As elevadas temperaturas na Índia e no Paquistão estão a “testar os limites da capacidade de sobrevivência humana”, caraterizou Chandni Singh, autor principal do Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC) à CNN.
Em abril, a média da temperatura máxima no noroeste e centro da Índia foi a mais alta desde há 122 anos, quando o Departamento Meteorológico da Índia começou a monitorização: atingiu 35,9ºC e 37,78ºC, respetivamente. Em Nova Deli, os termómetros registaram temperaturas acima de 40 graus Celsius por sete dias consecutivos.
Described as a record breaking “heat dome” across the sub continent ( from the FT) pic.twitter.com/MPVcabGTKE
— Maleeha Lodhi (@LodhiMaleeha) April 30, 2022
Em alguns estados do país de Narendra Modi, o calor extremo obrigou ao encerramento de escolas e teve um impacto devastador nas plantações. Por exemplo, de acordo com o The Guardian, a produtividade do trigo caiu até 50% em determinadas zonas afetadas.
A vaga de calor afetou igualmente o vizinho Paquistão, onde as cidades de Jacobabad e Sibi, na província de Sindh, chegaram a temperaturas de 47ºC na sexta-feira, dia 29 — o valor mais elevado registado em qualquer cidade do Hemisfério Norte neste dia — segundo dados fornecidos pelo Departamento Meteorológico do Paquistão à emissora norte-americana.
Esta é a primeira vez em décadas que o Paquistão está a experimentar o que muitos apelidam de ano sem primavera”, considerou a ministra paquistanesa das Mudanças Climáticas, Sherry Rehman, cita-a o mesmo órgão de comunicação social.
#Pakistan soared up to a scorching 49C (120.2F) today.
That's one of the hottest temperatures ever recorded on Earth in April. pic.twitter.com/AnIxNnjfwU
— Colin McCarthy (@US_Stormwatch) May 1, 2022
Nazeer Ahmed é um dos paquistaneses que tem sentido na pele estas temperaturas e teme que o cenário só piore. “A semana passada foi absurdamente quente em Turbat [região onde vive]. Não parecia abril”, vincou ao jornal britânico.
Nesta cidade com cerca de 200 mil habitantes, na região de Baluchistão, há cortes de energia que duraram horas, o que significa que ventiladores, aparelhos de ares condicionados e frigoríficos não conseguem funcionar apropriadamente. “Estamos a viver no inferno”, rematou Ahmed.
Na região de Mastung, o agricultor Haji Shahwani viu “angustiado” as suas macieiras florescerem quase um mês antes e, depois, assistiu com “desespero” à morte das mesmas. “Esta é a primeira vez que o clima causa tantos estragos nas nossas plantações (…) Não sabemos o que fazer e não há ajuda governamental”.
A ministra das Mudanças Climáticas do Paquistão acrescentou ao The Guardian outra consequência desta situação que é já um reflexo das alterações climáticas: as dificuldades no abastecimento de água. “Os reservatórios de água estão a secar e, agora, as nossas grandes barragens estão em níveis baixos”, avisou, pedindo aos líderes mundiais para agirem o mais rápido possível, já que “os eventos climáticos estão aqui para ficar e só vão acelerar”.
Esta declaração é reiterada pela Organização Meteorológica Mundial que, em comunicado, avançou que as temperaturas na Índia e no Paquistão são “consistentes com o esperado num clima em mudança”.
A escassez de carvão — a principal fonte para a produção de eletricidade para uma população de 1,4 mil milhões de pessoas — nas centrais de energia é outro dos problemas. Numa tentativa de combater esta lacuna, a Indian Railways (fornecedor) cancelou mais de 600 viagens de passageiros para direcionar todos os esforços no reabastecimento do stock de carvão.