Terminou este domingo em Berlim a reunião informal dos ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO, um encontro motivado pela guerra lançada pela Rússia contra a Ucrânia e com o possível alargamento da aliança atlântica à Finlândia e à Suécia no centro da agenda.

A reunião contou com a presença dos ministros sueco e finlandês como convidados e, enquanto os ministros debatiam o assunto em Berlim, o Presidente e a primeira-ministra da Finlândia falavam publicamente em Helsínquia e confirmavam o que já se esperava: a Finlândia vai mesmo abandonar a sua longa política de neutralidade e candidatar-se à NATO.

No final da reunião em Berlim, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, saudou a possibilidade de Finlândia e Suécia virem a aderir à aliança. “Vamos respeitar qualquer decisão que tomem. Todas as nações soberanas têm o direito de escolher o seu caminho”, disse Stoltenberg, antes de confirmar que “a Finlândia e a Suécia são parceiros próximos da NATO”.

“Se decidirem juntar-se será um momento histórico. A sua adesão à NATO vai aumentar a nossa segurança partilhada, demonstrar que a porta da NATO está aberta”, acrescentou.

Stoltenberg explicou ainda que a discussão em Berlim se centrou também no apoio à Ucrânia e na análise dos movimentos militares. “Hoje, os aliados discutiram o forte apoio à Ucrânia. A guerra da Rússia na Ucrânia não está a correr como Moscovo tinha planeado. Não tomaram Kiev, estão a retirar-se de Kharkiv e a sua grande ofensiva em Donbass estagnou”, disse Stoltenberg.

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“A Rússia não está a atingir os seus objetivos estratégicos. O Presidente Putin quer a Ucrânia derrotada e a NATO dividida. Mas a Ucrânia está de pé e a NATO mais unida do que nunca”, acrescentou ainda o norueguês.

Ainda falta unanimidade para entrada da Finlândia e Suécia na NATO

A adesão da Finlândia (e, posteriormente, da Suécia) à NATO obrigará a uma aprovação por unanimidade por parte dos atuais Estados-membros da aliança atlântica — e esse será um desafio para os debates das próximas semanas.

Apesar do apoio generalizado à adesão da Finlândia e da Suécia à NATO, regista-se a voz discordante da Turquia.

O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse recentemente que a Turquia não é favorável à entrada daqueles dois países na aliança. “Os países escandinavos, infelizmente, são quase como casas de hóspedes de organizações terroristas“, disse, referindo-se especificamente ao PKK, classificado como uma organização terrorista pela Turquia, mas também pela União Europeia (UE) e pelos Estados Unidos.

O Presidente finlandês anunciou este domingo que a Finlândia vai mesmo candidatar-se à NATO — uma decisão que é apoiada pela maioria dos países, incluindo Portugal e os Estados Unidos.

Numa série de conferências de imprensa este domingo, na sequência do anúncio de Helsínquia, vários responsáveis disseram haver espaço para um consenso dentro da aliança.

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, disse estar “confiante” de que os membros da NATO vão conseguir “encontrar um espaço de entendimento“. A ministra dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, garantiu que se Suécia e a Finlândia estiverem prontas a NATO também está preparada para os acolher.

Também em Berlim, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, assegurou que Washington apoia a entrada da Suécia e da Finlândia na NATO e garantiu: “Estou muito confiante de que chegaremos a um consenso.”

Em Helsínquia, o Presidente finlandês, Sauli Niinistö, disse estar “confuso” com a posição turca, uma vez que no mês passado o próprio Erdogan lhe garantiu apoiar a entrada da Finlândia na NATO.

Mas a Turquia já procurou esclarecer o que pensa sobre o assunto. O ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Mevlut Cavusoglu, mostrou-se conciliador em relação à Finlândia, mas criticou a Suécia por fazer declarações “provocadoras”, durante as discussões sobre a adesão dos dois países à NATO, em Berlim.

“Infelizmente, as declarações da Ministra dos Negócios Estrangeiros da Suécia [Ann Linde] não são construtivas. Continua a fazer comentários provocativos”, afirmou Mevlut Cavusoglu à imprensa turca em Berlim, à margem da reunião informal dos Ministros dos Negócios Estrangeiros da Aliança Atlântica.

Por outro lado, o ministro turco adotou um tom mais conciliador em relação à Finlândia, que qualificou de “muito respeitosa” diante das “preocupações” de Ancara.

“Mas não vemos a mesma atitude da Suécia”, insistiu.

“Sempre apoiámos a política de portas abertas da NATO. (…) Mas o facto de estes dois países estarem em contacto com membros de uma organização terrorista, a Suécia a enviar-lhes armas e imporem restrições à exportação de material de defesa para a Turquia vai contra o espírito da Aliança”, afirmou Mevlut Cavusoglu.