O Tesouro português pagou juros mais elevados para emitir dívida a oito anos, uma taxa de 1,767% que compara com os 1,008% que tinham sido pagos numa emissão a um prazo ainda mais longo (10 anos) que foi feita em fevereiro. Ainda assim, o IGCP obteve o máximo do financiamento pretendido: 750 milhões de euros.

Esta foi uma reutilização de uma linha de obrigações do Tesouro que tem maturidade prevista para outubro de 2030 – essa é a altura em que o Estado terá de reembolsar o capital dos investidores e, até lá, paga juros anuais. O preço a que os novos títulos foram emitidos faz, porém, com que se calcule uma rendibilidade de 1,767% para os investidores.

“Se comparamos com a emissão que fizemos em abril, na altura para um prazo de 10 anos, Portugal emitiu com uma yield de 1,65%”, recorda Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa, em nota de análise difundida pelos jornais – “agora, para um prazo de 8 anos, estamos a emitir com uma yield de 1,767%”, acrescenta.

A subida que estamos a assistir no prémio de risco de Portugal não é um caso isolado e está diretamente associado aos fatores disruptivos que estamos a viver atualmente. A guerra na Ucrânia, bem como os confinamentos na China, acabam por não deixar normalizar os problemas que temos tido nas cadeias de abastecimento, elevando ainda mais a inflação e ao mesmo tempo, aumentando a pressão sobre os bancos centrais”, refere o especialista.

Filipe Silva acrescenta que, “numa adaptação a esta realidade temos assistido à retirada de estímulos e a subida das taxas de juro, que apesar de serem transversais a toda a dívida soberana, acabam por penalizar mais os países mais endividados”, como é o caso de Portugal.

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A diferença das taxas entre os países da periferia e a Alemanha tem aumentado o que acaba por ficar espelhado no custo que têm para emitir nova dívida. Se os bancos centrais têm um desafio ao ter de subir taxas e adotar medidas, que não coloquem em causa o crescimento das economias, os governos irão ter outro com a subida do custo para emitir dívida e o impacto que o mesmo terá nas finanças nacionais”, conclui Filipe Silva.

A emissão de dívida, marcada para esta quarta-feira, coincidiu com o dia em que a presidente do BCE confirmou que deverá terminar o programa de compra de dívida nos mercados – que tem ajudado a baixar os custos de financiamento de Portugal – no início do terceiro trimestre. E a primeira subida das taxas de juro pode vir “poucas semanas depois”, ou seja, dando a entender que poderá acontecer na reunião do BCE a 21 de julho.

Presidente do BCE admite subir taxa de juro no início do verão