Foi assim após a conquista do Campeonato, foi assim após a vitória na Taça de Portugal. As feridas abertas pelas declarações públicas entre responsáveis de FC Porto e Sporting, adensadas por tudo o que se passou no encontro da Liga no Dragão entre ambos, veio deteriorar ainda mais as relações entre os rivais e Pinto da Costa, presidente dos azuis e brancos, não perdeu a oportunidade para deixar mais “farpas” na última intervenção que teve, na comemoração dos 35 anos da conquista da primeira Taça dos Campeões Europeus de futebol frente ao Bayern em Viena com golos de Madjer e Juary, visando Frederico Varandas.
“Ganhei sempre as eleições, não por mérito mas porque os sócios acharam que sabia escolher os melhores. Nunca fui eleito sem ter o maior número de votantes. No FC Porto cada sócio é um voto, por isso não precisei de ter os votos dos mais velhos para bater qualquer adversário que tivesse mais votos do que eu”, atirou, fazendo uma alusão não direta ao sistema eleitoral dos leões e à forma como Varandas venceu as primeiras eleições no Sporting tendo menos votantes mas mais votos do que João Benedito.
Agora, na resposta, o presidente dos verde e brancos não se poupou nas palavras, sendo ainda mais crítico do que tinha sido após esse encontro do Campeonato frente aos portistas numa conferência que iria depois terminar em muita confusão com elementos dos dois clubes na garagem do Estádio do Dragão.
“Este jogo reflete os últimos 40 anos do futebol português e da era Pinto da Costa”, acusa Varandas
“Não me lembro de ver o nosso rival FC Porto vencer um Campeonato e o Sporting e o seu presidente serem o alvo da sua comunicação e o centro da sua atenção. Não só não é motivo de preocupação como é reconfortante, motivador e encorajador. É a confirmação de que estamos no rumo certo, de que o Sporting já não é visto como o ‘terceiro grande’. Como o terceiro e ‘simpático’ grande. E como é maravilhoso ouvir o senhor Pinto da Costa com saudades e a elogiar o Sporting do passado recente. Há gente que por muito que ganhe continuará sempre a ser muito pequena e sobretudo muito pobre. Não existe maior pobreza do que a pobreza do caráter, da integridade e de valores. São e serão sempre gente muito pobre, ao contrário da grandíssima e honrosa instituição que representam”, começou por apontar o líder leonino num discurso feito para associados verde e brancos este domingo no Núcleo do Sporting de Carregal do Sal.
“Essa instituição jamais será chamada em Alvalade, pelo nosso speaker, por outro nome que não seja FC Porto. Jamais terá os seus jogadores agredidos por elementos da organização do Sporting. Jamais verá em Alvalade o seu presidente a ser-lhe roubado o telemóvel cobardemente. Terá sempre os seus órgãos sociais e colaboradores recebidos em segurança e de uma forma institucionalmente correta e digna. Jamais verá em Alvalade jornalistas agredidos, ameaçados ou coagidos, por colocarem questões no exercício da sua profissão. Eles não sabem nem nunca saberão o que é de facto ser grande. E jamais o Sporting será pobre ou pequeno”, acrescentou ainda sobre os episódios recentes da rivalidade.
“Sobre o senhor Pinto da Costa, sou obrigado a discordar veementemente do senhor Secretário de Estado do Desporto, que recentemente tomou posse. O senhor Pinto da Costa não é nem nunca poderá ser uma referência do desporto nacional. E eu vou explicar porquê, convidando o senhor Secretário de Estado a ouvir apenas uma escuta, entre muitas que estão disponíveis para qualquer pessoa na internet, do processo Apito Dourado. Destaco esta de 24 de janeiro de 2004 [horas antes de um FC Porto-Estrela da Amadora] onde, de viva voz, o presidente do FC Porto, senhor Pinto da Costa, por intermédio do empresário de jogadores António Araújo, oferece os serviços sexuais de três prostitutas à equipa de arbitragem liderada por Jacinto Paixão, a quem Pinto da Costa, nessa escuta, chama carinhosamente ‘JP’”, advogou.
Queixa-crime de Pinto da Costa sobre Varandas por difamação e ofensas à honra vai a julgamento
“É verdade que estas escutas não foram autorizadas pela Justiça portuguesa para uso de prova e o senhor Pinto da Costa foi absolvido do processo. Mas, se é verdade que essas escutas não puderam ser usadas como prova, também é verdade que elas são reais e aconteceram mesmo. Aqui, senhor Secretário de Estado, não é preciso a Justiça dizer o quer que seja para sabermos que o senhor Pinto da Costa é um corruptor ativo e alguém que deveria estar banido do dirigismo desportivo há décadas. Difícil é explicar a qualquer cidadão como é que uma pessoa apanhada a dizer isto não é condenada”, continuou.
“Ao senhor Pinto da Costa, por mais que lhe custe e por mais tentativas que faça para tentar apagar as suas ações, será sempre recordado como um corruptor ativo. E eu aqui estarei para lhe recordar até ao último dia da sua presidência que é um corruptor ativo e uma vergonha para o desporto português, ao mesmo tempo que aguardarei com expectativa o desfecho do processo Cartão Azul. Um país que reconhece o senhor Pinto da Costa como uma referência é um país sem valores. E um país sem valores é um país sem futuro. Portugal não pode nem nunca poderá ser esse país”, prometeu, antes de visar também todos os comentários feitos no mês passado por ocasião dos 40 anos da presidência de Pinto da Costa.
“Nestas últimas semanas tive a oportunidade de ler inúmeros comunicados e textos de personalidades da nossa praça a felicitarem os 40 anos da presidência do senhor Pinto da Costa e a enumerarem as qualidades, as conquistas e os feitos. Fiquei surpreendido é que na lista dos feitos não vi nada sobre as vergonhosas escutas do Apito Dourado, sobre o facto de este ter fugido para a Galiza horas antes de a Polícia Judiciária ir buscá-lo a sua casa, de ter pagado a familiares seus milhões de euros da FC Porto SAD e dos inúmeros casos de coação e intimidação a jornalistas como a recente agressão, vista por todo o mundo, a um jornalista da TVI por um elemento da comitiva do presidente. Se é para referir os feitos dos 40 de presidência, então, por favor que o façam com rigor e coragem”, concluiu Varandas a esse propósito.
“Dirijo-me ainda novamente ao senhor Secretário de Estado do Desporto mas também ao senhor ministro da Administração Interna. No dia 8 de maio o país assistiu a um bárbaro assassinato, em plena via pública e aos olhos de todas as pessoas que ali estavam. Ocorreu às portas do Estádio do Dragão aquando das celebrações do título. É seguramente dos episódios mais brutais de violência de que há memória em Portugal. O que aconteceu foi muito, mas muito mais grave do que o ataque de Alcochete, apesar de ter tido apenas um centésimo de cobertura mediática”, recordou, antes de comentar também o próprio comunicado que foi feito pelo FC Porto a esse propósito quase 24 horas depois do sucedido.
“Só a mim é que este comunicado faz confusão. ‘A morte’? Não. Não foi apenas a ‘morte’. Foi um bárbaro assassinato. ‘Não pode deixar de ser lamentada’? Claro que sim mas o termo que devia estar bem vincado era condenada. Este é um comunicado pobre, cobarde e condicionado. Apelo ao senhor ministro da Administração Interna para ser implacável na luta contra este crime organizado que se acha impune à justiça e à lei portuguesa. Muitos dizem que isto é um problema da sociedade e não do futebol. Não é verdade meus senhores. Claro que é da sociedade mas a origem deste problema está intimamente ligado ao futebol e aos clubes que permitem o seu financiamento ilegal, alimentando este crime organizado. Estes episódios são tão de chocantes como embaraçosos para o nosso país”, frisou, antes de olhar mais para dentro e para as principais diferenças que encontra quatro anos depois no Sporting.
“O caminho da vitória no Sporting é sempre difícil mas não procuramos atalhos assentes em condutas ilícitas. E mesmo quando no passado recente o Sporting ameaçou desviar-se desses valores, o próprio Sporting resolveu a situação sem precisar de ninguém ou da Justiça. Os nossos valores são a nossa força motriz. Mais valioso do que os 23 títulos no futebol, os 42 títulos europeus, os milhares títulos nas nossas modalidades são os nossos valores, a nossa integridade e o nosso caráter. Como é motivador hoje os nossos sócios e adeptos já só ficarem realmente realizados com título de campeão. Ninguém ficou 100% realizado mas também é real o sentimento de orgulho dos sportinguistas nos seus jogadores, no treinador e sobretudo no trajeto e crescimento do clube. Se é verdade que há um ano fomos campeões, temos hoje um clube mais bem preparado do que há um ano. Batemos vários recordes de receitas, temos o maior número de sócios com quotas em dia da história do Sporting”, argumentou Frederico Varandas.
“Há quatro anos era unânime que o Sporting estava a uma grande distância dos seus dois rivais e não era tido sequer como sério candidato. Hoje, é igualmente unânime que o Sporting passou a ser um natural, sério e óbvio candidato a qualquer título em Portugal. Recuperámos muitos anos de atraso para os nossos rivais e no curto/médio prazo cá estaremos para ver quais os clubes portugueses mais bem preparados para continuarem a ser competitivos. Todos os sportinguistas estão de parabéns e os sócios são parte fundamental desse sucesso”, concluiu o presidente do conjunto verde e branco.