Desde o início da guerra na Ucrânia, as forças armadas ucranianas dizem já ter abatido mais de 600 aeronaves russas, entre aviões de combate, helicópteros e drones. Uma boa parte destes ataques foram levados a cabo com recurso a sistemas portáteis de defesa anti-aérea, conhecidos pela sigla em inglês MANPADS — armas com décadas de história que se estão a revelar fundamentais na defesa ucraniana contra a invasão russa.
Com uma massa de cerca de 15 quilogramas e um alcance que pode chegar aos 5 mil metros de altitude, estes pequenos mísseis podem ser disparados por um único operador através de um lançador colocado ao ombro e têm a capacidade de infligir graves danos em diferentes tipos de aeronaves. A Ucrânia tem recebido vários modelos: da Alemanha, da Polónia e, mais recentemente, do Reino Unido.
Segundo a revista The Economist, a origem do MANPADS remonta à década de 1950, ao período da Guerra Fria, e o funcionamento da arma baseia-se num princípio relativamente simples: o míssil usa radiações infravermelhas para detetar o ponto de calor situado nos escapes dos aviões e perseguir, assim, o alvo. No interior do míssil segue uma carga explosiva que é detonada no impacto.
Entre os primeiros MANPADS encontram-se os sistemas Strela, ou SA-7, produzidos pela União Soviética. A Ucrânia tem recebido vários destes sistemas fornecidos pela Alemanha, que ainda tem este armamento nos paióis que ainda albergam material da antiga Alemanha de Leste. Apesar de poderoso, este sistema mais antigo tem um problema: só consegue detetar um alvo pelas traseiras, o que significa que tem de o perseguir na direção do voo e pode acabar por não o alcançar antes de o alvo escapar ao alcance máximo do míssil.
Na década de 1980, os Estados Unidos desenvolveram um MANPADS mais moderno, batizado como Stinger — hoje o mais famoso destes sistemas.
O Stinger, tal como os modelos soviéticos que sucederam ao Strela, já pode ser disparado contra um alvo a partir de qualquer direção, e não apenas pelas traseiras, mas tem outras limitações, incluindo a bateria de vida muito curta (45 segundos), o tempo que demora a aquecer e a estar pronto a disparar (entre três e cinco segundos) ou ainda a possibilidade de ser iludido por armadilhas que as aeronaves têm justamente para enganar estes mísseis (concretamente, disparando pequenos clarões de luz e calor para atrair o sistema de infravermelhos).
Apesar disso, o Stinger tornou-se bastante famoso pelo seu uso durante a guerra soviética no Afeganistão.
Na década de 1980, a União Soviética invadiu o Afeganistão para apoiar militarmente o governo comunista afegão contra as milícias islâmicas que resistiam ao regime socialista, os mujahideen, financiados pelos Estados Unidos. Na altura, os EUA entregaram centenas de sistemas Stinger aos mujahideen para combaterem a invasão soviética, que se seguiu ao golpe de Estado que em 1973 acabou com a histórica monarquia afegã e à revolução comunista do final da década de 1970. No seio dos mujahideen, que a partir das montanhas e financiados por Washington combateram os soviéticos, viria a nascer o movimento talibã que na década de 1990 impôs no país um regime brutal baseado na interpretação literal do Alcorão — uma vida que regressou em 2021 ao país, com o regresso dos talibãs ao poder.
Desde a década de 1980 que os mísseis Stinger têm tirado o sono a Moscovo — e, agora, a Ucrânia está na posse de centenas dessas armas, entregues pelos Estados Unidos e por vários países europeus.
Mas o regime de Kiev conta ainda com outros tipos de sistemas MANPADS, incluindo os Grom e os Piorun, de origem polaca. Estes mísseis são versões ainda mais modernas dos sistemas antigos produzidos pela União Soviética e pelos EUA. Terá sido um míssil Piorun a abater um helicóptero de combate russo do modelo Mi-24, de acordo com notícias que circularam em março.
Mais recentemente, ainda segundo a The Economist, o Reino Unido começou a fornecer à Ucrânia a novíssima geração de sistemas MANPADS, o STARStreak, que consegue atingir velocidades muito superiores à velocidade do som e que, além disso, liberta três dardos explosivos que acompanham o voo do míssil, podem perfurar uma aeronave e explodir apenas no seu interior. No início de abril, um míssil STARStreak terá abatido um helicóptero Mi-28, segundo relatos da altura.
⭕️????????#Ukraine: ???????? Russian Mi-28 helicopter was shot down today (on April 1,2022) pic.twitter.com/deXeV5fjOe
— ????-???????????????? (@L_Team10) April 1, 2022