um parte inteira ainda por fazer, quebrou ainda mais no plano anímico os leões, que foram falhando ainda mais passes, perderam discernimento, não conseguiram criar perigo e viram Guitta evitar outro resultado em duas transições.

Os minutos passavam mas a lei de Murphy não saía da órbita do Sporting, com tudo o que podia correr mal a correr ainda pior. Os leões não conseguiam atacar bem, nunca colocaram em condições um 5×4 quando Guitta tentava subir à baliza, nunca fizeram uma pressão capaz de estancar os catalães no seu meio-campo. Foi por isso que, a sete minutos do final, Alex Merlim entrou como guarda-redes avançado mas o golo continuava a não chegar apesar dos remates de Cardinal que passaram por cima, de uma tentativa de Zicky isolado travada por Didac, por um tiro de meia distância de Cavinato que saiu perto do poste. E seria mesmo o Barcelona a chegar ainda ao 4-0, com o guarda-redes Didac a marcar de baliza a baliza (39′).