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Corpetes, luvas de ópera, saias amplas e pinceladas de dourado. Os looks da passadeira vermelha na Met Gala 2022

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A grande noite de celebração da moda regressou e a inspiração na "Gilded Age" deu ainda mais glamour a uma passadeira vermelha muito concorrida, colorida e brilhante. Veja aqui os looks da noite.

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E ao dia 2 de maio de 2022 a Met Gala voltou a ser o que era antes da pandemia. A primeira segunda-feira deste mês fica no calendário como o regresso da grande festa da  moda e, depois de dois anos atípicos, a escadaria do museu Metropolitan iluminou-se com o brilho das estrelas, das suas roupas e joias.

O convite indicava um dress code formal e inspirado na “Gilded Age” e os convidados não desiludiram. Luvas de ópera e tiaras foram acessórios que nos vão deixar a pensar se se tornarão tendência. Na roupa, os corpetes e as saias amplas definiram as silhuetas mais marcantes da noite. O dourado foi uma das cores de excelência desta festa, enquanto o cor de rosa choque se assumiu como cor surpresa, mas o clássico preto continuou a ganhar por maioria, dando espaço a muitos jogos de texturas e transparências.

Mas além das apostas generalizadas também houve histórias personalizadas. Por exemplo, Kim Kardashian usou o vestido que pertenceu a Marilyn Monroe e com o qual a atriz cantou os parabéns ao presidente Kennedy, em 1962. Também a a modelo Emily Ratajkowski apostou no vintage e usou uma criação do falecido Gianni Versace que foi vista na passerelle em 1992.

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The 2022 Met Gala Celebrating "In America: An Anthology of Fashion" - Inside

Alguns membros da família Kardashian Jenner.

Blake Lively e Ryan Reynolds foram o primeiro casal estrela a chegar à festa e a atriz, ao seu estilo de diva, protagonizou o primeiro “momento performance” da da noite. O rebuscado vestido contava com uma cauda e uns volumes à volta da anca que se desenrolaram em plena escadaria e tranformaram a cor do vestido de rosa acobreado em verde água. A vereadora da cultura da câmara de Nova Iorque, Laurie Cumbo, foi surpreendida com um pedido de casamento na passadeira vermelha. Ainda no domínio da política, o Mayor da cidade aproveitou o facto de se vestir a rigor para deixar uma mensagem e nas cosats do seu casaco podia ler-se a frase “end gun violence” (acabem com a violência das armas).

A cantora Lizzo levou uma flauta como acessório e tocou-a na entrada para o museu. Alicia Keys não cantou a sua música “Empire State of Mind”, mas homenageou Nova Iorque com uma ampla capa cinzenta onde Ralph Lauren bordou o horizonte de silhuetas de prédios da cidade. Hillary Clinton regressou a uma Met Gala ao fim de 20 anos e também apostou na arte do bordado, mas para homenagear algumas das mulheres americanas que a política admira. Altuzarra criou um vestido num profundo tom de vermelho com cerca de 60 nomes bordados, como por exemplo Harriet Tubman, Madeleine K. Albright, Abigail Adams ou Eleanor Roosevelt.

As estrelas começaram a chegar ao museu Metropolitan antes das 23h00 (hora de Portugal, 18h00 em Nova Iorque) e Kim Kardashian foi a última celebridade a percorrer a passadeira vermelha pelas 2h20 (hora de Portugal).

Depois de dois anos de alterações, a Met Gala regressa em 2022 à primeira segunda-feira do mês de maio, a sua data por tradição desde há vários anos. Em 2020 a festa foi cancelada mesmo em cima da hora porque o mundo estava em confinamento com o início da pandemia de Covid-19. A exposição de moda do Costume Institute abriu ao público, mas só em outubro (“About Time: Fashion and Duration”). Em 2021 a pandemia continuou a impor várias restrições e o mês de maio voltou a não ter a sua gala de excelência. Contudo, tanto a festa como a exposição de moda desse ano foram adiadas para o outono, mais precisamente para setembro, com muitas estrelas e exuberância, como manda a tradição.

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Chloe Bailey e Janelle Monae ente as mesas do jantar da Met Gala.

Em março foi anunciado que o casal de atores Blake Lively e Ryan Reynolds, a atriz Regina King e o ator Lin-Manuel Miranda seriam os convidados deste ano como anfitriões da festa. Todos os anos figuras públicas de destaque na sociedade são convidadas a assumir esse papel, juntado-se ao designer de moda Tom Ford, o responsável do Instagram Adam Mosseri e a Anna Wintour, diretora da Vogue americana e alta figura do gigante editorial Condé Nast, co-chairs honorários do evento.

A Met Gala tornou-se um evento estelar e uma das passadeiras vermelhas mais importantes do ano. Esta festa é, desde as suas origens (e já lá iremos), uma angariação de fundos para o Costume Institute. Tudo começa na passadeira vermelha, onde se procura o melhor look e a melhor fotografia. No interior do museu, os convidados têm um acesso privilegiado à exposição, há um jantar e depois um espetáculo musical servido por uma das estrelas do momento, que este ano ficou a cargo de Lenny Kravitz.

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Lenny Kravitz em palco, na Met Gala.

A inspiração

O convite desta Met Gala, indicava que o “dress code” seria “Gilded Age” e “white tie”. Ou seja, exuberante e muito formal. A expressão que cunhou uma época da história norte-americana nas últimas décadas do século XIX (nomeadamente a de 1870) especialmente rica é também o nome do romance de Mark Twain “The Gilded Age”, 1873).Estamos a falar de uma época com muitas festas, bailes e idas à ópera em que o vestuário era formal em quase todas as alturas do dia. Usavam-se corpetes, cores exuberantes e, claro, o chapéu como acessório indispensável para sair pelas ruas de Nova Iorque, de preferência adornado com algumas plumas. E importa acrescentar que misturas de tecidos e texturas, como laços, folhos e rendas nunca poderiam ser de mais.

Se juntarmos as lâmpadas de Thomas Edison, patenteadas em 1882, o telefone de Alexander Graham Bell em 1876, a revolução industrial, os arranha-céus e uma alta sociedade nova iorquina cheia de de dinheiro e sedenta de o mostrar, temos a combinação perfeita para uma época rica em inspiração, tanto na moda como nos enredos de histórias. Afinal foi no início deste ano que estreou na HBO a série “The Gilded Age”, pela mão do criador de “Downton Abbey”, Julian Fellowes. Por isso, quem precisasse de ideias para o look da Met Gala poderia sempre passar os olhos por algum dos nove episódios ou, pelo menos, ver o trailer para ficar com uma breve ideia.

O regresso da Met Gala. Volumes, símbolos americanos, transparências e uma Rihanna pronta para o inverno: os looks da passadeira vermelha

Depois da festa, a exposição no museu

A Met Gala marca a abertura da maior exposição anual do Costume Institute e, assim, no próximo dia 7 de maio abre ao público “In America: An Anthology of Fashion”. Em exibição estarão cerca de 100 exemplos de vestuário feminino e masculino, datados dos séculos XIX e XX, que vão contar a história da moda norte-americana nestes períodos e não só. Muito mais do que a história de uma indústria, esta mostra convida a explorar a forma como a moda se cruza com a sociedade, a política, a cultura e contribui para a criação da identidade da nação.

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Imagens do interior da exposição “In America: An Anthology of Fashion”.

Getty Images

Esta exposição é uma parceria do Costume Institute com a “Ala Americana” do museu Metropolitan, uma parte do museu onde se podem encontrar 20 “salas de época”, ou seja, cenários que representam a arquitetura, o mobiliário e a vida doméstica de diferentes épocas ao longo de cerca de 300 anos da história americana. Para esta parte da exposição, oito realizadores de cinema foram convidados a criar o que poderia ser uma cena parada no tempo que refletisse a estética de cada um.

Enquanto Martin Scorsese ficou a cargo de uma sala de estar do século XX criada pelo arquiteto Frank Lloyd Wright, Chloé Zhao ocupou-se de uma sala que recria um ambiente de 1830 e Tom Ford tratou de uma galeria com um enorme mural Versailles de 1819. Os restantes realizadores a emprestar a sua visão para criar estes momentos são Janicza Bravo, Sofia Coppola, Julie Das, Regina King e Autumn de Wilde. O Museu Metropolitan publicou no seu canal de Youtube um teaser desta exposição que pode ser vista aqui em baixo.

Os avanços e recuos da pandemia levaram o Costume Institute a lançar-se numa reflexão muito profunda sobre a moda norte-americana que se traduziu em duas exposições. Por isso esta exposição será como uma continuação da que abriu no passado mês de setembro, “In America: A Lexicon of Fashion”, e que continua em exibição no museu, no Anna Wintour Costume Center. Aqui cerca de 100 peças de roupa, feminina e masculina datadas desde a década de 1940 até à atualidade estão organizadas sob 12 temas. São também 12 palavras que, acredita Andrew Bolton, o curador chefe do Costume Institute, definem o vocabulário moderno da moda americana e explica que partem das próprias qualidades expressivas da moda. Quem melhor do que Bolton para explicar e ele leva-nos mesmo por uma visita guiada à exposição num vídeo publicado no canal de Youtube do Museu.

Juntas, estas duas mostras são uma homenagem à moda nos Estados Unidos da América e ambas encerrarão a 5 de setembro de 2022.

O Costume Institute é o departamento com a coleção de moda e traje do museu Metropolitan. Trata-se de um arquivo com mais de 33 mil peças que permite acompanhar a história do vestuário desde o século XV até à atualidade e através de cinco continentes, com peças de roupa e acessórios para mulher, homem e criança. Embora as exposições de moda no museu Metropolitan tenham começado há décadas, foi em 2011 que se deu uma grande mudança. A exposição “Savage Beauty” mostrou a obra de Alexander McQueen no ano seguinte à sua morte e despertou tal interesse por parte do público que o museu não estava preparado para a afluência de visitantes. Desde então, todos anos a exposição do Costume Institute desperta grande curiosidade e interesse com um tal volume de visitantes que transcende o público de moda e é mesmo transversal a toda a sociedade.

“Heavenly Bodies: Fashion and the Catholic Imagination” foi a exposição de 2018 do Costume Institute e explorava a religião católica como inspiração na moda. Foi também a exposição mais visitada de sempre do museu Metropolitan, com mais de 1 milhão 650 mil visitantes.

De angariação de fundos a evento galáctico

Primeiro há que esclarecer que “Met Gala” é uma espécie de nome artístico deste evento, que na verdade se chama  Metropolitan Museum of Art Costume Institute Benefit. Esta festa é a principal fonte de fundos para a manutenção deste departamento do museu. Todos os anos, a Met Gala acontece na primeira segunda-feira de maio e marca a abertura da exposição de primavera do Costume Institute, a maior exposição de moda do ano no museu.

Até 2020, ano em que não houve gala, as festas organizadas por Anna Wintour já tinham angariado cerca de 125 milhões de dólares para o departamento de moda do museu. Antes da pandemia, cada entrada custaria perto de 30 mil dólares, o valor não é divulgado, porque não basta pagar. Há uma lista de espera e há que ter a aprovação de Anna Wintour. Depois, há também marcas que “compram” mesas e levam celebridades como convidadas. Em 2019 a gala teve 550 convidados. Tudo em nome da moda, da sua conservação, estudo e exibição.

Anna Wintour, diretora artística do grupo Condé Nast e diretora da Vogue americana, segura as rédeas deste evento desde 1995 e foi ela que o tornou numa festa de celebração da moda que é transversal à sociedade. Aqui param artistas, atores, músicos, realizadores, políticos, celebridades, desporto, empresários, aristocratas e até realeza, além das figuras da moda. Anna Wintour fez desta festa uma das suas missões de vida, tendo sempre em conta a sua importância para o legado da moda no museu. Toda a organização da Met Gala passa pelos seus olhos e aprovação, a começar pela lista de convidados.

The 2022 Met Gala Celebrating "In America: An Anthology of Fashion" - Arrivals

Mas embora a famosa Wintour tenha tornado este evento numa noite mágica, não é a primeira fada madrinha deste evento a agitar os seus dotes de bom gosto e conhecimentos para em nome da Moda e da sua manutenção no museu, um lugar onde é estudada, apreciada e comunicada como em nenhum outro.

Eleanor Lambert, uma jovem do estado do Indiana decidida a estudar Arte e que se aventurou em Nova Iorque onde começou a trabalhar como relações públicas para marchands de arte e revelou-se tão bem sucedida que um designer de moda viria a contratar os seus serviços. Foi a porta de entrada no mundo da moda norte-americana que Eleanor se dedicou a tornar encantado. Foi ela quem fundou a angariação de fundos para o Costume Institute, em 1948. Na altura era um jantar de beneficiência que reunia pessoas da alta sociedade novaiorquina e acontecia em diferentes locais da cidade, mas desde logo ela o cunhou como sendo “a festa do ano”. Mas quando se fala de moda americana e Eleanor Lambert é impossível não referir que foi pioneira a tornar os designers em celebridades, que deu os primeiros passos para a Semana da Moda de Nova Iorque e para o Council of Fashion Designers of America (CFDA) e ainda fundou a lista das pessoas mais bem vestidas, um património que a revista Vanity Fair mantém com grande brilho.

Seguiu-se Diana Vreeland, uma lendária editora da revista Harper’s Bazaar americana durante muitos anos, passou depois para a Vogue, mas foi ao Costume Institute que se dedicou entre 1972 e 1989, ano em que morreu. Foi ela quem introduziu as celebridades na festa, mas enquanto consultora também criou várias exposições. Depois a “pasta” da festa mais fashion do ano passou para Pat Buckley, uma socialite especialista em angariação de fundos que pertencia à “realeza” nova iorquina e que já estava envolvida nas atividades do Costume Institute desde 1979 e ficou até 1995.

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