Dois suspensos, outro sem a confiança de Putin garantida: esta quinta-feira, 19 de maio, os serviços de informação britânicos informaram que a guerra já provocou baixas em altas patentes russas com responsabilidades na gestão das ofensivas militares do Kremlin na Ucrânia.
Segundo nota publicada no Twitter do Ministério da Defesa britânico, foram já três as figuras de proa do exército russo a ficar em situação periclitante face a “desempenhos pobres” nas primeiras fases da invasão militar, que oficialmente Vladimir Putin continua a garantir estar a correr exatamente como esperado: são eles o tenente-geral Serhiy Kisel, o general Valery Gerasimov e o vice-almirante Igor Osipov.
Os sinais de purgas na cadeia de comando militar da Rússia vão contra uma máxima habitualmente ouvida de que em tempo de guerra não se trocam generais. O ministério da Defesa britânico vai mais longe e fala mesmo numa “cultura de encobrimentos” e de encontro de bodes expiatórios para justificar os erros, que “é provavelmente predominante no exército e no sistema de segurança russo”.
Para os serviços de informação britânico, os sinais têm um efeito claro: muitos dos oficiais envolvidos na invasão à Ucrânia “vão ser cada vez mais distraídos por esforços para evitar serem pessoalmente culpados pelos contratempos operacionais da Rússia”. Tal “irá provavelmente aumentar a tensão no modelo centralizado de comando e de controlo da Rússia” e “será difícil à Rússia recuperar a iniciativa” militar face às forças ucranianas “nestas condições”.
Latest Defence Intelligence update on the situation in Ukraine – 19 May 2022
Find out more about the UK government's response: https://t.co/qqKi2Uagzx
???????? #StandWithUkraine ???????? pic.twitter.com/1JYJHtSWRT
— Ministry of Defence ???????? (@DefenceHQ) May 19, 2022
As três altas patentes com “prestações pobres” na Ucrânia
Dos três nomes mencionados pelos serviços de informação britânicos, todos tinham uma liderança militar reconhecida mas o mais conhecido no meio e aquele que mais influência tinha na estratégia militar russa é o general Valery Gerasimov, chefe do Estado-Maior da Rússia.
Visto como um dos grandes pensadores militares e decisores táticos da estratégia adotada pelos vários esquadrões russos presentes na Ucrânia, sendo aliás descrito como o principal comandante das forças invasoras em território ucraniano (e uma das figuras da Defesa de maior confiança de Putin, até à guerra), Gerasimov “provavelmente mantém-se no cargo” mas não é claro se ainda “mantém a confiança do Presidente Putin” nas suas capacidades.
A dúvida é levantada agora pelos serviços secretos britânicos, mas a especulação em torno do assunto já não é recente — só não tinha sido corroborada por uma fonte tão confiável. Um conselheiro do Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, Oleksiy Arestovych, até já tinha sugerido que Valery Gerasimov teria sido demitido. Citara então “informação preliminar” que apontava nesse sentido.
Aparentemente não se confirma a informação, avançada pelo conselheiro de Zelensky numa altura em que o desaparecimento do espaço público de Gerasimov (tal como do ministro da Defesa, Sergei Shoigu) era muito comentado nas redes sociais e levantava suspeitas. Mas a aparente ausência de Gerasimov da parada militar do “Dia da Vitória”, a 9 de maio, causou surpresa: não surgiu pelo menos nos planos habituais, junto a Vladimir Putin ou ao ministro da defesa Sergei Shoigu.
As “prestações pobres”, ou pelo menos aquém do planeado, de algumas unidades e batalhões russos na Ucrânia também terão feito Vladimir Putin mudar de opinião sobre Igor Vladimirovich Osipov — mas neste caso fizeram mesmo o Presidente russo demitir o seu comandante da frota do Mar Negro, de acordo com os serviços de informação britânicos.
Segundo o ministério de Defesa do Reino Unido, o vice-almirante terá sido suspenso depois do navio russo Moskva ter afundado em abril, na sequência de ataques ucranianos. Igor Osipov, de 48 anos, foi recentemente alvo de sanções da União Europeia. Nascido no Cazaquistão, com uma carreira inteiramente dedicada à defesa russa na área naval, era um comandante condecorado com uma medalha da Ordem de Mérito da Marinha, por “excelência militar” e “esforços de economia marítima”.
Quem também terá sido suspenso de funções foi o tenente-general russo Serhiy Kisel. O militar, que comandava a primeira unidade de elite de artilharia do exército russo, “foi suspenso pelo seu fracasso na captura de Kharkiv”, a segunda maior cidade ucraniana, garante o Governo britânico. Esta unidade, lembra o jornal britânico The Telegraph, já existia na II Guerra Mundial e no combate da União Soviética contra a Alemanha Nazi. Depois de ter sido desmantelada em 1999, voltou em 2014 como unidade de elite.
Na sequência do falhanço da invasão russa à Ucrânia no prazo previsto — e da demora em chegar à capital Kiev —, a especulação sobre possíveis demissões e suspensões de outros comandantes do exército russo foi muita, tendo envolvido várias outras altas patentes do exército como o tenente-general Vladislav Ershov e o major-general Arkady Marzoev.