Esta é uma das raras ocasiões em que Portugal é “líder” entre os países da União Europeia, mas (infelizmente) não por um bom motivo. Em causa está a recarga das baterias dos veículos eléctricos, com todos os mercados a tentar oferecer a maior rede de postos possível aos utilizadores de modelos 100% a bateria, condição necessária para que esta tecnologia se torne mais popular e tenha um maior número de viaturas em circulação. Sucede que a Tesla é proprietária da maior rede europeia de postos de carga rápida – a 150 kW (os V2) ou a 250 kW (os V3) – e, depois de uma fase piloto de testes, abriu esta semana parte desses pontos de carregamento ao público, em todos os países da União Europeia onde o construtor norte-americano está presente, excepto em Portugal. Significa isto que os condutores europeus que utilizam modelos de outras marcas passam a poder recarregar nos Superchargers, mas não em Portugal.
A Tesla possui 33.657 Superchargers (dados de Abril de 2022), repartidos por 3724 estações espalhadas pelo mundo. Só na Europa, há 6039 Superchargers e 601 estações, com uma média superior a 10 pontos de abastecimento por estação, o que converte a rede da Tesla na maior rede de carregamento a nível mundial e, também, na maior no Velho Continente.
Superchargers da Tesla já estão abertos ao público em três países
Por comparação com esta rede de pontos de carga, integralmente propriedade da Tesla e suportada exclusivamente pelo fabricante norte-americano, temos a rede Ionity. Este consórcio formado pelos “gigantes” Volkswagen AG, BMW Group, Mercedes, Ford e Hyundai/Kia oferece hoje apenas 1738 supercarregadores, divididos por 417 estações, o que dá uma média de somente 4,2 pontos de carga por estação. De recordar que os accionistas da Ionity tiveram de recorrer a um investidor de capital de risco, a BlackRock, em busca de financiamento para continuar a crescer. E, mesmo assim, inauguraram menos supercarregadores em cinco anos do que a Tesla num ano e meio.
A Tesla abriu a sua rede de Superchargers a veículos da concorrência, tranquilizando os seus clientes ao garantir que continuarão a existir pontos de carga rápida disponíveis sempre que necessitem e a um preço inferior ao cobrado aos “visitantes” de outros construtores, prevendo atingir 90.000 Superchargers globalmente dentro de dois anos, quase o triplo do que possui agora. Os clientes “não Tesla” terão de instalar a aplicação da marca para aceder à rede de carga e depois decidir o tarifário que mais se adapta às suas necessidades, tal como hoje já acontece com a rede da Ionity.
Tesla abre em três meses mais postos do que a Ionity em quatro anos
Esta é a situação que os utilizadores de veículos eléctricos irão encontrar em todos os países europeus, mas não em Portugal. Por cá, o sistema implementado pela Mobi.e implica a necessidade de existir um comercializador de electricidade para a mobilidade eléctrica (CEME) e um operador de posto de carga (OPC), antes de um só quilowatt passe do posto de carga para a bateria do veículo, que cobram em separado, cada um aplicando as suas taxas e impostos. Isto impede a Tesla de funcionar no nosso país da mesma forma como opera no resto da Europa, sobretudo porque não se constituiu como um CEME, à semelhança do que já acontece com a Ionity, cuja aplicação europeia não funciona em Portugal. Também a funcionalidade Plug&Charge, que todos os eléctricos das diferentes marcas do Grupo Volkswagen, com base na MEB, vão passar a ter através de uma actualização de software over-the-air, prevista para meados deste ano, por cá não funcionará. A função permite que o processo de carregamento se inicie automaticamente assim que o posto de carga identifica o veículo e, por outro lado, tem a vantagem de ser mais transparente nos preços (fixos ou com ligeiras variações consoante o país). Porém, segundo nos disse fonte da VW, o Plug&Charge não será capaz de funcionar nas condições impostas no mercado nacional. Aliás, estas limitações são as mesmas que impedem empresas como o Continente e a Tesla, a quem foi permitido lançar as suas redes em solo nacional, de as continuar a aumentar em benefício dos clientes e utilizadores de veículos eléctricos em geral.