Perto das 10h00 da manhã desta quarta-feira, a juíza Maria Clara Santos entrou na sala de audiências do Tribunal de Leiria novamente acompanhada apenas de uma juíza adjunto — à semelhança do que acontecera na quarta-feira passada, dia em que era suposto começar as alegações finais. O juiz António Centeno voltava a não estar presente, gerando uma imediata agitação entre as dezenas de advogados presentes. “O senhor juiz está bem de saúde e terminou ontem o isolamento”, começou por afirmar logo a magistrada, esclarecendo a razão para a ausência: “Infelizmente, por uma infeliz coincidência, a mãe morreu ontem à noite”.

Embora já tenha recuperado da Covid-19 — motivo pela qual as alegações foram adiadas da primeira vez —, a morte da mãe do juiz adjunto levou então o tribunal a cancelar as sessões marcadas para esta semana e a adiar as alegações finais para o próximo dia 18 de maio, tendo em conta que o juiz tem direito a cinco dias de licença de luto.

“Com fundamento na impossibilidade de compor o tribunal coletivo em virtude de o excelentíssimo colega se encontrar de licença de nojo, por motivo de falecimento da sua progenitora ontem à noite, adio a audiência para o dia 18 de maio, pelas 9h30”, afirmou a presidente do coletivo de juízes.

A juíza Maria Clara Santos explicou que teve conhecimento da morte da mãe do juiz adjunto por volta da meia-noite desta terça-feira, pelo que não foi possível informar os advogados e arguidos. “Temos um tribunal constituído por pessoas e não por máquinas”, rematou a juíza presidente do coletivo.

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Esta é assim a segunda vez que o arranque das alegações finais do Ministério Público — que deverão durar um dia inteiro — é adiado. Na passada quarta-feira, 4 de maio, o mesmo magistrado tinha testado positivo à Covid-19 na tarde do dia anterior, levando ao cancelamento da sessão e adiamento para esta quarta-feira.

Julgamento de Pedrógão Grande. Alegações finais adiadas para a próxima semana após juiz testar positivo à Covid-19

Quem são os 11 arguidos do processo de Pedrógão Grande?

São 11 as pessoas que estão a ser julgadas e que enfrentam uma possível condenaçãodois responsáveis da EDP acusados de não terem acautelado a criação das faixas de limpeza junto a uma linha de média tensão — que teve uma descarga elétrica de causa não apurada que desencadeou o incêndio; cinco autarcas, três da Câmara de Pedrógão Grande, entre eles o próprio presidente, Valdemar Alves, que está acusado de sete crimes de homicídio por negligência e quatro de ofensa à integridade física, dois deles graves. Da lista constam ainda autarcas de Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, a quem são apontadas falhas na limpeza dos terrenos junto a estradas.

Três responsáveis da concessionária Ascendi Pinhal Interior estão acusados também de falta de manutenção das estradas. Outro nome da lista é o do comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande, António Arnaut, que terá omitido informações que poderiam ter levado ao corte da Estrada Nacional 236 onde morreram 47 pessoas.

Terão falhado na limpeza de terrenos e impedido o corte da EN 236-1. De quem é a culpa da tragédia de Pedrógão Grande?

O julgamento chegou às alegações depois de 52 sessões em que se ouviram dezenas de testemunhas. No próximo dia 18 de maio, a Procuradora da República Ana Mexia, que está em exclusividade neste processo, terá o dia todo para apresentar as suas conclusões e, no final, apelar ao tribunal que condene ou não os arguidos e a que penas. Já nas sessões seguintes estão previstas as alegações dos advogados dos assistentes do processo e, depois, alegam as defesas dos arguidos.

O julgamento, que entra assim numa fase final, já decorre há quase um ano: a sessão de arranque foi no dia 24 de maio de 2021 — altura em que já tinham passado quase cinco anos desde os incêndios. A leitura do acórdão só é marcada depois das alegações — e caso nenhum arguido queira prestar mais declarações ou os próprios juízes queiram ouvir alguma testemunha ou perito para esclarecer qualquer dúvida.

Sete arguidos em silêncio e 50 pessoas numa sala. Um início atribulado do julgamento do “tsunami” de Pedrógão Grande