Downton Abbey: Uma Nova Era

É “business as usual” na casa senhorial da família Crawley e também neste segundo filme tirado da série “Downton Abbey”, escrito como sempre por Julian Fellowes e realizado por Simon Curtis. Está tudo no seu devido lugar, dos membros da família aos serviçais, passando pelo mais ínfimo dos adereços, recriando um mundo, uma sociedade, um conjunto de valores partilhados e um tipo de relações humanas e entre classes sociais que desapareceram há muito, numa atmosfera de “soap opera” de cinco estrelas. Desta vez, enquanto parte dos Crawley, e alguns criados, rumam a França para perceber porque é que um aristocrata local deixou uma moradia de luxo na Côte d’Azur a Lady Violet, outra parte fica em Downton Abbey, onde se vai rodar um filme mudo que pagará o conserto do telhado (e é o melhor e mais divertido destes dois enredos paralelos). Há ainda um casamento, uma morte, um nascimento e uma importante passagem de testemunho familiar. “Downton Abbey: Uma Nova Era” continuará a irritar quem não gostou da série e a deliciar os que a plebiscitaram. Mas que é impecavelmente bem feito, isso ninguém pode negar.

Um Filme em Forma de Assim

Com o devido argumento, o ator certo e o apoio da biografia escrita por Maria Antónia Oliveira, seria possível fazer um filme sobre a vida de Alexandre O’Neill. João Botelho recorreu à biógrafa do escritor em “Um Filme em Forma de Assim”, mas foi para rodar uma fita totalmente anti-convencional sobre ele, uma extravagância passada numa Lisboa de há meio século recriada em estúdio (e que não o esconde) e dominada pela música, que envolve praticamente todos os diálogos, textos e poemas de O’Neill que Botelho selecionou. Dados biográficos e cronologia de vida são dispensados (ou apenas aludidos) em “Um Filme em Forma de Assim”, que prefere contemplar as palavras do escritor, os ambientes musicais e os climas, ora “realistas” ora oníricos e fantasistas. Apesar de haver um par de atores que personificam O’Neill, ele é uma personagem essencialmente “coletiva”, representada pela sua escrita em prosa e em verso. A premissa do filme acaba por cansar e por se repetir, já que quase não há narrativa, conflito ou interação dramática, mas toda a experiência, da ideia à concretização visual e musical, é de aplaudir.

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Vaca

Depois de “Gunda”, de Viktor Kossakovsky, sobre uma porca de uma quinta na Noruega e as suas crias, feito na perspetiva da ideologia animalista, temos agora “Vaca”, primeiro documentário de Andrea Arnold, que acompanha o ciclo de vida de uma vaca, Luma, numa grande exploração leiteira em Inglaterra. A realizadora cresceu no campo, numa quinta, rodeada de animais, e tem por eles uma enorme empatia e uma grande curiosidade. A sua intenção em “Vaca” é muito menos sugerir a existência de qualquer tipo de emoções “humanas” ou de uma autoconsciência nestes animais e vender-nos um discurso emocionalmente manipulador e de ativismo, do que mostrar como é a existência das simpáticas e plácidas vacas, que tanta coisa nos dão, aproximando-nos delas através da dita Luma e fazendo-nos refletir sobre os níveis da sua senciência, assim como sobre a nossa relação com os animais de criação, que nos são bastante próximos — tal como muito úteis. É um filme curioso e sincero, com alguns momentos poéticos  e um final que, mesmo esperado, deixará perturbados os mais impressionáveis.

A Vida Depois de Yang

Um filme de ficção científica realizado por Kogonada, sul-coreano radicado nos EUA e autor de “Columbus”, e passado num futuro “high tech”, onde a inteligência artificial está muito desenvolvida. O Yang do título é um andróide adolescente e chinês que Jake (Colin Farrell) e a mulher Kyra (Jodie Turner-Smith) compraram para servir de “irmão mais velho” à sua filha adotiva chinesa, Mika, e para a “manter ligada” à sua herança e cultura. Só que um belo dia, Yang avaria-se, fica parado e mudo e como Jake e Kyra não querem ferir os sentimentos da menina, decidem mandar consertá-lo em vez de comprar um novo. Aí começam os trabalhos de Jake, porque apesar de nesta sociedade do futuro em que ele e a sua família vivem se poderem fazer clones dos filhos, as casas serem super-inteligentes e os carros se guiarem sozinhos, parece que consertar um andróide de família é uma tarefa praticamente impossível. “A Vida Depois de Yang” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.