Começou por destacar-se mais novo no BMX, mudou-se para o ciclismo de estrada quando já tinha 18 anos, teve uma carreira longa com várias vitórias em etapas no Tour e no Giro, conseguiu como feitos mais altos os três triunfos na camisola dos pontos da Volta à França entre 2002 e 2006 e a medalha de prata nos Mundiais de estrada em 2002. Nascido na Austrália mas a viver há muitos anos na Bélgica, de onde é natural a sua mulher, Robbie McEwen, que faz em junho 50 anos e que terminou a carreira na estrada há uma década, ainda segue as grandes provas de ciclismo como se delas fizesse parte. Aliás, esse é um dos seus segredos enquanto comentador, neste caso associado ao Eurosport. E a conselho de outro antigo corredor.

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“O Paul Sherwen deu-me um conselho importante para comentar uma corrida. Disse-me ‘Tu foste um corredor profissional de topo, tens de ser o corredor e colocar-te na corrida. Eu tento fazer isso e consegues acompanhar assim. Quando estou a comentar um sprint o meu coração vem para cima, consigo sentir todo o nervosismo no peito. E adoro!”, comentou esta semana sobre o inglês que participou em seis edições do Tour e que morreu em 2018, aos 62 anos, como um dos melhores comentadores da modalidade. E como um sprinter de referência, numa era diferente onde lutava com os italianos Mario Cipollini e Alessandro Petacchi pelas etapas das grandes voltas, o australiano não vê alguém dominador. “Por isso, nenhuma equipa assume o risco de montar toda a equipa à volta de uma estratégia de sprints“, acrescentou.

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Mathieu van de Poel, Biniam Girmay, Mark Cavendish e Caleb Ewen são alguns dos nomes que destaca numa especialidade muito aberta a surpresas. Em relação ao vencedor da Volta a Itália de 202, que arranca esta sexta-feira na Hungria, aí os nomes são menos e colocam entre os da frente o português João Almeida.

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“Vejo uma real oportunidade de acabar entre os três primeiros. Seria bom para ele se o percurso tivesse um pouco mais de quilómetros em contrarrelógio porque este Giro só vai ter dois momentos desses, logo no segundo dia e depois muito no final. Há muito mais montanha do que tenho visto nos últimos anos. Mas continuo a achar que tem as suas hipóteses em chegar aos três primeiros, não sei como conseguirá estar com tanta montanha tendo o Carapaz e o Yates como adversários. Posso estar enganado mas parece-se que o Almeida poderia ter uma prova melhor para si com mais etapas planas ou com montanhas intermédias mas são toneladas de quilómetros em montanha este ano”, comentou para o Observador, numa projeção que permitiria que um corredor português voltasse aos top 3 de uma grande volta 43 anos depois.

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“Os trepadores puros vão beneficiar imenso com este traçado, quanto mais altas são as montanhas melhor é para o Carapaz. Temos também o Tom Dumoulin que preferia mais quilómetros de contrarrelógio, no mesmo barco do que o Almeida. O Yates, embora esteja bem nos últimos contrarrelógios, também beneficia com isso, fica melhor para ele. Este percurso é claramente favorável para o Carapaz e para o Yates”, acrescentou.

“Sim, a Ineos e a Team Emirates serão mesmo duas das favoritas. A Ineos com o Carapaz, já ganhou o Giro, já foi segundo na Vuelta, já fez terceiro no Tour, vai apoiar a 100% alguém que tem já pedigree nestas grandes voltas e vão para a frente da corrida. Em relação à Emirates, não consigo ver enquanto equipa a controlarem etapas como a Ineos. Estou também curioso para ver que tipo de papel poderá ter a Jumbo-Visma, parece-me que se calhar vão ficar mais a ver o que estamos habituados a presenciar neles mas com boas cartas para jogar. Quer a Ineos quer a Bike Exchange serão aquelas duas equipas que veremos mais vezes a tentar controlar a corrida”, abordou a nível de equipas, na mesma base da projeção que faz para os favoritos ao triunfo final beneficiando de um traçado com mais montanha do que é normal.

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Em paralelo, Robbie McEwen abordou ainda a atípica fuga de mais de 100 quilómetros de Richard Carapaz e Sergio Higuita na Volta à Catalunha, numa etapa que viria a mexer por completo com a classificação geral, e falou da importância de novas referências para a modalidade que chegam de vários países diferentes.

“Essa fuga não poderá servir de exemplo na análise ao Giro mas aquilo que vemos é que o Carapaz, até nas corridas mais improváveis, como vimos nos Jogos Olímpicos, arrisca por completo quando consegue ver ou perceber uma oportunidade. Mas é também por isso que esta vai ser uma grande corrida, mesmo havendo uma grande equipa como é a Ineos, que controla as corridas de uma forma metódica, Carapaz é alguém que gosta muito de correr e aproveitar as oportunidades”, salientou o australiano.

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“É cada vez mais importante termos estes ciclistas como João Almeida para aumentar o interesse nas provas e nos seus países de origem, para haver uma globalização do ciclismo. No Equador é o mesmo com o Carapaz, temos agora uma estrela portuguesa, temos americanos, australianos, britânicos que já estávamos habituados, corredores de África que começam a aparecer cada vez mais… É muito bom para o desporto ter estrelas, porque é algo fresco para a modalidade e que prende atenções em mais países”, concluiu.