Uma longa fuga de apenas dois corredores e logo da mesma equipa, uma vantagem que chegou a ser de 11 minutos, muito tempo para a primeira etapa de uma grande volta como este Giro de 2022 que arrancava com uma ligação entre Budapeste e Visegrád num total de 195 quilómetros. O que fazer? Seguir os conselhos de Simon Yates, líder da BikeExchange que não parecia estar com grande vontade de falar antes do arranque da etapa mas que em poucas palavras resumia o dia: “Objetivo? Andar a fugir de problemas, não cair, não perder tempo. Se os sprinters podem lutar pela vitória ou se é para corredores como Mathieu van der Poel? Depende de como a corrida andar até aos últimos quilómetros, depende do andamento do pelotão…”. Para todos os muitos candidatos à partida para esta edição da Volta a Itália, não havia plano melhor do que esse.

Carapaz, Yates e o #BotaLume: os candidatos à Volta a Itália em que João Almeida quer o pódio

A primeira de três tiradas deste Giro realizadas na Hungria levou muitas pessoas para a estrada, em algumas zonas até demasiado para a estrada com os corredores a pedirem para darem uns passos atrás. E desde o seu início destacaram-se dois elementos transalpinos da Drone Hopper – Andronio Gioccatoli, Filippo Tagliani e Mattia Bais, protagonistas da fuga do dia e vencedores das primeiras passagens com pontos chegando a ter na parte inicial um avanço de 11 minutos perante um pelotão que se tentava poupar ao máximo nesta ida inicial para a estrada. Além da bonita imagem da cavalaria húngara ao lado dos corredores e daquela luta pela terceira posição no sprint intermédio ganho por Giacomo Nizzolo, pouco mais havia a acrescentar.

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O ritmo do pelotão chegou a indiciar que os fugitivos seriam apanhados ainda antes do sprint com direito a bonificação mas os italianos aguentaram bem e só a menos de 15 quilómetros acabaram por ser apanhados pelo resto do pelotão, sendo que entretanto se confirmava que Nicolas Prodhomme, corredor da AG2R, não tinha sofrido de forma aparente consequências daquela que foi a primeira queda neste Giro.

“Com mais contrarrelógio e menos montanha era melhor, mas João Almeida tem as suas hipóteses de chegar ao top 3 do Giro”

Para o britânico Bradley Wiggins, antigo vencedor do Tour e de etapas do Giro, não havia grande dúvida em relação ao favorito à vitória: Mathieu van der Poel. Não sendo um candidato à vitória final, podia andar de rosa nos primeiros dias de corrida em território húngaro. Aliás, o próprio não recusava essa possibilidade. “Correr em Itália é especial. Andar de amarelo no Tour foi diferente até porque tinha lá a minha família mas é uma oportunidade fantástica para conseguir a camisola rosa. Etapa para as minhas características? Sim, pode dizer-se que sim. Não acho que seja suficiente para mandar abaixo os sprinters mas pode causar mossa para depois não estarem nas melhores condições”, comentou o neerlandês antes da prova.

Estava quase tudo feito para o corredor voltar a destacar-se na estreia numa grande volta, após ter andado de amarelo na Volta à França e podendo agora ganhar a rosa na primeira etapa na Volta a Itália. Mais: parecia quase uma homenagem às grandes famílias do ciclismo mundial, olhando para o pai Adri van der Poel (que ganhou etapas do Tour em 1987 e 1988) e para o avô materno Raymond Poulidor (francês que ganhou a geral na Vuelta entre quatro etapas individuais mais sete tiradas no Tour). Mas havia ainda muito por contar.

Quando faltavam pouco mais de oito quilómetros, o pelotão tornou-se mais denso, as equipas começaram a trabalhar de forma mais afincada para colocarem os mais rápidos na viragem para os derradeiros 5.000 metros e faltava estrada no meio de tanto encosto para marcar posição entre uma primeira queda que deixou na estrada três corredores. Os principais nomes estavam todos lá, incluindo João Almeida que contou com a ajuda mais de perto dos outros dois portugueses da equipa (Rui Costa e Rui Oliveira), mas os quilómetros finais estavam mesmo para corredores com outras características. Lawrence Naesen, da AG2R, fugiu, houve mais uma queda no pelotão um pouco mais recuado, Lennard Kämna também descolou mas o triunfo acabou por cair para Mathieu van der Poel com uma queda de Caleb Ewan a cair na última curva. João Almeida terminou na 14.ª posição, a quatro segundos do neerlandês (14 depois das bonificações).