Um tribunal russo determinou nesta segunda-feira “in absentia” a detenção de dois comandantes das Forças Armadas ucranianas, acusados de “genocídio” e maus-tratos a militares russos capturados na Ucrânia, segundo noticiaram agências de notícias da Rússia.
A medida foi decretada pelo tribunal distrital de Basmanni para Andriy Polyakov, comandante da 53.ª Brigada Mecanizada das Forças Armadas da Ucrânia, e Oleksiy Makhov, comandante da 95.ª Brigada de Assalto Aeroterrestre Separada”, noticiou a agência de notícias independente russa Interfax.
Ambos os oficiais ucranianos devem ser detidos por pelo menos dois meses a partir do momento da sua extradição ou detenção em território russo. Os dois comandantes estão acusados de “genocídio” e uso de métodos de guerra proibidos e foram colocados na lista internacional de procurados pelo regime russo.
Os investigadores russos acusaram os dois comandantes de estarem envolvidos no “genocídio dos cidadãos do Donbass”, argumento inicialmente usado pelo Presidente russo, Vladimir Putin, para lançar a campanha militar na Ucrânia.
Esta é a primeira vez que a Rússia acusa de “genocídio” comandantes militares das Forças Armadas da Ucrânia, uma acusação que pode levar à prisão perpétua, segundo noticiou a agência TASS.
A Rússia também pretende julgar os militares ucranianos que se renderam em Azovstal, na cidade de Mariupol, onde estiveram sitiados durante várias semanas. De acordo com o Ministério de Defesa russo, foram capturados cerca de quatro mil soldados na área.
As autoridades ucranianas querem organizar uma troca de prisioneiros de guerra, mas o lado russo tem indicado repetidamente que considera pelo menos alguns dos homens ucranianos do regimento Azov combatentes neonazis, culpados de crimes de guerra, e não simples soldados.
Na semana passada, a agência de notícias independente russa Interfax noticiou que o julgamento dos militares ucranianos que se renderam em Azovstal iniciar-se-á em Mariupol.
O julgamento vai ser seguido de outras etapas, que poderão ocorrer noutras localidades, segundo a mesma fonte. Todos os militares que estiveram entrincheirados na siderúrgica Azovstal até se renderem estão presos na autoproclamada República Popular de Donetsk, controlada pela Rússia, disse também na semana passada o líder separatista Denis Pushilin à agência russa Interfax.
Em 24 de maio um tribunal russo ordenou “in absentia” a detenção de Maksym Márchenko, ex-comandante do Batalhão Nacionalista Ucraniano Aidar e atual governador da região de Odessa, solicitada por um comité de investigação dependente do Kremlin.
O Comité de Investigação da Rússia, dependente da presidência russa, acusa Márchenko, ex-comandante do Batalhão Aidar e das 28ª e 92ª Brigadas Mecanizadas, de estar por detrás dos ataques da artilharia em Donetsk, em março e maio de 2020. O tribunal de Basmanni aplicou uma medida similar a Serguéi Baránov, comandante da 44º Brigada de Artilharia Separada das Forças Armadas da Ucrânia.
O Serviço Federal de Supervisão Financeira, Rosfinmonitoring, incluiu ainda em 24 de maio o ex-comandante do Batalhão Aidarm, Denis Muryga, na lista de pessoas e entidades envolvidas em atividades terroristas e extremistas.
Muryga foi preso quando alegadamente tentou atravessar a fronteira para a Rússia, na região de Rostov, em abril passado, como refugiado.
Um tribunal de Rostov do Don sentenciou o militar a dois meses de prisão preventiva, acusado de ter destruído em 2015 uma ponte na autoproclamada República Popular de Lugansk e de matar consequentemente guardas de milícias separatistas.
A ofensiva militar lançada na madrugada de 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 14 milhões de pessoas de suas casas — mais de oito milhões de deslocados internos e mais de 6,8 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Também segundo as Nações Unidas, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia — foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.
A ONU confirmou que 4.074 civis morreram e 4.826 ficaram feridos na guerra, que hoje entrou no seu 96.º dia, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a cidades cercadas ou a zonas até agora sob intensos combates.