Paul Krugman, economista norte-americano laureado em 2008 com o Nobel da Economia, considera que União Europeia (UE) tem “falta de um líder” e que está “confusa” sobre como agir perante a guerra. Mais: não está a fazer o suficiente para ajudar a Ucrânia, o que é “problemático” porque significa que está a perder força no tabuleiro mundial.

O também colunista do The New York Times participou esta terça-feira numa conferência online organizada pela Academia das Ciências de Lisboa dedicada ao tema “A guerra e o cesto do pão” e foi questionado sobre que mudanças na “balança política e económica” podem observar-se dentro da UE e entre a UE, os EUA e a China. E sobre se acredita que a guerra aumenta ou diminui a complexidade do comércio mundial.

Krugman começou por dizer que não só o mundo “tem falta de um líder”, como “a UE definitivamente tem falta de um líder“. E foi mais longe na crítica: “Num feio comentário americano, parece-me que há uma espécie de competição entre os líderes de França e da Alemanha para ver quem age pior para abordar esta ocasião”, apontou.

“Isso é muito problemático e significa que a UE é uma força reduzida nos assuntos globais. A UE tem os recursos e a sofisticação para ser um grande interveniente e tem sido, de algumas formas, um grande fornecedor de ajuda ao estrangeiro. Mas neste momento parece confusa sobre para onde ir. Agora há uma guerra e, pelo menos verbalmente, todo o mundo democrático apoia a Ucrânia. Mas se perguntarem quem realmente está a fornecer ajuda relevante neste momento [a resposta] seria alguns países da Europa de leste, o Reino Unido e os EUA. A UE simplesmente não está lá“, criticou.

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Se o comércio mundial está ou não mais complexo é difícil de averiguar porque o mundo está mergulhado em “incerteza”. Mas o economista acredita que os países vão cada vez mais procurar alternativas face aos “regimes em que não confiam”.

“Estamos certamente a caminhar para um mundo em que toda a gente vai ficar extremamente nervosa por depender de componentes cruciais da cadeia de abastecimento vindos de regimes em que não confinam. E há muitos. Vamos certamente ver nos EUA, e suspeito que na Europa também, uma tentativa de reassegurar a produção de muitos componentes industriais chave“, defendeu.

Isso não significa que os países vão querer deslocar a produção para os seus territórios, mas, por exemplo, deixar de depender da China para adquirir semicondutores. “Vamos ver uma descomplexificação do comércio mundial. O comércio mundial vai voltar à forma mais simples que tinha, em que os países comercializavam bens acabados em vez de cadeias de valor complexas”, acrescentou. Krugman diz-se “preocupado” com essa “descomplexificação” porque pode dar menos oportunidades aos mercados emergentes de se desenvolverem.

Paul Krugman, de 69 anos, foi distinguido com o Nobel da Economia em 2008 pelo trabalho na análise dos padrões de comércio e da localização da atividade económica, ao explicar como as economias de escala têm efeitos no comércio (e na geografia desse comércio). O colunista do The New York Times já esteve várias vezes em Portugal. Em 2016, durante uma visita, escreveu no jornal que a situação em Portugal estava “terrível”, mas não tão má quanto anos antes.

Krugman. “As coisas estão terríveis aqui em Portugal”

A conferência de terça-feira foi online, mas Krugman esteve em Portugal a passear de bicicleta. Recentemente, publicou no Twitter que viajou entre Évora e Sagres, passando também por Faro e Tavira. Num outro post, já tinha adiantado que estaria mais ausente das redes sociais e até da sua coluna no The New York Times por ir fazer uma viagem de bicicleta.