793kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Climate Change In Bangladesh
i

NurPhoto via Getty Images

NurPhoto via Getty Images

“É agora ou nunca”. Depois do último aviso, as medidas necessárias para travar as alterações climáticas

Depois do último aviso feito em agosto do ano passado, o IPCC diz que ainda é possível limitar o aquecimento global a 1,5ºC. Para isso, é preciso fazer mudanças em todos os setores.

O alerta é urgente e nenhum setor escapa: caso as emissões de gases com efeito de estufa não sejam fortemente reduzidas, estará fora do nosso alcance limitar o aquecimento global a 1,5ºC. Entre 2010 e 2019, as emissões de gases com efeito de estufa atingiram os níveis mais altos de que há registo, ainda que o ritmo de crescimento tenha vindo a diminuir — o que é uma boa notícia. As conclusões do último relatório do Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), esclarecem que, para limitar o aquecimento a 1,5ºC, é necessário que as emissões alcancem o seu ponto máximo antes de 2025, o que significa que temos menos de três anos para o fazer. Se o objetivo for este, de cumprir a meta de 1,5ºC, as emissões devem cair 43% até 2030 e 84% em 2050. Caso o objetivo seja o de não ultrapassar os 2ºC, então as emissões devem ser reduzidas em 27% até 2030 e 63% até 2050.

Neste documento sobre “Mitigação das Alterações Climáticas”, aprovado esta segunda-feira, o organismo científico da ONU alerta para a necessidade de “reduzir, pelo menos, para metade as emissões até 2030”, o que implicará transições urgentes no setor energético. É necessário reduzir fortemente o uso de combustíveis fósseis, melhorar a eficiência energética e utilizar combustíveis alternativos, como o hidrogénio.

Jim Skea, vice-presidente do IPCC e um dos coordenadores deste grupo de trabalho, referiu mesmo que “se queremos limitar o aquecimento global a 1,5ºC, este é o momento, é agora ou nunca”. “Sem uma redução imediata e profunda das emissões em todos os setores, será impossível” atingir este objetivo, acrescentou. Aliás, a redução das emissões de carbono terá de ser prolongada até, pelo menos, 2050.

O último aviso dos cientistas: subida acelerada da água do mar e as zonas onde deixará de ser possível viver. O que diz o relatório do IPCC

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Além de avaliar o progresso atingido no contexto das emissões, o documento aprovado avança com alguns cenários para provar que ainda é possível cumprir o Acordo de Paris — o documento que estabeleceu a meta de 1,5ºC em 2015. Esta é a terceira e última parte daquele que é o sexto relatório de avaliação científica das alterações climáticas do IPCC. A primeira parte foi entregue em agosto do ano passado, focou-se nas causas desta crise ambiental e concluiu que a ação humana é, de facto, a grande responsável pela situação atual e está a causar danos irreversíveis desde 1850. Já a segunda parte, entregue no final de fevereiro deste ano, analisou as consequências das alterações climáticas, cuja dimensão é muito maior do que o que tinha sido previsto. Em outubro, espera-se que seja publicado o relatório final que englobará todas as partes que representam quase 200 países.

Tecnologia, transportes e cidades para controlar as emissões de carbono

Há dados interessantes avançados pelos especialistas do IPCC, que reforçam a tese dos benefícios das energias alternativas. Entre 2010 e 2019, o custo da energia solar e das baterias de lítio caiu 85% e o custo da energia eólica diminuiu 55%. Esta diminuição de custos faz com que possa ser acelerada a produção de tecnologia em todo o mundo.

Associado à tecnologia, “que pode contribuir para a mitigação das alterações climáticas”, o relatório do organismo científico da ONU prevê também que aumente o uso de veículos elétricos, caracterizados pelas baixas emissões de gases com efeito de estufa, em detrimento dos veículos movidos a gasóleo ou gasolina. O setor dos transportes é fundamental para mudar o rumo do cenário climático a nível mundial e para cumprir o acordo estabelecido em Paris.

O desenho das cidades pode traduzir-se também numa diminuição na emissão de gases com efeito estufa se, por exemplo, permitirem deslocações a pé, se tiverem uma boa rede de transportes públicos elétricos e se forem implementados espaços verdes.

Ainda sobre tecnologia, o IPCC dá outros exemplos que podem ser utilizados em vários setores, desde a agricultura à construção: sensores, robótica e inteligência artificial. Aqui, o objetivo é que a tecnologia ajude “a melhorar a gestão de energia em todos os setores, a aumentar a eficácia energética e a promover a adoção de tecnologias de baixa emissão”.

O desenho das cidades pode traduzir-se também numa diminuição na emissão de gases com efeito estufa se, por exemplo, permitirem deslocações a pé, se tiverem uma boa rede de transportes públicos elétricos e se forem implementados espaços verdes.

No setor da agricultura, a maioria das medidas de mitigação estão prontas a implementar

Ao longo de 17 capítulos, e em mais de 3600 páginas, o organismo científico da ONU focou a sua análise em diversos setores, onde a implementação de medidas de mitigação é fundamental. A agricultura, florestas e solo fazem parte do sétimo capítulo deste dossier, sendo este um setor descrito como um dos mais importantes no contexto de redução de gases com efeito de estufa, em que o dióxido de carbono é o principal gás. A agricultura é, aliás, “a segunda maior fatia do potencial de mitigação”, lê-se no relatório. Ainda assim, a terra só pode ser parte da solução se a redução de emissões se verificar também noutros setores.

Neste contexto, a taxa de desflorestação corresponde a 45% do total de emissões, numa tendência decrescente. Ao contrário, os níveis de crescimento florestal estão, “provavelmente, a aumentar”. Para a agricultura, florestas e solo, o IPCC considera que a maioria das medidas de mitigação estão definidas e prontas a implementar. Falta, no entanto, dar esse passo.

Além da reflorestação, reduzir o desperdício alimentar, aproveitar a energia solar e eólica e o uso de resíduos orgânicos devem ser aspetos a ter em conta.

Quase metade do mundo em situação “muito vulnerável” por alterações climáticas

Olhando para os terrenos agrícolas, é também de esperar que o solo venha a diminuir ao longo dos próximos anos, já que é expectável a expansão urbana continue. E aqui, “a expansão do solo urbano é que vai determinar os padrões de consumo de energia durante décadas”, com a certeza de que a construção e modernização vão aumentar as emissões até 2030.

“Dietas ricas em vegetais e pobres em carne e laticínios estão associadas a menores emissões de gases com efeito de estufa”, alerta o IPCC, acrescentando que, neste caso, os benefícios de uma dieta baseada sobretudo em vegetais reduz a ocupação do solo e das perdas de nutrientes.

A barreira do financiamento

No total, 278 autores de 65 países e mais de 59 mil especialistas contribuíram para a realização deste documento, que centrou a sua atenção na questão do investimento financeiro, quer feito pelo setor público, quer pela iniciativa privada.

O relatório refere então que o financiamento é insuficiente para implementar medidas de mitigação, sendo o setor da agricultura o mais afetado. São os países desenvolvidos que têm mais poder para mitigar as consequências do impacto climático que o mundo já está a atravessar, tendo capital disponível. Já no caso dos países em desenvolvimento é necessário que sejam aumentadas as doações.

Sobre o investimento, quer público, quer privado, para bloquear possíveis catástrofes climáticas, o IPCC alerta para o seguinte: "O benefício económico mundial de limitar o aquecimento global a 2ºC é superior ao custo de mitigação na maioria das propostas". 

Sobre o investimento para bloquear possíveis catástrofes climáticas, o IPCC alerta para o seguinte: “O benefício económico mundial de limitar o aquecimento global a 2ºC é superior ao custo de mitigação na maioria das propostas”.

Ainda em relação ao financiamento, importa referir os apoios dados em relação aos combustíveis fósseis, com os especialistas a alertar para a necessidade de eliminar estes incentivos. Um decisão neste sentido “reduziria as emissões, melhoraria os transportes públicos e produziria outros benefícios ambientais”.

“Uma longa lista de promessas climáticas não cumpridas”

Durante a conferência de imprensa do IPCC, que aconteceu depois da aprovação do relatório, António Guterres, secretário-geral da ONU, fez questão de apontar as falhas repetidas nos últimos anos e criticou a inércia dos vários países em relação às alterações climáticas. Defendendo o investimento em energias renováveis, Guterres sublinhou a necessidade de “cortar, nesta década, as emissões globais em 45%” para alcançar os objetivos estabelecidos no Acordo de Paris.

Alguns líderes e empresários estão a dizer uma coisa e a fazer outra. Simplificando, estão a mentir. E os resultados serão catastróficos.”

O secretário-geral da ONU referiu ainda que as conclusões do relatório aprovado esta segunda-feira são “uma longa lista de promessas climáticas não cumpridas”. E deu exemplos sobre o que poderá acontecer se os países não colocarem as alterações climáticas como prioridade: cidades submersas, ondas de calor extremo, falta de água e a extinção de um milhão de espécies de plantas e animais.

Em Portugal, os planos climáticos “não representam ainda cenários compatíveis com o Acordo de Paris”

Na sequência da publicação do relatório do IPCC, a associação ambientalista Zero falou sobre o contexto português, referindo que, ainda que o caminho seja difícil, existe esperança. Apesar de os planos nacionais definidos, como o Plano Nacional de Energia e Clima e o Roteiro para a Neutralidade Carbónica, “serem já bastante ambiciosos, não representam ainda cenários compatíveis com o Acordo de Paris”. A Zero explica, em comunicado, que estes dois planos “não permitem ainda que se atinja um aumento máximo de 1,5ºC”.

Olhando especificamente para Portugal, é então necessário “aumentar ainda mais as metas de redução nacionais” e é urgente implementar “os diversos objetivos da Lei do Clima portuguesa que recentemente entrou em vigor”, incluindo os planos regionais e municipais sobre ação climática.

Será também importante perceber que as emissões totais nacionais, sublinha a Zero, estão a diminuir. No entanto, “esse decréscimo precisa de ser mais rápido”. E aqui surgem os transportes como um dos setores que deve ser alvo de uma “atenção particular”, já que aqui a tendência é precisamente de aumento de emissões.

Olhando especificamente para Portugal, é então necessário "aumentar ainda mais as metas de redução nacionais" e é urgente implementar "os diversos objetivo da Lei do Clima portuguesa que recentemente entrou em vigor", incluindo os planos regionais e municipais sobre ação climática. 

E Francisco Ferreira, presidente da ZERO, reforçou que “nunca houve um momento mais exigente para apostar numa forte descarbonização da economia“. “A necessidade de segurança energética junta-se à necessidade de combate urgente às alterações climáticas e é claro para os Estados o caminho a seguir com a maior urgência.”

Assine o Observador a partir de 0,18€/ dia

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Vivemos tempos interessantes e importantes

Se 1% dos nossos leitores assinasse o Observador, conseguiríamos aumentar ainda mais o nosso investimento no escrutínio dos poderes públicos e na capacidade de explicarmos todas as crises – as nacionais e as internacionais. Hoje como nunca é essencial apoiar o jornalismo independente para estar bem informado. Torne-se assinante a partir de 0,18€/ dia.

Ver planos