Seja pelas entrevistas a vários meios internacionais que vai dando (mantendo sempre o mesmo discurso a nível de momento e de objetivos), seja pelos elogios dos principais adversários, seja pela própria posição na classificação geral, João Almeida é sempre um nome a ter em conta na Volta a Itália. Foi assim em 2020, na edição em que se destacou por andar duas semanas de rosa até acabar a prova no quarto lugar. Foi assim em 2021, no ano em que terminou no top 6 de seis etapas, cinco na terceira e última semana. É assim em 2022, na estreia numa grande volta pela UAE Team Emirates com maiores ambições do que nas épocas passadas. Por isso também, esse reconhecimento é crescente e puxa também pelos portugueses.

E nada Génova mudou: Stefano Oldani vence ao sprint, López segura a rosa, João Almeida mantém 3.º lugar

Ainda antes da saída para a 13.ª etapa a partir de Sanremo e com chegada a Cuneo numa ligação “só” com 150 quilómetros, João Almeida juntou-se aos seus compatriotas e companheiros de equipa Rui Costa e Rui Oliveira para tirar algumas selfies com adeptos nacionais que fizeram questão de marcar presença junto da UAE Team Emirates, juntando-se també aos pais de João Almeida que, à semelhança dos outros anos, já se encontram em Itália. Depois de uma tirada na véspera descrita pelo chefe de fila como “um dia preenchido para todo o pelotão com muita gente nervosa e uma equipa da UAE Team Emirates que soube defender a sua posição”, o dia reunia todas as condições para ser um momento para respirar fundo antes das duas etapas de montanha que fecharão a segunda semana de prova, com chegadas a Turim e Cogne.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

No entanto, e como se viu bem na tirada que ligou Santarcangelo di Romagna a Reggio Emilia, todos os momentos, segundos e pormenores contam. Foi aí por exemplo, numa etapa que à partida não deveria ter grande história, que a Ineos trabalhou da melhor forma para lançar Richard Carapaz para três segundos de bonificação que colocaram o equatoriano na segunda posição da classificação geral com o mesmo tempo de João Almeida e a 12 segundos da camisola rosa de Juan Pedro López. Por isso, o corredor de A-dos-Francos tinha esse aviso na tentativa de pelo menos guardar o terceiro lugar antes de um fim de semana com potencial para promover uma alteração da liderança do Giro (para quem era a grande dúvida).

O segredo estava nas bonificações: Dainese vence 11.ª etapa, Carapaz ganha três segundos a Almeida e português desce para terceiro do Giro

Depois de uma primeira tentativa de fuga anulada logo nos quilómetros iniciais, um grupo constituído por cinco corredores (Nicolas Proghomme, Filippo Tagliani, Julius Van der Berg, Mirco Maestri e Pascal Eenkhoorn) conseguiu mesmo descolar e promover o primeiro corte do dia, com mais de três minutos de avanço quando se ia apenas no 20.º quilómetro de uma etapa com muito calor que subiram a quase cinco minutos e meio a 100 quilómetros da meta. Todavia, a notícia do dia era outra, má para a DSM e “positiva” para João Almeida: Romain Bardet, francês que no Blockhaus tentou o ataque final na subida e que foi espreitando nas últimas tiradas a conquista de bonificações, foi forçado a abandonar a prova quando seguia na quarta posição da geral individual a dois segundos de Carapaz e Almeida e a 14 de Juanpe López.

A fuga continuava o seu percurso passando os seis minutos de vantagem mas as conversas passavam na totalidade pelo impacto da saída de Bardet das contas. Logo à partida, era bom para o português até numa perspetiva de obtenção de top 3 e essa parecia ser a principal nota mas havia depois muitas conjeturas que podiam ser feitas a partir daí. Carapaz e/ou Mikel Landa iriam ganhar mais fôlego para irem para a frente sem o francês? Thymen Arensman, o melhor posicionado da DSM, ainda teria uma palavra a dizer? Jai Hindley (que tinha ainda Emanuel Buchmann também da Bora no top 10), Guillaume Martin ou Domenico Pozzovivo redobravam as esperanças de subida na geral? Uma coisa é certa e ninguém tinha dúvidas: a corrida poderia mudar em parte as suas características, podendo ser ainda mais tática do que já ia ser.

Voltando à corrida, já sem Filippo Tagliani na frente, a vantagem dos fugitivos descia para quatro minutos, Démare reforçava a vantagem na classificação dos pontos com mais três no sprint intermédio e Diego Rosa continuava com o mesmo avanço na classificação da montanha que não sofreu alterações. E para não fugir à regra, também as bonificações em San Michele di Mondovi ficaram entre os fugitivos, mostrando ainda longe da meta que o dia podia ou não ser decidido ao sprint mas as principais equipas estariam sobretudo a rolar e a pensar nos objetivos seguintes apesar das quebras por causa do vento. Foi mesmo. E Démare somou aquele que foi o terceiro triunfo no Giro de 2022, sem mexidas nas diferenças da geral.